O manuseio da palavra, seja oral ou escrita, é uma arte que guarda na sua essência o Bem e o Mal. Seu poder de influência encontra no receptor-leitor da mensagem enviada um sem-número de vantagem como: ingenuidade, distração, superficialidade, preguiça mental, ideologias, dogmas, enfim, todo um campo minado de emoções e sentimentos que funciona como espécie de botão aguardando ser apertado. E quem o aperta geralmente é quem manuseia o instrumento de comunicação: a palavra. Se não bastasse, os novos tempos e o avanço tecnológico geram imagens com impressionante força de comunicação. Tanto estática como em movimento, a imagem pura ou associada à mensagem escrita ou falada possui forte poder de influência, e nenhuma mensagem existe sem a intenção de influenciar: todos se comunicam com alguma intenção.
Toda essa gama do que chamam mass media (meios de comunicação de massa) encontra na outra ponta a lhe ser atada o receptor perigosamente passivo, ignaro em maioria, pronto para ter seu espírito bombardeado por venenos, em pequenas ou grandes doses, em boa parte do seu tempo ocioso: claro que sempre lendo menos e vendo e ouvindo mais (rádio e tevê). Exemplo melhor de como a preguiça predomina entre os brasileiros são os altos índices de audiência de programas como o BBB, este que, além de onerar a conta de energia elétrica, ainda dispara a do “telefone participativo” gerador de fortunas para os monopolistas da comunicação num país que está mui longe de oferecer a verdadeira educação extensiva a todos os cidadãos ou de aprofundar uma cultura sadia, que até existe em abundância, porém não tem instrumentos para comunicar nada: não atende aos fins comerciais (coitados dos escritores e poetas!). Daí não haver espaço para a cultura a não ser nos salões da alta roda em que a maioria finge tê-la apelando para clichês; cultura mesmo se vê tão-só nas poucas reuniões de angustiados e ignorados artistas que tentam se bastar a si em diálogos fechados entre seus iguais, ou em raras apresentações para alguma plateia que não enche uma sala modesta, aquela famosa “4x3” dos casarios simples. Na verdade, a boa arte vive agrilhoada nas profundezas dos abismos cavernosos sem qualquer chance de receber a luz no peito, tal como viviam os prisioneiros das sombras na Caverna de Platão.
A Revista ÉPOCA desta semana é um bom exemplo de como se forma uma opinião destrutiva, não sem uma pitada de “isenção” para não se tornar aos olhos de todos o que efetivamente é: unívoca! E com endereço certo: aquele público de continente a que me referi, dentre alguns raros que se interessam pelo conteúdo. Cá entre nós, basta um olhar do desatento público (a maioria da população pátria), sem dinheiro para adquirir a revista nas bancas de rua, para que a influência da revista se resuma à sugestiva capa exposta na altura da visão imediata, como se estivesse numa prateleira de supermercado. O conteúdo pouco ou nada interessa às gentes distraídas e aos que compram ou são assinantes da revista, mas que, igualmente, se fixam no enunciado da capa cujas cores fortes (vide “Psicologia das Cores”) por si só impressionam o espírito humano, eis que obedientes às técnicas de persuasão do inconsciente coletivo. Demais disso, é de se ressaltar a conexão do assunto veiculado em jornais pertencentes ao mesmo grupo midiático, para que nenhuma divergência tumultue o objetivo maior do “Grande Irmão” hodierno, em perigosa reedição, na realidade, da ficção de Orwel, resumida, porém, à ideia de que todas as gentes não são vistas, mas são instadas a ver o mundo segundo as mensagens reducionistas, de cunho ideológico, que lhes são habilmente jorradas em palavras e imagens. Mas não falta muito para essas gentes tolas serem vistas a qualquer tempo e lugar, em reedição, também, do panoptismo de Jeremy Bentham (“Podes fazer de tudo, mas Eu saberei”).
quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012
“Podes fazer de tudo, mas Eu saberei”
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