sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

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JUIZ FEDERAL DIZ QUE A GREVE SÓ É PROIBIDA PARA AS FORÇAS ARMADAS *

Fonte: Notícias SINDIPOL




Foto: Marcus Orione Gonçalves Correa

O fim da greve de policiais civis em São Paulo trouxe à tona a discussão sobre o direito de greve de servidores públicos em geral e, em particular, de policiais. O debate é oportuno. Alguns alegam que a greve de policiais militares dos estados conspira contra disposição constitucional que versa sobre a hierarquia e a disciplina.
No entanto, quando se irrompe o movimento grevista, não há que falar em quebra da hierarquia, que se refere à estrutura organizacional graduada da corporação e que se mantém preservada mesmo nesse instante.
A inobservância de ordens provenientes dos que detêm patentes superiores, com a paralisação, caracteriza ato de indisciplina? Recorde-se que a determinação proveniente de superior hierárquico, para ser válida, deve ser legal. Jamais, com base na hierarquia e na obediência, por exemplo, há que exigir de um soldado que mate alguém apenas por ser esse o desejo caprichoso de seu superior.
Logo, se existem condições que afrontem a dignidade da pessoa humana no exercício da atividade policial, o ato de se colocar contra tal estado de coisas jamais poderia ser tido como de indisciplina. A busca por melhores salários e condições de trabalho não implica ato de insubordinação, mas de recomposição da dignidade que deve haver no exercício de qualquer atividade remunerada. Portanto, se situa dentro dos parâmetros constitucionais.
Quanto às polícias civis e federais, não há sequer norma semelhante à anterior, até mesmo porque possuem organização diversa. No entanto, para afastar alegações de inconstitucionalidade da greve de policiais, o mais importante é que não se deve confundir polícia com Forças Armadas.
Conforme previsão constitucional, a primeira tem como dever a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio. Já as segundas, constituídas por Exército, Marinha e Aeronáutica, destinam-se à defesa da pátria e à garantia dos Poderes, da lei e da ordem.
Às Forças Armadas, e somente a elas, é vedada expressamente a greve (artigo 142, parágrafo 3º, inciso IV, da Constituição). Ressalte-se que em nenhum instante foi feita igual referência à polícia, como se percebe dos artigos 42 e 144 do texto constitucional. A razão é simples: somente às Forças Armadas não seria dado realizar a greve, um direito fundamental social, uma vez que se encontram na defesa da soberania nacional. É de entender a limitação em um texto que lida diretamente com a soberania, como a Constituição Federal.
O uso de armas, por si só, não transforma em semelhantes hipóteses que são distintas quanto aos seus fins. As situações não são análogas. A particularidade de ser um serviço público em que os servidores estão armados sugere que a utilização de armas no movimento implica o abuso do direito de greve, com a imposição de sanções hoje já existentes.
Não existe diferença quanto à essencialidade em serviços públicos como saúde, educação ou segurança pública. Não se justifica o tratamento distinto a seus prestadores. Apenas há que submeter o direito de greve do policial ao saudável ato de ponderação, buscando seus limites ante outros valores constitucionais.
Não é de admitir interpretação constitucional que crie proibição a direito fundamental não concebida por legislador constituinte. Há apenas que possibilitar o uso, para os policiais, das regras aplicáveis aos servidores públicos civis.
No mais, deve-se buscar a imediata ratificação da convenção 151 da OIT (Organização Internacional do Trabalho), que versa sobre as relações de trabalho no setor público e que abre possibilidade à negociação coletiva, permitindo sua extensão à polícia.
Uma polícia bem equipada, com policiais devidamente remunerados e trabalhando em condições dignas não deve ser vista como exigência egoísta de grevistas. Trata-se da busca da eficiência na atuação administrativa (artigo 37 da Constituição) e da satisfação do interesse público no serviço prestado com qualidade.

* Marcus Orione Gonçalves Correia doutor e livre-docente pela USP, professor associado do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social e da área de concentração em direitos humanos da pós-graduação da Faculdade de Direito da USP, é juiz federal em São Paulo (SP)

2 comentários:

Anônimo disse...

Atrevo-me a discordar do Juiz. Ver o §1º do Art.42 da CF.
Ele diz que se aplicam aos militares dos estados, dentre outras, as disposições do art. 142, §§ 2º e 3º.
O § 3º, IV, do Art 142 diz o seguinte: "ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;" (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
Então, ou eu não sei ler ou o texto constitucional, ao contrário do que diz o Juiz, faz sim referência aos militares dos estados, os quais somente podem ser, por enquanto, bombeiros e PMs.
Portanto, do ponto de vista legal, é proibida a greve de militares (estaduais-PM/BM e federais-FFAA).
Do ponto de vista moral, entretanto, ela vem tarde posto que os desmandos políticos no Estado do Rio de Janeiro são seculares, naturalmente por força do interesse colonizador e hodiernos, por força da malversação do dinheiro público. Contra aquele, temos de nos conformar, pois é a história; contra este, na maioria dos países sérios o povo contornaria os entraves legais através do paredão e não através de greve.

Emir Larangeira disse...

Confesso que não me sinto em condições de opinar, não sou especialista em Direito. Mas o debate é importante, para que haja uma luz no fim do túnel. Quanto à greve, não creio que haja organização suficiente na base para deflagrar um movimento vitorioso. Espero queimar a língua, mas me baseio na cultura interna, que é avessa a movimentos assim. Talvez, se houvesse uma entidade representativa de oficiais e praças (é tudo separado, fracionado e conflitante) agregadora de quantidades expressiva e fins comuns, fosse possível a mobilização e a greve. Por enquanto, acho que a greve não prosperará por falta de união entre oficiais e praças. A verdade é que somos militares e militar não pode fazer greve (leigamente, também entendo assim). Para romper esta barreira só muita união e propósitos comuns. estamos longe disso...