Que em 2012 a paz supere os conflitos entre a PCERJ e a PMERJ, predominando nas relações institucionais a fraternidade e a cooperação!
Não teria sentido minha participação no mundo da polêmica, – o que muito aprecio, – se eu não primasse pela isenção até mesmo ao defender posições equivocadas e talvez absurdas sob a ótica de alguns, o que igualmente respeito. Admitindo-as errôneas, porém, não me faz mal rever minhas convicções e adequá-las a uma nova dinâmica de pensamento, e isto me faz bem. E, sempre que ponho minha visão crítica sobre atos e fatos gerados por terceiros, penso construir um mundo melhor para meus filhos e netos e para a sociedade em geral; também não cogito destruir reputações nem menoscabo o valor de ninguém. De destruidores o mundo está cheio e o inferno decerto os espera, se é que o inferno existe...
É com este pensamento que posto o artigo do Secretário de Segurança Pública, Dr. José Mariano Beltrame, sobre as UPPs. O texto dele é impessoal e decisivo no sentido de mudar a cultura operacional da PMERJ, que finalmente saiu da mesmice para adotar uma postura operacional arrojada e valiosa. Se as UPPs vingarão, não sei, o futuro dirá; sei, todavia, que não será fácil mantê-las como eterna tocha olímpica que não se apaga e segue a iluminar lugares novos, ficando os antigos muita vez no limbo. Eis como trato de me acautelar, não por querer contraditar, mas por conhecer as entranhas da corporação e ter visto muitos adesistas da “integração comunitária”, – outrora defendida pelo Coronel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, – posteriormente designá-la como “interferência comunitária”, em ironia ajustada a um novo momento de governo e de comando da PMERJ.
Esta é a minha preocupação com o futuro das UPPs, pois o mimetismo de muitos desses adesistas somente será conhecido depois de o tempo do Dr. Beltrame se esgotar. Daí a relevância do pronunciamento dele ressaltando o valor institucional das UPPs, e, principalmente, desmitificando-as. Porque, longe de ser “miraculosa”, a UPP, como ele deixa evidente, é apenas modelo preventivo de intervenção policial em comunidades carentes, o que, aliás, sempre me empolgou, de tal modo que consegui, pelo menos por um ano, lá pelos idos de 1989/90, instituir uma projeção imperfeita de UPP numa favela da Zona Norte do Rio de Janeiro (Favela Para-Pedro – também conhecida por Vila São Jorge –, situada no bairro denominado Colégio, atrás da CEASA). Naquela época, as circunstâncias especialíssimas da localidade me levaram a somar forças com a comunidade para afastar em definitivo os bandidos que insistiam em dominar a favela. Depois desta vitória, cuidei então de instalar um policiamento preventivo ininterrupto, deste modo impedindo qualquer tentativa de retomada da comunidade pelos marginais.
Antes, a bem da verdade, – e sem a presença efetiva da polícia, – a comunidade resistia ao domínio do tráfico, não sem graves incidentes: muitas mortes ocorriam nos confrontos entre o grupo de resistência comunitária e os facínoras que infestavam a favela. O grupo era uma curiosa espécie de milícia de civis tão armados quanto os traficantes; enfim, “justiceiros” eleitos “heróis” pela comunidade, instituindo uma dupla aberração... E assim, depois de mais uma escaramuça sangrenta entre os bandidos e os “justiceiros” (com estes derrotados), ocorrida dias depois de eu assumir o comando do nono batalhão, enfiei-me de corpo e alma na favela comandando a repressão e escorracei os traficantes (oriundos da Vila Vintém), ação prontamente apoiada pelo ilustre Delegado de Polícia titular da 40ª DP, Dr. Wilson Vieira. O trabalho conjunto (PMERJ-PCERJ) propiciou a conquista e a permanência de policiamento prioritariamente preventivo e eventualmente repressivo, em lugar do grupo informal de resistência favelada, que rapidamente se desfez, tendo cada qual desse grupo tomado outro rumo. Por sinal eles partiram antes para outras paragens porque os traficantes já os haviam escorraçado da favela deixando, como se diz na gíria deles, “tudo dominado”...
Que dominado nada! Com a resoluta intervenção da PM, os facínoras enfiaram o rabo entre as pernas e sumiram tais como aqueles que vimos, em correria acovardada, na operação de reconquista do Complexo do Alemão. E houve o aplauso rumoroso da comunidade, que veio às ruas se manifestar a favor da polícia. Que momento lindo!... Confesso que foi a melhor sensação que tive do dever cumprido em trinta anos de profissão. Foi bastante para eu ter certeza absoluta de que favelado ordeiro não suporta domínio imposto por traficantes e demais desordeiros, e o demonstra claramente quando sente firmeza no trabalho policial.
Não teria sentido minha participação no mundo da polêmica, – o que muito aprecio, – se eu não primasse pela isenção até mesmo ao defender posições equivocadas e talvez absurdas sob a ótica de alguns, o que igualmente respeito. Admitindo-as errôneas, porém, não me faz mal rever minhas convicções e adequá-las a uma nova dinâmica de pensamento, e isto me faz bem. E, sempre que ponho minha visão crítica sobre atos e fatos gerados por terceiros, penso construir um mundo melhor para meus filhos e netos e para a sociedade em geral; também não cogito destruir reputações nem menoscabo o valor de ninguém. De destruidores o mundo está cheio e o inferno decerto os espera, se é que o inferno existe...
É com este pensamento que posto o artigo do Secretário de Segurança Pública, Dr. José Mariano Beltrame, sobre as UPPs. O texto dele é impessoal e decisivo no sentido de mudar a cultura operacional da PMERJ, que finalmente saiu da mesmice para adotar uma postura operacional arrojada e valiosa. Se as UPPs vingarão, não sei, o futuro dirá; sei, todavia, que não será fácil mantê-las como eterna tocha olímpica que não se apaga e segue a iluminar lugares novos, ficando os antigos muita vez no limbo. Eis como trato de me acautelar, não por querer contraditar, mas por conhecer as entranhas da corporação e ter visto muitos adesistas da “integração comunitária”, – outrora defendida pelo Coronel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, – posteriormente designá-la como “interferência comunitária”, em ironia ajustada a um novo momento de governo e de comando da PMERJ.
Esta é a minha preocupação com o futuro das UPPs, pois o mimetismo de muitos desses adesistas somente será conhecido depois de o tempo do Dr. Beltrame se esgotar. Daí a relevância do pronunciamento dele ressaltando o valor institucional das UPPs, e, principalmente, desmitificando-as. Porque, longe de ser “miraculosa”, a UPP, como ele deixa evidente, é apenas modelo preventivo de intervenção policial em comunidades carentes, o que, aliás, sempre me empolgou, de tal modo que consegui, pelo menos por um ano, lá pelos idos de 1989/90, instituir uma projeção imperfeita de UPP numa favela da Zona Norte do Rio de Janeiro (Favela Para-Pedro – também conhecida por Vila São Jorge –, situada no bairro denominado Colégio, atrás da CEASA). Naquela época, as circunstâncias especialíssimas da localidade me levaram a somar forças com a comunidade para afastar em definitivo os bandidos que insistiam em dominar a favela. Depois desta vitória, cuidei então de instalar um policiamento preventivo ininterrupto, deste modo impedindo qualquer tentativa de retomada da comunidade pelos marginais.
Antes, a bem da verdade, – e sem a presença efetiva da polícia, – a comunidade resistia ao domínio do tráfico, não sem graves incidentes: muitas mortes ocorriam nos confrontos entre o grupo de resistência comunitária e os facínoras que infestavam a favela. O grupo era uma curiosa espécie de milícia de civis tão armados quanto os traficantes; enfim, “justiceiros” eleitos “heróis” pela comunidade, instituindo uma dupla aberração... E assim, depois de mais uma escaramuça sangrenta entre os bandidos e os “justiceiros” (com estes derrotados), ocorrida dias depois de eu assumir o comando do nono batalhão, enfiei-me de corpo e alma na favela comandando a repressão e escorracei os traficantes (oriundos da Vila Vintém), ação prontamente apoiada pelo ilustre Delegado de Polícia titular da 40ª DP, Dr. Wilson Vieira. O trabalho conjunto (PMERJ-PCERJ) propiciou a conquista e a permanência de policiamento prioritariamente preventivo e eventualmente repressivo, em lugar do grupo informal de resistência favelada, que rapidamente se desfez, tendo cada qual desse grupo tomado outro rumo. Por sinal eles partiram antes para outras paragens porque os traficantes já os haviam escorraçado da favela deixando, como se diz na gíria deles, “tudo dominado”...
Que dominado nada! Com a resoluta intervenção da PM, os facínoras enfiaram o rabo entre as pernas e sumiram tais como aqueles que vimos, em correria acovardada, na operação de reconquista do Complexo do Alemão. E houve o aplauso rumoroso da comunidade, que veio às ruas se manifestar a favor da polícia. Que momento lindo!... Confesso que foi a melhor sensação que tive do dever cumprido em trinta anos de profissão. Foi bastante para eu ter certeza absoluta de que favelado ordeiro não suporta domínio imposto por traficantes e demais desordeiros, e o demonstra claramente quando sente firmeza no trabalho policial.
Para mim, ser afagado, – como muitas vezes o fui por aquela comunidade, – gratificou-me bem mais que a badalação pela prisão do famigerado traficante Cy de Acari, espécie de Nem da Rocinha, porém mais notório que este. Aliás, no dia da prisão do traficante que dominava a Favela de Acari e algures, também como “atacadista” do tráfico, um delegado de polícia, cujo nome eu omito também em cautela, telefonou-me e me parabenizou pela “prisão da década” (palavras dele) e me alertou: “Larangeira, você entrou de penetra numa festa de comensais importantes e deu um chute no bolo!...”
Dois anos depois, – ou pouco menos, – entendi literalmente o recado: retornou o populismo esquerdista ao poder e o então comandante do nono batalhão desfez o sistema de policiamento permanente, deixando a favela novamente à mercê do tráfico; aliás, mesmo populismo que ainda hoje me põe à mercê de forjados processos criminais que parecem não ter fim, espécie de ressurreição do extinto traficante-político Cy de Acari: o apodrecido “bolo da festa” recheado de cocaína, maconha, dinheiro, votos e poderes políticos, burocratas e buropatas* que eu inadvertidamente pontapeei.
É verdade! Acabou-se o que não era doce!... E eu finalmente pude entender o recado do amigo delegado: Parque Acari até hoje serve de mote para muitas ONGs amealharem fortunas estatais à custa do meu infortúnio. Com efeito, tudo que fiz por lá, – zerando inclusive o movimento de venda de drogas (só não pude ocupar a favela porque não havia efetivo e tive de me contentar só com a reconquista do território), – tudo que fiz por lá se me tornou funesto a mim. Realmente “chutei o bolo nojento da festa” para a qual não fui convidado e me danei, embora jamais me arrependa de nada que por lá fiz e faria tudo novamente.
Agora, – sem mais delongas, e me desculpando pelo desabafo, – termino o ano de 2011 reproduzindo a íntegra do texto do Dr. José Mariano Beltrame, publicado no O Globo de domingo, dia 25/12/2011, para que sirva de fonte de reflexão presente e futura, torcendo, entretanto, para que não ocorra com as atuais UPPs a desgraceira que houve com a Favela Para-Pedro. Pois a derrocada da minha modesta “UPP” não custou barato à comunidade que me aplaudira abertamente: a retaliação por parte dos traficantes que retornaram pela porta da frente ante a omissão estatal do segundo momento do populismo, que custou o sangue de muitos daqueles que resistiram ao domínio do tráfico. Portanto, passado meu momento de perplexidade com as UPPs, – e vencidas todas as minhas dúvidas, – rendo-me humildemente aos seus mentores, gestores e me solidarizo com os executores PMs da ponta da linha; e irei até o fim defendendo as UPPs nos termos gravados pelo digno secretário.
É verdade! Acabou-se o que não era doce!... E eu finalmente pude entender o recado do amigo delegado: Parque Acari até hoje serve de mote para muitas ONGs amealharem fortunas estatais à custa do meu infortúnio. Com efeito, tudo que fiz por lá, – zerando inclusive o movimento de venda de drogas (só não pude ocupar a favela porque não havia efetivo e tive de me contentar só com a reconquista do território), – tudo que fiz por lá se me tornou funesto a mim. Realmente “chutei o bolo nojento da festa” para a qual não fui convidado e me danei, embora jamais me arrependa de nada que por lá fiz e faria tudo novamente.
Agora, – sem mais delongas, e me desculpando pelo desabafo, – termino o ano de 2011 reproduzindo a íntegra do texto do Dr. José Mariano Beltrame, publicado no O Globo de domingo, dia 25/12/2011, para que sirva de fonte de reflexão presente e futura, torcendo, entretanto, para que não ocorra com as atuais UPPs a desgraceira que houve com a Favela Para-Pedro. Pois a derrocada da minha modesta “UPP” não custou barato à comunidade que me aplaudira abertamente: a retaliação por parte dos traficantes que retornaram pela porta da frente ante a omissão estatal do segundo momento do populismo, que custou o sangue de muitos daqueles que resistiram ao domínio do tráfico. Portanto, passado meu momento de perplexidade com as UPPs, – e vencidas todas as minhas dúvidas, – rendo-me humildemente aos seus mentores, gestores e me solidarizo com os executores PMs da ponta da linha; e irei até o fim defendendo as UPPs nos termos gravados pelo digno secretário.
*Vide “buropatia” in Introdução à Teoria Geral da Administração – Chiavenato, Idalberto – Elsevier, 2004, pág. 311; ou consulte “buropata” no Google.
2 comentários:
Todo final de ano, desejamos as mesmas coisas: justiça, direitos respeitados e coragem para continuar lutando pelas nossas vidas e de nossos filhos. Sabemos que ista meta é possível de ser alcançada mas para que isso aconteça o nosso governo teria de pensar da mesma maneira, o que é impossível. Enquanto nossos governantes, nossos políticos( a maioria eleito por uma classe com o mínimo de instrução e de saúde), não se conscientizarem de que nosso país é rico e gera lucro o bastante para que todos tenham direito as mesmas cotas de conforto, de moradia e acima de tudo de respeito ao próximo, nada mudará. O bolo continuará a ser mal dividido, a mesa farta somente existirá na mesa daqueles que mais ganham e menos fazem. Nossas leis tem de ser modificadas o mais rápido possível. Enquanto o bandido que mata, esfaqueia, rouba ao ser preso tem direito ao auxílio reclusão de quase R$900,00, o pobre que levanta cedo, enfrenta condução lotada de segunda a sábado se contenta com 1 salário mínimo, o qual a Presidente diz que não pode ser aumentado porque vai "quebrar" o orçamento, é hilário continuar a fazer pedidos de mudança na passagem de ano. As vezes, em meus delírios conscientes, chego a achar que seria bom que ouvesse um outro dilúvio e extinguisse de vez da face da terra essa "espécie de gente". Tenho plena consciência que devemos lutar sempre mas tenho que concordar que é nauseante conviver com governantes, políticos, comandantes que são capazes de pedir a cabeça do próprio amigo para não perder a sua fatia nesse "bolo".É vergonhoso, falar assim nessa época do ano onde a entrega de Jesus, por Seu Pai em sacrifício para a salvação todos nós teria de ser lembrada e respeitada e porque não seguida em prol do bem comum. Mas, recobrando os sentidos, sei que tudo não passa de um sonho.
Prezada Neide
Estou convencido de que as UPPs significam a realização de um sonho antigo do falecido Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira. Quando admito deste modo a origem de tudo, não significa que eu morria de amores por ele. Mas a justiça lhe deve ser feita, sempre, bem como ao Dr. Beltrame, que muitas vezes critiquei aqui no meu blog, sempre de maneira respeitosa e elegante. Para mim, defender as UPPs antes de tudo corresponde a defender minha amada instituição PM, à qual me entreguei de corpo e alma e gostaria muito de recomeçar participando ativamente de um projeto grandioso e acertado como este da libertação de algumas comunidades. Como cultura operacional integrada ao ideário da PMERJ, as UPPs são bastantes no momento, não importando a quantidade mínima delas. Não fossem as UPPs, o ano de 2011 se encerraria tragicamente para a PMERJ por razões públicas e notórias. As UPPs "salvaram a pátria", tamanha é sua repercussão positiva aqui e mundo afora. Não podem e não devem morrer jamais, é o que hoje eu sinceramente defendo, não sem temor em relação aos maniqueístas de plantão, que, por conta de problemas políticos e até pessoais, preferem criticar o todo sem dar mérito à parte. Respeito essas posições extremadas, mas não é da minha índole ser assim a não ser quando cuido de "arapongas", dos quais tenho horror, mas que nada tem a ver com a inteligência policial aplicada contra a criminalidade, que é indispensável. Cá entre nós, nem tudo na vida da gente é sonho, mas, sem sonhar, não realizamos nada. Até mesmo a oração é espécie de sonho a ser realizado e eternizado pela salvação. Então, vamos sonhar?...
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