Não existe ação isolada no submundo do crime nem em nenhum ambiente social. Isto é elementar, é “óbvio ululante”, como gostava de frisar o saudoso Nelson Rodrigues. O ambiente social atual é puro contexto. Tudo se relaciona com tudo, nada é isolado. Erra, portanto, o governante, ao afirmar ter sido “ação isolada” o ataque terrorista na Cidade de Deus. Sim, ataque terrorista porque o contexto mundial nos chega no tempo real e os facínoras já aprenderam a lição de como desestabilizar o mundo oficial.
A primeira condição para se resolver um problema é admiti-lo como tal. Não há como maquiar em sarcasmo a realidade debaixo do nariz das pessoas, como se todas fossem burras. Ninguém engole mais discursos vazios num Estado que se alimenta de oximoros enquanto recria um insaciável monstro (Conselho de Contas dos Municípios) destinado a consumir verbas públicas, embora sejam elas escassas para melhorar a segurança, a saúde, a educação etc.
Curioso é que o deputado relator da vergonhosa Emenda Constitucional (Paulo Melo, líder do Governo Sérgio Cabral Filho) é o mesmo que junto comigo cerrou fileira para extinguir esse mesmo mal, e nós ambos liderados pelo atual e eloquentemente silencioso governante (1991-1994). Mais curioso ainda é que a mídia noticie a recriação desse monstro devorador de verbas públicas como se fosse apenas mais um trem da alegria passando diante de espectadores estultos. E nesse contexto de sem-vergonhice um ônibus cheio de gentes humildes é torrado por traficantes.
Ora, tudo é contexto, tanto o incendiar do ônibus lembrando a Inquisição como a concomitante aprovação do futuro antro de marajás! Enquanto isso, as UPPs se vão exaurindo, ou por falta de efetivo suficiente, ou por desânimo ante os péssimos salários, ou por cautela diante do inegável poderio do tráfico. E se integra a esse contexto a mídia alardeando anônimos favelados em supostas pesquisas exaltando as UPPs. E, de súbito, o anonimato se torna visível pela reação dos bandidos a atingir indistintamente os autênticos moradores, estes sim, que nada fizeram ou falaram para merecer, no lugar dos “pesquisados”, a maldade extrema. Ora, “ação isolada” é o cacete! É tudo interligado! É tudo contexto! E não há como engolir “conceitos”, “definições” e discursos prosélitos de ninguém.
Bem, agora o foco será o da prisão dos terroristas-cariocas-da-gema-urbanos e o problema estará “resolvido”. Ou seja, café-pequeno ante o interesse estatal maior: recriar à surda um covil de marajás para se alimentar de dinheiro que seria mais bem gasto na melhoria salarial da polícia ou no fortalecimento das UPPs (aquartelamentos, aumento do efetivo, salários decentes e quejando). Mas, qual!... Nada disso interessa ao poder público. As eleições estão chegando e alguns antigos parlamentares necessitam gauderiar em outras árvores frondosas; os gaudérios necessitam cumprir suas finalidades; são sanguessugas de ontem, hoje e amanhã. Ah, e os favelados e as UPPs que se virem! No fim de contas, não pode haver marajás sem pés-de-chinelo a seus pés...
Um comentário:
Realmente é fácil dizer que esse caso foi uma ação isolada. Eu gostaria de saber a opinião desse cidadão se essa ação fosse diretamente no Palacio da Guanabara, no recanto do nosso ilustríssimo presidente, que aliás este último acho que não acontece porque os autores de tais fatos tem a plena consciência de que esse senhor nunca se encontra em seu posto e como não esquenta muito tempo seu fundo em algum lugar, não gastam seu tempo tentando adivinhar qual será sua próxima parada porque para isso tem e muita verba, já que foram encomemndados dois novos aviões para ficarem a disposição da Presidência da República. Saúde, Educação? Para que? É melhor um povo doente e burro para que assim continuem a ter sempre uma desculpa de que as viagens são para angariar fundos para um Brasil melhor, já que os ternos de bolsos com fundo nos calcanhares sejam preenchidos até o fim do mandato. E olha que são milhares de ternos......
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