terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sobre a greve de militares estaduais e policiais civis no RJ



O quadro configurado é o seguinte: o governo do RJ sabe o que as categorias almejam; portanto, não há mais o que negociar, mas, sim, impor reivindicações, e ao governo cabe apenas aceitá-las ou negá-las. Também não adianta perder tempo ouvindo abobrinhas de buropatas ligados ao governo; o que querem é empurrar o problema com a barriga e ultrapassar a data-chave de 10 de fevereiro. Portanto, não devem ficar os líderes das manifestações ouvindo esculachos saídos do boquirroto de pequenos tiranos a serviço do rei. A questão é política, não é burocrática, e o direito de greve está atualmente legitimado inclusive por decisões judiciais de inegável valor. Não tem mais essa de ilegalidade; nem mais cabem ameaças de retaliação regulamentar. Nada inibirá os manifestantes. As leis são mudadas por meio de manifestações populares, incluindo a greve como pressão extrema, porém legítima e legal, direito calcado na liberdade, bem maior da democracia.
Faz tempo que alerto neste blog que o movimento da PEC 300 não é perdedor; muito ao contrário, uniu em definitivo as lideranças nacionais dos militares estaduais e dos policiais civis. Por mais que o Congresso Nacional esteja enrolando em relação à PEC 300, protelando o atendimento do anseio nacional dos militares estaduais, mais eles se unem e se encorajam a fechar quartéis, a ir às ruas e enfrentar de peito aberto o sistema que os oprime. E rasgos de valentia, como o do arrogante Ciro Gomes, não mais assustam. Ele é apenas uma pessoa física que eventualmente ocupa, em viés, o poder político do mano dele; ambos, porém, não são eternos nem podem clamar pelo “Mago Shazan” para virarem “Capitão Marvel”... Ora, ele tresvariou em ira e logo perceberá que não está apto a enfrentar o que se lhe avizinha: a reprovação nas urnas.
Na verdade, o “Mago Shazan” já se posicionou em formato de “Capitão Marvel” através da internet: em sites, blogs e demais instrumentos de comunicação interativos que servem como elo entre os espíritos dos militares estaduais, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. E neste volumoso sentimento classista se inserem em boa hora os sofridos policiais civis (tiragem), que agora ombreiam com os militares estaduais formando um efetivo impressionante Brasil afora: milhões de ativos, inativos e pensionistas, isto sem falar na família, que, unida por laços comuns, pode influenciar a eleição até de presidente da República. Quanto mais de governador, prefeito, deputado ou vereador...
Não há recuo possível. No dia 29 deste mês, os manifestantes anteciparão o Carnaval: vão botar o bloco na rua: militares estaduais e policiais civis estarão em Copacabana, tambor do país, e que se curvará ante o peso da manifestação; e o povo decerto aplaudirá, fazendo ressoar a indignação além dos nossos horizontes. Porque são anseios justos e inadiáveis, e também porque o povo não mais suporta assistir à sangria de bilhões de reais do erário público em crimes de fraude noticiados em constância enfadonha. Ora, muitos políticos do RJ há vinte anos eram pobres; até reclamavam lhes faltar dinheiro para pagar carnês irrisórios; mas hoje compram mansões à vista e investem pesado nos agronegócios com a dinheirama que desembolsam sem esforço, sendo certo que nem multiplicando por mil o somatório de seus ganhos oficiais, sem jamais terem saído da política, e mesmo que seus salários sejam altíssimos, mesmo assim não pagariam o preço de uma só vaca PO de seus milionários rebanhos. E eles compram muitas vacas, e à vista, e tudo nas barbas conformadas de todos.
Enquanto isso, o servidor público vive à míngua e ainda se obriga a ouvir ofensas desferidas por políticos e buropatas em bravatas escudadas numa efêmera autoridade que o povo eventualmente os delegou. Agem ignorando os direitos e garantias individuais e os princípios norteadores do respeito à dignidade humana. Lembram esses pequenos tiranos os tempos em que o poder monárquico ungido pela Igreja espoliava a plebe, à qual só cabia rezar na cartilha sob pena de condenação à fogueira depois de confessar, mediante tortura, uma heresia inventada na hora. Enfim, nada de novo sob o sol:
“Vede os pequenos tiranos/ que mandam mais do que o Rei/ Onde a fonte de ouro corre/ apodrece a flor da lei!” (Cecília Meireles!)

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