quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sobre o circo governamental das UPPs


Mestre de Picadeiro

Toda vez que vou ao circo, – coisa rara em minha vida errante, – sento-me na plateia e lá eu fico como todo expectador do maravilhoso mundo circence; e me divirto; e ao fim e ao cabo me mando de volta ao meu cantinho chamado lar. Não vejo no circo nenhuma disputa entre os artistas. Cada qual torce pelo colega e o espetáculo continua a brilhar no picadeiro, pois o circo não pode acabar. Entretanto, por mais que o palhaço seja o ponto alto de qualquer circo, ele incorporou no imaginário popular uma faceta pejorativa, de tal modo que ninguém quer fazer “papel de palhaço”. Enfim, ninguém quer ser o “bobo da corte”. Nem eu...
As iniciais implantações de UPPs dependeram tão-somente da PMERJ. Em ações ostensivas do BOPE, apoiado pelo Batalhão de Choque, e sem grandes dificuldades, os fardados dominaram os territórios favelados antes entregues à maldade dos traficantes, estes sempre se fingindo de bons ante os moradores. São bandidos, nada mais. E nessa condição dissimulada e anônima eles foram expurgados ou se recolheram à forma cística nas comunidades ocupadas, destacando-se uma ou outra prisão dos mais conhecidos. Poucos, na verdade, mas o objetivo das incursões era e é nítido: ocupar as favelas e instalar UPPs para realizar o policiamento ostensivo diuturno. E assim as UPPs vêm sendo criadas, claro que sob exagerados aplausos globais... Por outro lado, o anúncio prévio dessas ações dá tempo de os bandidos se escafederem para outros lugares, não importando aqui desdobrar esse fato. Interessa-me ir direto ao ponto...
A coirmã PCERJ estava como eu, também sentada na plateia, porém nem tanto extasiada com a apresentação dos artistas da PMERJ. Mexia-se na arquibancada em incômodo por não ter sido convidada para festa tão badalada e apresentar seus artistas principais. E devem ter reclamado com o Mestre do Picadeiro porque foram contratados para protagonizar o primeiro ato; ou seja, “limpar a favela” para a PMERJ entrar ao “modo escoteiro” denunciado pelo convidado aniversário de Garotinho; por acaso, um ex-comandante do BOPE, que, por ter na bagagem muito treinamento estratégico (conceitual), tático e operacional, deu um irônico tiro na mosca. Na verdade, pulou da plateia ao picadeiro em cabriolas inimitáveis, arrancando aplausos até do lado de fora da lona a delimitar o circo. Hum... Mas desagradou ao Mestre do Picadeiro e a seu patrão, e, em vez de se equilibrar em alegria de volatim, caiu do arame e foi dançar em circo plebeu...
Então se introduziram no majestoso circo governamental os “Urubus-artistas”, destacando-se logo no primeiro ato: “Respeitável público, assistam agora o melhor do espetáculo circense: a Operação Limpeza!” E, no picadeiro policialesco os “Urubus” fizeram um círculo para ir aos poucos fechando até alcançar o centro. Nem tão sem graça assim... Porque os demais artistas, fantasiados de favelados e bandidos, misturaram-se no picadeiro de tal modo que se tornaram invisíveis, podendo ser uma coisa ou outra: todos identicamente vestidos e sem quaisquer sinais de que seriam favelados ou bandidos, mas todos, em princípio, apenas favelados. Enquanto isso, um grupo suspeito conseguia sair sorrateiramente do picadeiro, enfiando-se no corredor destinado à retirada dos artistas ao fim de cada ato, corredor tão famoso como a lona do circo: eram os verdadeiros bandidos travestidos de favelados... E os “Urubus”, em volúpia e debaixo de aplausos da plateia elitizada, nem perceberam os fugitivos, continuando a revista indiscriminada em todos, tapeando e pontapeando alguns e grampeando seus pulsos por “suspeita”, jogo de cena mui apreciado e aplaudido pela plateia. E assim, depois de exaustivos aplausos, se retiraram para novamente surgir no espetáculo seguinte. Estavam contratados!
Ah, e o segundo ato?... Ora, depois de tão espetaculosa apresentação, perdeu a graça! Entravam no picadeiro os artistas fantasiados de “Caveira”, mas a cena já lhes fora roubada pelos “Urubus”, indicando até a desnecessidade do segundo ato circence antes da ocupação do picadeiro pelos miraculosos artistas destinados a garantir a permanência do circo variando espetáculos, todos fantasiados de “PM”, “Favelado” e “Bandido”. Eis o circo! Deram-lhe o nome de UPP! Mas o espetáculo não pode parar e agora “Urubus” e “Caveiras” disputam o papel de estrelas principais. E assim ficarão porque o Mestre do Picadeiro e seu patrão não almejam outra coisa: a disputa ferrenha por aplauso entre os pés-de-chinelo artistas do circo itinerante que sempre houve no início dos tempos e haverá no seu fim.
Na verdade, o espetáculo do cerco (delimitação do picadeiro) é mui manjado na arte da guerra. Treina-se isto desde Zun Tzu ou até antes. Trata-se de manjada operação militar denominada “Cerco e Estrangulamento”, cujo exemplo histórico da Argélia é bastante. Essa tática de cercar e penetrar aos poucos até estrangular o alvo no centro é mais antiga que Cristo. Do mesmo modo, as “rotas de fuga” são imperiosas para não haver reação suicida de grupos acuados. Também Zun Tzu ensinou isto, o que torna a tal “Operação Urubu”, de característica nitidamente militar e conhecidíssima pela PMERJ, uma contratação desnecessária ao circo governamental.
Aliás, em sendo Mestre do Picadeiro um policial civil (federal), como deixar de fora do bem-sucedido espetáculo os seus colegas estaduais? Como admitir artistas da PMERJ, em especial os fantasiados de “Caveira”, não partilharem o sucesso de bilheteria com os coirmãos da PCERJ, deixando-os dar também suas cambalhotas no picadeiro governamental? Afinal, não são todos palhaços a serviço do Rei e sua Corte?... Ah, se fosse assim desde o início, vá! Mas que os “Urubus” esperaram o circo ter sucesso para entrar no picadeiro, isto sim, esperaram!... Só entraram depois de garantidos os aplausos midiáticos. E vieram para roubar a cena no picadeiro principal: estão a “limpar” a região para que o BOPE nela se instale em definitivo... Nada demais, ficção é assim mesmo; é cena policialesca “à clef”; é a própria e surrealista realidade do BOPE versus CORE...

4 comentários:

Paulo Xavier disse...

Hoje vimos nos jornais o noticiário de Policiais Militares (12º BPM) e Policiais Civis (81ª DP) realizando operações em conjunto, com êxito, em Niterói.
Quando a rivalidade é posta de lado, quando a disputa para ver quem manda mais é substituída pelo interesse comum, a sociedade e a própria polícia saem ganhando sempre.
Não poderia ser sempre assim!?

Celso Luiz disse...

Olá Emir, tudo bem?

Leia este texto que encontrei nesse link. O texto desmascarou totalmente, Cabral,Beltrame e suas UPP's.. isso deveria ser amplamente divulgado.
http://www.anovademocracia.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2771&Itemid=105

D. Quixote disse...

Magnífico texto. Parabéns. Quanto ao mérito creio que o espetáculo iniciou e continua em "nossa" própria Corporação ao deixarem em segundo plano o serviço feito pelo restante da tropa (os comuns), muito mais complexo do que aquele realizado pelo BOPE e em condições até mais adversas, com carência de condições físicas, escalas, tratamento e auto estima, mas que não traz dividendo midiático.

Paulo Ricardo Paúl disse...

Um tiro no 5 X.
Juntos Somos Fortes!
Coronel Paúl