quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

“Este ano não vai ser igual àquele que passou...” *








Passado o Carnaval, eis que o ano efetivamente começa; e, como a Petrobrás precisa crescer, deverá a PMERJ encolher-se em insignificância para que as monumentais instalações da bem-sucedida empresa situada no centro do Rio aumentem de tamanho para acolher mais gentes merecida ou imerecidamente abastadas. A partir dessa desestruturação do QG da PMERJ ao modo controvertido e abrupto de Robert Moses, que esperar do futuro?... Bem, indago provocativamente, porém sem saber se cabe alguma veemente defesa do histórico aquartelamento, pois, para mim, até túmulo pode e deve por vezes mudar de lugar neste mísero planetinha em que nada é definitivo, tudo é partícula subatômica, exceto a miséria do povo, esta sim, mui real e visível. Daí ser ele, o planetinha, um míserabilíssimo lugar! Ademais, tão efêmera é a bolota que lhe basta receber o choque dum asteróide para tudo findar... Sem problemas: segundo o mestre L. F. Verissimo, o fim do mundo não será assim tão ruim: propiciará a vantagem de mais ninguém necessitar fechar portas e janelas a medo de ladrões...
Ora bem, o anúncio de explosão das tradições enraizadas naquele quartel veio agora, ao som de bumbo carnavalesco, mas nos bastidores da PMERJ desde antes se comentava o tema, que divide as opiniões internas. A minha, entretanto, não pode ser dividida nem somada, não tenho ainda nenhum juízo de valor firmado; nem sei em quanto importará a transação e se o dinheiro será reaplicado na melhoria da qualidade de vida do militar estadual. Há, todavia, anúncios esparsos indicando a construção de um prédio no imenso aquartelamento próximo do Sambódromo para acolher a alta administração da PMERJ e outras, policiais, não sei se também civis, em instalações modernas, o que implicará não apenas a construção do prédio em nova concepção arquitetural, mas sua montagem instrumental de modo a aperfeiçoar as ações de segurança em benefício do povo. Claro! Claro! Tudo será feito, como sempre, em benefício do povo, que, no fundo, não está nem aí para a decisão governamental a cutucar com vara curta os brios da saudosista PMERJ. Ah, o povo almeja apenas garantia permanente de tranquilidade e paz! Sim! Sim!... Tá certo!... Mas como transferir esta sensação de segurança do novo prédio para o povo não se sabe ainda, o futuro dirá, e, quanto a ele, o futuro, sejamos otimistas...
... Sim, otimistas, porém não nego que sonho com uma grana de tal monta que permitirá ao “estado-corretor-de-imóveis” também construir um hospital de grande porte em substituição do carcomido edifício chamado HCPM-Rio (Hospital Central da PMERJ), cujas instalações, de tão mexidas e remexidas, tornaram-se um verdadeiro labirinto arqueológico. Há, sim, uma tão tamanhona apoteose do improviso que até mágica acontece no desnível dos andares: um emaranhado de corredores e escadas edificados e reedificados em épocas diferentes e segundo variados humores de poderosos gestores-gerais. Deste modo se formou ali uma espécie de “cortiço” que pode (Deus nos livre!) implodir tal e qual aquele prédio no centro da cidade, que parecia ser apenas um, mas eram três... Sim, é de bom alvitre alertar, especialmente porque o azar parece gostar de infortunar PMs...
Enfim, a venda do QG da PMERJ, já inevitavelmente agasalhada, eis que anunciada com todas as letras pelo governante, bem que poderia ser mais simpática se parte dessa dinheirama garantisse à tropa, em vez de outro museu, ― sacanagem: não avisaram ao governante que já possuímos um museu com cara de túmulo, posto não ser visitado por quase ninguém, ― em vez de outro museu um hospital moderno, capaz de acolher todas as especialidades em atendimento eficiente e eficaz, ou seja, sem a morosidade e os atropelos de hoje, não por culpa dos abnegados profissionais de saúde, que, por amor à verdade e sincero reconhecimento, se redobram em esforços para atender a uma demanda muito além dos meios materiais e humanos existentes. Mas com uma importante ressalva: o Estado não pode, com o dinheiro apurado na alienação do QG, nem ameaçar pagar a dívida do Fundo de Saúde, que é dinheiro suado a sair dos contracheques da tropa a ser pago em separado. Feita então a pessimista ressalva, que impere entre nós o otimismo!...
Sim, continuemos otimistas!... No fim de contas, nenhuma edificação existia na Natureza, é tudo invenção humana, e ainda bem que a antiga “Casa dos Barbonos”, que hospedou em segunda mão a Divisão Militar da Guarda Real de Polícia da Corte (DMGRP), criada em 13 de maio de 1809, não é como pirâmide egípcia feita a suor, sangue e morte de milhões de escravos para guardar um só corpo, igualzinho ao de um desinfeliz mendigo, sendo certo de que da alma do faraó não se tem notícia, nem da do pobre-diabo que vaga pelas ruas esperando a morte e o vai-volta que não lhe pertence: representa o “comunismo” a servir a muitos em isonomia de “desdireitos humanos”... Mas, independentemente de não sermos os primeiros moradores do QG, continuemos otimistas, pois, afinal, foi o acaso que fez surgir a primeira agremiação militar com o fito de exercitar a atividade policial, como nos informa o bem-humorado historiador e romancista Ruy Tapioca, Prêmio Jabuti com seu livro A República dos Bugres (Rocco), a quem me reporto no meu romance O Espião:


Na contrapartida do chafariz e da fonte, e como desgraça pouca é besteira, aforismo cunhado pelos nativos da terra, Dom João foi servido baixar, na rabeira daquela aluvião de tributos, um decreto criando uma guarda real de PM para a cidade, em face do crescido número de desordens públicas, gatunagens, incêndios, contrabandos e crimes de espécies diversas, que andam a ocorrer, cotidianamente, nesta mui leal e heróica São Sebastião do Rio de Janeiro.

Vê-se, por conseguinte, que além do fato de a construção dum chafariz ter sido mais importante que a criação da instituição que gerou a atual milícia estadual, é antiga a paranóia do aumento da criminalidade e de sua contenção. Hum... Arriscando aqui uma alegoria, quem sabe a criminalidade de hoje não é a mesma água do “chafariz e da fonte” que vai, e volta, e vai, e volta, e a PM tenta em vão enxugá-la faz dois séculos?...
Ah, continuemos otimistas!... Porque não é ideia de ninguém gastar dinheiro com pirâmides, a não ser que haja algum megalomaníaco assim excogitando lá na estatal tão ou mais milionária que todos os faraós e suas catacumbas faraônicas. Ademais, não interessa à PMERJ como a Petrobrás gastará o dinheiro dela depois de pagar o espaço que ora compra não se sabe por quanto e não serei eu a me enfiar nesta especulação imobiliária provavelmente sem percentual de corretagem... É certo, porém, que serão duas montanhas de dinheiro: uma para adquirir do Estado o QG da PMERJ, e outra para a Petrobrás realizar sua expansão territorial, talvez até para competir em “vaidade de condições” com as edificações de Dubai...
Mas nada disso nos importará se, em vez de somente ofertar um melhor prédio de segurança pública à sociedade, o governante priorizasse a construção de um novo hospital com direito a elegantes suítes para internar presidentes, ministros, governadores, altas autoridades parlamentares e judiciárias etc., desde que a PMERJ fosse agraciada com a melhoria da saúde da tropa ativa e inativa, além de seus familiares e pensionistas. Cá entre nós, creio até que os dirigentes internos da PMERJ prefeririam comandar acantonados no portentoso prédio do Batalhão de Choque e quejandos para ganhar o tão sonhado hospital. Sejamos então otimistas, crendo que “este ano não vai ser igual àquele que passou” e que nenhum asteróide caia sobre nós!...



* “ATÉ QUARTA-FEIRA” (Marchinha carnavalesca de H. Silva e Paulo Sete)

10 comentários:

Paulo Fontes disse...

Caro amigo Larangeira,
Este libelo em defesa das tradições da nossa gloriosa corporação deveria ser remetido ao governo do estado e às nossas autoridades internas.
O que eles querem é acabar com nossas tradições e com o legado histórico do 31º Batalhão de Voluntários da Pátria e 0 12º Batalhão de Voluntários da Pátria, combatentes no maior conflito bélico na América do Sul.
Um abraço
Paulo Fontes

Anônimo disse...

ESPARTA VIVE
300

Voce não entendeu nada Ten Cel Larangeiras,aliás mais uma vez. A decisão é puramente comercial,com a volumosa comissão/propina já em vias de ser depositada em paraiso fiscal.A petrobras não vai construir predio novo nenhum nas instalações do Choque,asim como a Docas não contruiu nenhuma sede da destruida ESPM/Ex Esfo. O poder economico,nunca mandou tanto.Não mais existe o MP, Justiça, Poder fiscalizador legislativo, imprensa independente, nada,nada,nada.

Não existe qualquer argumento tecnico,tatico ou estratégico ou pelo menos Do Bem, que possa justificar a venda do bicentenário QG de Vidigal e Portugal,apenas a sanha assasina de se locupletar a qq preço das polpudas comissões.

Mas tem algo mais triste, os azuis modernos aceitaram e estão a defender mais este crime institucional.

Nada mais a declarar, a não ser abreviar o trabalho de Deus.

ANIBAL

Emir Larangeira disse...

Caro Espartano

Creio que entendi, sim, só que prefiro crer que a transação não tenha chegado a tanto, como você insinua com todas as letras. No momento, penso que diante do fato consumado, sem adentrar a legalidade ou a moralidade dele, ou o contrário disso, pelo menos que a tropa da PMERJ receba um novo hospital a acolher seu imenso público interno com qualidade superior em termos de equipamentos e instalações e aumento do número dos profissionais de saúde a serem somados aos abnegados médicos (as) e enfermeiros (as) que nos atendem na doença sempre com amor no coração.
Nesse estágio da transação já anunciada pelo governante, discutir o tema no sentido de demovê-lo da ideia, que vem de longe no tempo, não mais me parece útil. Andei indagando da tropa (muitos oficiais e praças) se existe para ela algum incômodo em perder o prédio do QG. A parcela da tropa que ouvi não está nem aí para a defesa de tradições históricas, mas, sim, preocupa-se com a sua vida e com o bem-estar da família na qual se inclui a saúde. Daí a minha abordagem nesse sentido, já que não tenho nenhum poder de evitar que a transação seja feita. E lhe digo mais: se fosse para construir um grande hospital para melhor servir à tropa, eu venderia também o Regimento Caetano de Farias, tremendo "elefante branco", todo remendado por dentro, e nada mais. O que não pode é a gente continuar a ver em indiferença um HCPM-Rio se sustentando como "fratura exposta tratada com esparadrapo", pois aquele prédio não é outra coisa...

Anônimo disse...

ESPARTA VIVE
300

Sem comentários.Às armas,As armas , dignos representantes de Vidigal e Castrioto,mostremos a essa quadrilha pública, que sòmente por cima de nosos cadáveres....

ANIBAL

Emir Larangeira disse...

Calma, Espartano! Lembre-se de que o rio só atinge seu objetivo porque sabe contornar os obstáculos, máxima que funcionou na vitória dos vietcongues contra a França e depois contra os EUA, dois poderosos exércitos que foram às armas, e, mesmo sendo mais fortes, sucumbiram ante a força menor vietnamita que se esgueirou e agiu na sombra em vez de bater de frente com seus inimigos ao modo espartano. Mesmo assim, discordando da sua escolha tática, vejo com simpatia a sua garra, que também é indispensável à reflexão geral da tropa. Não sou dono de nehuma verdade, mas prefiro que nesta contenda os cadáveres não sejam os nossos...

Anônimo disse...

ESPARTA VIVe
300
Apenas como tenue justificativa para mostrar que não é fato isolado:

1.Desativação do BPfer,
2.Desativação do Bptur,
3.Desativação do BPVE,
4.Desativação do LIF,
5Quase desativação do HPMNit
6.Quase desativação do GAM,
7.Mudança da sede do BOPE, do Palacio da Caveira/Águias,para barracos de lata, a 45 graus a sombra, no meio do matagal do antigo 24 BIB(já se fala que seu quartel estaria sendo vendiso para grupos imobiliarios),

8.Sanha currupicional incontrolavel
no sentido de vender de qq maneira as sedes do 6 BPM,23BPM,5BPM,ESPM,
BOPE,Caserna Brigadeiro Castrioto,e outros, outros ,outros...

Portanto Sr Larangeiras,a venda do QG não é fato isolado, nem de boa fé, portanto Sr Larangeiras , às armas , antes que seja tarde demais.

ANIBAL

Emir Larangeira disse...

Caro Espartano

Sei que não é fato isolado. Há ainda a acrescentar na lista a venda da antiga EsFO de Niterói para a Mac Laren, que deu início à febre. Eu publiquei um artigo veemente contra a transação. Foi inclusive reeditado no Jornal da ASSINAP. Por isso alterei o discurso atual com irônica ênfase no HCPM-Rio, buscando assim um modo diferente de protesto e também para lembrar a dívida do Estado com a PMERJ (nossa grana do Fundo de Saúde com milhões retidos faz anos). Não creio que seja nada de boa-fé, não. Daí eu ter falado no "estado-corretor-de-imóveis", exatamente para saber quem "ganhará a comissão", que todo corretor ganha. Pior que tudo, caro Espartano, é o silêncio interno. Parece que nenhuma explicação é possível, daí o predomínio do velho ditado: "em boca fechada não entra mosca"...

Anônimo disse...

Quando a própria POLÍCIA é assaltada ... Sobra O QUÊ ?!

Anônimo disse...

ESPARTA VIVE
300

Melhorou, agora sim estou começando a ver novamente tinturas insurrecionais sadias no peito e na verve do velho(antigo)guerreiro miliciano(segundo conceito original).

Portanto abbbbbaaaaaiixxxooo o silencio cúmplice ou subserviente dos que julgam que o fingir de morto resolverá o problema

Iniciemos rápido e urgente a formulação de técnicas, táticas e estratégias, de defesa institucional, a nivel administrativo e jurídico, antes que seja tarde demais.

E parabéns pela última postagem.


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Anônimo disse...

Obs: quando eu falo "abreviar o trabalho de DEUS", é claro que se trata de abreviar o estágio terrestre de determinadas pessoas.

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