domingo, 20 de junho de 2010

Feliz coincidência







Quem pratica a literatura compromissada com a realidade presente, antevendo o futuro, costuma viver momentos de glória. É o que os franceses designam como literatura “à clef”, constatando que não é tão simples separar ficção de não-ficção, duas situações que andam como se uma fosse o corpo e a outra, a sombra, ou vice-versa.
Eis que no ano de 2003 publiquei um romance com o título “Cidadela Contemporânea”, trazendo como subtítulo “a tirania do tráfico”, conforme se vê na capa aqui reproduzida. O texto pode ser acessado, impresso ou apenas lido no meu site (www.emirlarangeira.com.br), já que a edição está esgotada.
Não posso negar a minha satisfação de ver a matéria igualmente destacada, cujas partes aqui postei, ressaltando a foto com o título e a imagem do “refúgio do crime”. A reportagem (sensacional!) assinada pela jornalista Ana Cláudia Costa, primor de investigação jornalística, resume a realidade atual e confirma minhas apreensões anteriores, não apenas as ilustradas no romance, mas em sucessivos artigos postados no meu blog.
Longe de este comentário significar crítica às UPPs (agora o “mistério” do “cartão postal” está desvelado pelo próprio Jornal O Globo), e certo de que a PMERJ, a PCERJ e a PF são capazes de agir em quaisquer lugares com a coragem de sempre, considero natural que tenha havido a migração dos bandidos para o Complexo do Alemão, tão certo como entendo que eles, os bandidos, ao lerem a magnífica reportagem de Ana Cláudia Costa, buscarão antes do ataque policial (não tenho dúvida de que ocorrerá) outras “cidadelas” para “refúgio”, o que, aliás, e como manda a “arte da guerra”, não se deve evitar: deve-se dividi-los para enfraquecê-los, e é melhor que eles se dispersem antes do ataque para evitar confrontos sangrentos em prejuízo (CERTO) de inocentes.
Vejo a reportagem sem espanto e em incontida alegria. Ela representa a confirmação das minhas impressões anteriores e bem antigas, e, para a polícia, trata-se dum belo golpe de propaganda como arma de guerra. Por essa hora, os bandidos, – que sabem muito bem ler e escrever, e erram aqueles que pensam que a polícia lida com analfabetos armados e destreinados, – os bandidos estão esgotando os exemplares de O Globo nas bancas da região. Esta será a matéria mais lida pelos facínoras no dia de hoje. Creio até que neles produzirá uma total desconcentração em vista do jogo do Brasil contra a Costa do Marfim. Na verdade, lá pelas três da tarde eles estarão nervosos, tomando “neosaldina” e se preparando para receber algum ataque de surpresa no momento do jogo. Não lhes custa crer nesta possibilidade, e os jogadores famosos, frequentadores assíduos do perigoso lugar, que se cuidem!
Quanto a mim, vou comparando em êxtase a capa do meu livro com o título da matéria que trouxe à realidade vocábulo tão expressivo nos tempos remotos: a “cidadela”.

Bom domingo!

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

Parabéns Cel Larangeira. Mesmo longe da linha de frente do combate, o sr continua prestando relevantes serviços à sociedade e à segurança pública. Tivessem, a maioria dos nossos policiais, esse sangue "guerreiro" correndo nas veias, certamente que todos sairiam ganhando, inclusive a própria polícia.