Para os que não possuem boa memória ou não leram a notícia, em 25 de novembro de 2009 a Revista Veja-Rio estampou matéria extremamente positiva a respeito da incorporação de 300 recrutas na PMERJ. Em alusão aos “300 de Esparta”, o título foi gravado assim: “Os 300 de Beltrame”. O exagero se observa na chamada feita pela autora da reportagem, Sofia Cerqueira: “Com boa formação e treinamento adequado, os novos PMs são a grande aposta da Secretaria de Segurança para mudar a história da corporação”. Acresceu ainda outro forte apelo jornalístico: “Em busca do soldado perfeito”.
Como o inferno anda cheio de bem-intencionados, na época eu juro que estranhei o exagero. Houvesse sido o foco na Academia Dom João VI e na formação de novos oficiais, até se poderia pensar em “mudar a história da corporação”. Mas partir dessa ideia apenas por conta da inclusão de 300 recrutas (soldados) numa instituição de aproximadamente 40.000 homens no serviço ativo é de lascar. Ora, a formação do soldado PM é típica da denunciada por Michel Foucault em seu clássico “Vigiar e Punir” – os “corpos dóceis”.
Não perderei tempo explicando o significado de “corpos dóceis” nem me aprofundarei na crítica ao ufanismo de uma reportagem com perfil de encomenda com endereço certo. Creio, sim, que interessa não apenas ao Secretário Beltrame, mas a todos os dirigentes do serviço ativo da PMERJ uma tropa composta por “soldados perfeitos”. Ocorre que o “soldado perfeito” é fruto de uma sociedade corrompida, clientelista e conformada; enfim, é fruto de um rebanho que ousamos resumir na casa-grande e na senzala, ou seja, massa humana subalterna e viciada em hábitos pouco recomendáveis: a sociedade brasileira.
Claro que muitos externarão indignação em vista do que afirmo. Nem pretendo me colocar como sacripanta a criticar maus comportamentos. Para amainar os verdadeiros e os falsos beatos, incluo-me como um dos malcriados e malformados ao longo da minha existência brasileira. Nem mesmo nego que preferiria ter sido médico patologista em vez de PM. Era o meu sonho, ideal inalcançável, miragem de pobre. O oásis era a PM. Foi nela que pude sobreviver para depois viver a vida deslocada do meu ideal.
Diversamente da matéria a destacar alguns “idealistas” com formação superior, mas dispostos a “salvar a sociedade” a troco do pior salário do Brasil, a realidade é outra. Portanto, nada demais um dos “300 de Beltrame” ser flagrado em prática de crime, assim como é certo que não será o único, sem falar naqueles que pularão fora do barco, se já não o fizeram. Vale conferir... Ora, não há como fugir da realidade! As UPPs são boa ideia, sem dúvida. Mas é melhor lidar com elas considerando os óbices e as falhas que decerto ocorrerão. Porque o ufanismo da Veja-Rio quanto aos “300 de Beltrame” já era!...
Como o inferno anda cheio de bem-intencionados, na época eu juro que estranhei o exagero. Houvesse sido o foco na Academia Dom João VI e na formação de novos oficiais, até se poderia pensar em “mudar a história da corporação”. Mas partir dessa ideia apenas por conta da inclusão de 300 recrutas (soldados) numa instituição de aproximadamente 40.000 homens no serviço ativo é de lascar. Ora, a formação do soldado PM é típica da denunciada por Michel Foucault em seu clássico “Vigiar e Punir” – os “corpos dóceis”.
Não perderei tempo explicando o significado de “corpos dóceis” nem me aprofundarei na crítica ao ufanismo de uma reportagem com perfil de encomenda com endereço certo. Creio, sim, que interessa não apenas ao Secretário Beltrame, mas a todos os dirigentes do serviço ativo da PMERJ uma tropa composta por “soldados perfeitos”. Ocorre que o “soldado perfeito” é fruto de uma sociedade corrompida, clientelista e conformada; enfim, é fruto de um rebanho que ousamos resumir na casa-grande e na senzala, ou seja, massa humana subalterna e viciada em hábitos pouco recomendáveis: a sociedade brasileira.
Claro que muitos externarão indignação em vista do que afirmo. Nem pretendo me colocar como sacripanta a criticar maus comportamentos. Para amainar os verdadeiros e os falsos beatos, incluo-me como um dos malcriados e malformados ao longo da minha existência brasileira. Nem mesmo nego que preferiria ter sido médico patologista em vez de PM. Era o meu sonho, ideal inalcançável, miragem de pobre. O oásis era a PM. Foi nela que pude sobreviver para depois viver a vida deslocada do meu ideal.
Diversamente da matéria a destacar alguns “idealistas” com formação superior, mas dispostos a “salvar a sociedade” a troco do pior salário do Brasil, a realidade é outra. Portanto, nada demais um dos “300 de Beltrame” ser flagrado em prática de crime, assim como é certo que não será o único, sem falar naqueles que pularão fora do barco, se já não o fizeram. Vale conferir... Ora, não há como fugir da realidade! As UPPs são boa ideia, sem dúvida. Mas é melhor lidar com elas considerando os óbices e as falhas que decerto ocorrerão. Porque o ufanismo da Veja-Rio quanto aos “300 de Beltrame” já era!...
4 comentários:
Somente boa formação e treinamentos adequados não são requisitos para se tornar um policial exemplar; é preciso acima de tudo, caráter incorruptível para não se deixar contaminar com os maus exemplos, alguns vindo de cima.
Segundo o noticiário, este PM praticou um roubo acompanhado de 3 ou 4 paisanos, e isso ele não aprendeu na caserna. A maioria dos crimes praticados por PMs são os que rondam a sua função, a sua profissão, ou seja, agressão, homicídio, extorsão, corrupção; vejam que na maioria desse tipo de crime tem alguém do outro lado querendo levar vantagem ou que representa um perigo em potencial..
Emir hoje mais dois aspirantes da UPP foram presos. Só essa semana ja totalizam-se três.
Mudando de assunto dá pra você postar mais recortes de jornais antigos dos anos 80 e 90, estou fazendo uma monografia sobre relação entre o tráfico de drogas e a violência no RJ e os recortes com materias antigas de jornais que você tem postado, tem me sido muito úteis na minha pesquisa.
grande abraço e parabéns pelo blog
Caro Luiz
Mande-me o seu e-mail. Vou postando algumas reportagens aos poucos. Tenho muitas arquivadas. Obrigado pelo comentário.
Um abraço e bom domingo.
enquanto não tivermos sálarios decentes ,principalmente para os recrutas que ,em geral,se locomovem diariamente de seg a sexta para o cefap,e ainda vão aos finais de semana para trabalhar de extra.
Uma alimentação decente,ou pelo menos dar o valor em dinheiro ao praça e os recrutas para que estes comam o que acham melhor.
e para os q estão nos batalhões,ajuda do governo para que o praça possa morar proximoa unidade
eu trabalho na zona sul e moro na baixada,levo 2 horas para chegar no batalhão,mas pra chegar em casa levo de 3 a 4 horas,e agora até recebo auxílio transporte mas com R$100,00 por mês é difícil.
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