sábado, 27 de novembro de 2010

Complexo do Alemão: é ou não é guerra?



Não sei se devemos louvar o esforço de alguns no sentido de evitar o confronto bélico que pode acontecer a qualquer momento, eis por que posto ainda hoje a reflexão. O pavio está aceso e queimando em direção aos explosivos. Tentar agora um recuo é sinal de fraqueza, a não ser que decorra da rendição coletiva dos marginais. Isto, porém, significa a total desmoralização deles. Convencer grupo tão heterogêneo em circunstâncias por eles jamais enfrentadas não é tarefa simples. Nem há mais tempo...
Agora, porém, não se trata de ação pontual de uma polícia ou outra, mas de uma típica ação operativa do Estado Brasileiro contra os quadrilheiros, embora não assumida oficialmente. A reação dos bandidos, se houver, implicará a necessidade da decretação de um Estado de Defesa, nos termos da Constituição Federal, recado, aliás, percebido nas entrelinhas do discurso presidencial.
Trata-se de discurso de “lei e ordem”. Para os desatentos, a “garantia da lei e da ordem”, no contexto do Art. 142 da CRFB, pressupõe ação direta das Forças Armadas, o que na prática está ocorrendo. A própria postura operacional das Forças Armadas já ultrapassa a possibilidade de o Exército Brasileiro restringir-se ao cerco do Complexo do Alemão. Afinal, um jovem paraquedista foi ferido em combate, o que demonstra a disposição dos bandidos de não distinguirem policiais de militares.
Também o cerco, modalidade de controle de populações em áreas restritas, prática operacional usada pelo Exército Francês na Argélia, por exemplo, não se constitui em nenhuma novidade. E é para tal desiderato que a CRFB prescreve a situação intermediária, de menor potencial operacional, que é o Estado de Defesa. Porque somente através dessa medida é que o Exército Brasileiro poderá controlar a região até separar o joio do trigo, trabalho árduo e demorado para a polícia em virtude do anonimato da maioria dos traficantes. Pois os traficantes podem muito bem decidir pela ocultação de suas armas em vez de enfrentarem o aparato estatal. Podem se ajustar ao ambiente como moradores comuns. Deste modo, somente os que tenham passagem anterior pelas barras dos tribunais ou estejam identificados por investigação criminal em andamento é que serão alcançados.
Emerge daí, talvez, a inevitabilidade do confronto direto, que poderia ser superada pela rendição dos bandidos, mas pode também resultar em arguto mimetismo, como decerto ocorreu onde as UPPs foram instaladas. Mesmo assim, o Estado de Defesa é tão cercado de cautelas que quase que se torna inviável na prática, o que sugere, no fim de contas, o confronto armado como melhor hipótese, somente substituível pela rendição de cada traficante com sua arma sobre a cabeça. Se isto acontecer, e a moda pegar, as cobranças virão e teremos de assistir ao repeteco da rendição em mais de mil favelas do RJ, uma utopia...
No caso em questão, nem se deve cogitar o Estado de Sítio, incabível ante o problema que o Estado Brasileiro decidiu enfrentar sem recuo, como uma alternativa operacional no campo da “lei e ordem”, sendo certo que esta “ordem” não é mais a “ordem pública”, função das polícias estaduais e das coirmãs federais (Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal), mas a “ordem interna”, o que nos remete ao quadro situacional da Segurança Interna.
Hoje, no entorno do Complexo do Alemão, o que se espera sem outra possibilidade romântica é uma ação operativa que não se delimita no Poder de Polícia e se insere desde antes na situação de excludente de criminalidade, esta, porém, a ser avaliada pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário. Eis como será tratado cada passo da operação em andamento: um risco de penalização contra todos os atores envolvidos no conflito bélico. E não faltarão alardes dos “piedosos-socialistas” já de plantão, sendo certo que a mesma imprensa que hoje aplaude a ação deve estar louca pelos conflitos de opinião para ver em cada prato da Balança da Justiça os pesos e contrapesos desses apologistas do caos atrás de um minuto de fama.
É fácil imaginar a gana desse grupo “piedoso-socialista” em criar outro “General Newton Cruz” para servir na bandeja do sensacionalismo. Porque é certo que eles tentarão, sim, desestabilizar principalmente as Forças Armadas, e, para tanto, basta escolher um ombro altamente agaloado para pô-lo a prêmio. Cá pra nós, os militares não são bobos. A fala do General Comandante Militar do Leste na reunião do Palácio Guanabara foi muito cautelosa e ao mesmo tempo explícita: o Exército só reagirá às agressões. Mas elas já aconteceram: um paraquedista foi tombado pelos traficantes, prova inconteste da agressão que deverá ser cobrada pela instituição militar federal.
Esperemos para ver o final dessa história, torcendo que minha pobre avaliação contextual esteja redondamente equivocada. Mas, como eu já protagonizei esse filme antes (minha cabeça foi posta na bandeja pelo sistema situacional por eu ter combatido ferrenhamente seus parceiros políticos do tráfico), tenho cá minhas dúvidas quanto à lisura de alguns segmentos do sistema de segurança pública. Alguns deles, a partir da Constituinte de 1988, se tornaram intocáveis e ideológicos em demasia (partidários, inclusive), pior que com um poder de retaliação acima do normal e imune a quaisquer cobranças diretas. Quando eles e elas erram ou agem de má-fé “em face de”, a culpa é do Estado...

5 comentários:

Paulo Xavier disse...

Não só o Brasil, mas o mundo inteiro assistiu e aplaudiu essa invasão às comunidades de Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão, pelas Forças Policiais do nosso Estado com o auxílio das Forças Armadas, quando centenas de bandidos, talvez milhares, foram presos, fugiram ou simplesmente se esconderam.
Não creio que nessa altura do campeonato alguém terá a ousadia de enxovalhar essa operação que exigiu o sacrifício desses bravos guerreiros que se uniram em prol de um bem comum.
Essas duas operações citadas serão um divisor de águas, um marco na história da segurança pública do nosso Estado. Com certeza a partir de hoje o bandido vai refletir um pouco antes de provocar o confronto, como atear fogo em carros nas ruas, apesar da audácia dessa gente não ter limites.
Todos os envolvidos nessa operação de guerra estão de parabéns e são dignos de elogios com direito a medalha. A sociedade aprova e aplaude!

Anônimo disse...

Sr. Larangeira, boa noite. Observei muitos "especialistas" opinarem. Todos um desastre!! Mesmo ex-secretários de segurança nacional, ex-policiais civis, ex-bopeanos. Mas faltou vir aqui só pra checar o que se passava na cabeça do comandante. Fantástica sua análise. O Sr. tb acertou na análise sobre a possibilidade de termos UPPs Militares. A ajuda ao governo federal pra isso já foi requisitada. Bom, a resposta a minha pergunta foi dada na quinta e domingo: quem manda no Rio é o Estado Democrático de Direito. Cordialmente, Anonimo.

Anônimo disse...

errata:desastre no sentido de prever acontecimentos.

paulo fontes disse...

ANESTESIA GERAL
Sociedade brasileira presta bem atenção no sorriso cínico do cruel traficante, homicida, frio assassino praticante de latrocínios, assaltante a mão armada, ladrão de automóveis conhecido por Mister M ostenta por ocasião da sua prisão.
Olha bem para esse sorriso pois é o sorriso da certeza da impunidade.
É o sorriso de quem tem a certeza de que tem o poder e a força e lógico os milhões quem sabe bilhões de reais, dinheiro amealhado a custa de vidas humanas ceifadas cruelmente sem dó nem piedade nos sinais dessa infeliz cidade, bem como pela venda no varejo das drogas consumidas pelos hipócritas viciados que tentam se passar por pobres coitados e vítimas quando na verdade são uma ponta importante no esquema da compra e da venda da droga.
É o sorriso de quem tem a certeza que sabe que esse dinheiro vai comprar tudo, que vai passar por cima de tudo, das instituições, dos poderes constituídos, das pessoas.
É o sorriso sádico e psicopata de quem sabe que desgraçou famílias que ficaram destroçadas, viúvos, viúvas, órfãos, pela ação violenta das quadrilhas de bandidos sob seu comando, verdadeira besta fera, que logo estará a solta para praticar seus crimes sob o patrocínio da abominável Lei de Execuções Penais, aquela que faz a alegria dos juízes e advogados e também dos criminosos

É o sorriso de quem tem consciência de que essa abominável Lei de Execuções Penais faz com que ele tenha os mesmos direitos dos cidadãos honestos e pagadores de impostos que vão sustentar sua estadia nas cadeias, com direito a progressão de regime para cumprir apenas 1/6 da pena que lhe foi imputada.
É o sorriso de quem sabe que mesmo dentro da cadeia vai ter direito a visita íntima, audiência com advogados, prática de esportes, serviço médico, televisão, celular e, na prática, o comando das suas atividades criminosas e pasmem ter direito a um benefício do INSS denominado “Auxilio Reclusão”, pago a sua família, enquanto as vítimas e suas famílias ficam esquecidas pelo Poder Público.
É o sorriso de quem com apenas vinte e dois anos sabe que a sociedade brasileira está doente, anestesiada pelas novelas da TV, dopada pelas drogas legais ou ilegais, amaciada pelo futebol aos domingos, inerte e incapaz de reagir ao flagelo do crime que ceifa vidas dos filhos honestos deste solo.
É o sorriso de quem tem a certeza da impunidade que continuará e não terá fim porque neste país não existem homens públicos corajosos e capazes de comandar uma reação a altura, do tamanho do crime que nos ameaça, que não possui autoridades que possam promover uma operação “Mãos Limpas” simplesmente porque suas mãos estão sujas, que não possuem governantes capazes de liderar uma grande cruzada para o controle do crime, da criminalidade e da violência porque eles vivem em “bunkers” de segurança, seu transporte é o helicóptero, seus carros são blindados e seu rico dinheirinho está protegido nos paraísos fiscais pelo mundo afora.
É o sorriso cínico de quem sabe que a sociedade tomou anestesia geral que lhe amorteceu a vergonha na cara, a honra, a dignidade, o pundonor, a ética, e tudo consente, se cala diante da banalização do mal e não tem mais força para reagir nem mesmo diante das maiores atrocidades cometidas.
“QUOSQUE TANDEM CATILINA ABUTERE PATIENTIA NOSTRA”

Paulo Xavier disse...

Comentário perfeito do Paulo Fontes. "Até quando abusará Catilina da nossa paciência?" "Que não possui autoridade para promover a operação "mãos limpas", por que suas mãos estão sujas. Infelizmente vivemos numa sociedade onde a hipocrisia se sobrepõe às verdades e o medo e a incerteza ainda se fazem presente no olhar de cada um.
Vamos torcer para que o excelente trabalho realizado pela nossas polícias com o apoio das forças armadas, não tenha sido em vão e que aquelas comunidades tão sofridas voltem realmente a viver em PAZ.