quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

RAZÃO E EMOÇÃO
















O homem não sabe mais que os outros animais; sabe menos. Eles sabem o que precisam saber. Nós não. (Fernando Pessoa, in 'Reflexões Sobre o Homem - Textos de 1926-1928')

Às vezes me prendo em cisma incontornável ao tentar abrir caminhos para tocar a razão ou a emoção das pessoas sem a pretensão de alcançar as duas simultaneamente. Sei, hoje, que ambas estão guardadas em estações do cérebro bem próximas uma da outra, surpresas da ciência com as quais tenho de me acostumar. Contudo, penso que aumenta a minha chance de chegar a essas duas plataformas de embarque ou desembarque em toques de teclado sonorizados como o barulho de uma só Maria Fumaça, porque, se a estação da emoção fosse ainda o coração, seriam duas máquinas, e seus caminhos, opostos. Por outro lado, em sendo estações contíguas, pode o trem não parar na razão nem na emoção e seguir em direção ao nada. Ou, em parando, posso constatar os passageiros embarcados em vagões de emoção ou razão mais interessantes que os meus nessa viagem de muitos maquinistas bons. E toda esquivança é pouca se deparo com gentes me mandando seguir adiante levando na bagagem fechada a minha idéia racional ou emocional. Em vez de embarque ou aceno de adeus, e não sem tristeza, recebo um indiferente “xô” como recado para buscar outras paragens.
Não é fácil penetrar a razão ou a emoção alheia, embora o ser humano exista com a finalidade de influenciar e ser influenciado. Esta via da influência, porém, nem sempre é de mão dupla; em contrário, é unívoca e manipulada pelo poder. E, quando me refiro ao poder, incluo todas as suas formas: do dinheiro às armas, da vigilância à punição. Ademais, o poder é insolente e só a morte será capaz de travar seu detentor, este, sempre interessado em proibir emoções e razões em prol do conformismo.
Reagir às pressões do poder não é fácil. Muitos não reúnem forças para pensar e sentir e se acomodam na inércia do “rebanho nietzschiano”. Desanimam ante o esforço do qual necessitam para abrir suas próprias trilhas, subindo e descendo montanhas, atravessando rios caudalosos e mares irados, até que surjam no seu horizonte íntimo a emoção e a razão, bens maiores que os diferenciam das coisas inertes e de animais meramente instintivos, se é que afirmar assim seja racional num mundo quântico em que até as pedras “pensam”...
Curioso é que não posso negar meus instintos, o que me aproxima dos animais irracionais, estes que me surpreendem em suas emoções e me arrebatam em fidelidade canina ou sensibilidade símia. E, se sinto a essência da rosa e posso imaginar sua existência, também os seres irracionais captam a essência de tudo que os cerca em apurados sentidos que me superam facilmente. Se não pensam, sentem o mundo mais que eu; e muitos não se submetem a nenhuma força ou poder: morrem lutando por sua liberdade de ser o que são, e não se entregam ao jugo de nada e ninguém. Será tudo isso irracional?... Ou serei eu, ser humano, o verdadeiro irracional?...
Eu nasci, tu nascestes, eles nasceram. Eu vivi, tu viveste, eles morreram e se tornaram a nossa alimentação básica. Seria esta a finalidade deles? Sim?... Então, por que reclamo se eles me devoram quando invado a liberdade deles? Não serei eu o irracional ao mergulhar para fisgar um peixe raro e ser devorado pelo tubarão? Qual será o sentido disso tudo? Ou não haverá nenhum? Afinal, nasci, tanto como os animais, para morrer um dia. A diferença estaria, talvez, na desvantagem de saber com antecedência que morrerei. Mas o elefante busca o seu local de morte: sabe da hora chegada.
Os animais se alimentam de animais, e há alguns comportamentos impressionantes: o leão, ao imobilizar a sua presa, morde-a em local que a põe em estado de choque. A cobra faz o mesmo com seu veneno. O ser humano usa a tecnologia para dissimular a carne que o alimenta em assados e cozidos... Sim, sou animal, sim, porém cônscio de que penso com exclusividade e sou ímpar na emoção. Será?... Talvez... Mas sou o único animal na face da Terra a utilizar a violência para matar por prazer, incluindo-se entre as vítimas meus iguais racionais e emotivos. Os outros animais supostamente irracionais e sem emoções usam a agressividade na medida certa da necessidade de sobreviver e preservar a espécie. Já o ganancioso ser humano faz matanças várias em nome da força e do poder de humilhar seus irmãos. Quem são os irracionais e emocionais, afinal?... Quem é o arrogante da história humana? Quem menoscaba seu semelhante em pedantismo? Quem?... Ora, eu e você que me lê!...
PS: Sobre a recente tragédia na Região Serrana, mais que anunciada, sugiro a leitura de texto que postei neste blog em 10 de maio de 2009 (Sobre a muralha da Rocinha e de outros morros favelizados). Reporto-me a fenômeno semelhante ocorrido nos mesmos Municípios nos quais eu atuei, como capitão PM, no tempo em que a Defesa Civil era levada a sério.

Um comentário:

NEIDE disse...

NO FUNDO COMPREENDI O QUE QUIZ DIZER. OS ANIMAIS VIVEM EM SEU HABITAT NATURAL, MATAM SUAS PRESAS PARA SUA SOBREVIVÊNCIA ENQUANTO QUE O HOMEM QUE JÁ LHE É ATRIBUÍDA A QUALIDADE DE RACIONAL, CRESCE, ESTUDA, APRENDE O CERTO E PELA LUTA AO PODER ENSINA O ERRADO. E É JUSTAMENTE ONDE A RAZÃO E A EMOÇÃO SE DIVORCIAM PARA TODO O SEMPRE ATÉ QUE ESTE ACHE OUTRO IGUAL A ELE( O QUE NÃO É DIFÍCIL) E GERAM NOVOS SERES, OS QUAIS CRESCERÃO COM O MESMO ENSINAMENTO, AMBIÇÃO E SENSO DE DESTRUIÇÃO. E OS POUCOS QUE AINDA VALEM A PENA, SE NÃO FOREM BRUTALMENTE FORTES TANTO NA RAZÃO COMO NA EMOÇÃO, SERÃO EXTINGUIDOS DA FACE DA TERRA. O HOMEM AINDA NÃO SE DEU CONTA QUE DEUS QUANDO LHE DEU A INTELIGÊNCIA FOI PARA QUE ELE DESCOBRISSE QUE A RAZÃO E A EMOÇÃO PODEM TER UM CASAMENTO ETERNO COMO QUALQUER OUTRO ONDE UM, QUANDO NA HORA CERTA PERCEBER QUE TEM DE DAR A VEZ AO OUTRO E VICE VERSA, MAS SEMPRE UNIDOS PELO MESMO ELO: O AMOR. O AMOR AO PRÓXIMO, O AMOR A VIDA, O AMOR AOS VALORES FAMILIARES
O AMOR AO PAÍS PELO QUAL TODOS SÃO RESPONSÁVEIS. ENQUANTO A GANÂNCIA E A FALTA DE HUMANIDADE PROLIFERAR, O MUNDO TENDE A REPETIR ESSES EPISÓDIOS QUE CHAMAM DE "CALAMIDADE PÚBLICA".