quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Sobre as UPPs na Zona Sul do Rio de Janeiro


O raciocínio de Zuenir Ventura é perfeito. Venho tratando das UPPs neste blog com semelhante espírito crítico. Como aponta Zuenir, as UPPs são um sucesso operacional à parte no contexto da PMERJ. Permanece, porém, a dúvida quanto à escolha das comunidades privilegiadas com o momentaneamente bem-sucedido policiamento, sendo evidente que qualquer privilégio costuma gerar o seu oposto: a discriminação. Estamos longe do final desta história...
É certo que são milhares as comunidades carentes dominadas pelo tráfico, e mais que certo não ter a PMERJ condições de estender seu cobertor curto para cobri-las, todas, simultaneamente. Portanto, devo insistir no meu estranhamento quanto ao critério de escolha. É neste ponto que mora a obscuridade, porque os locais escolhidos obedecem a uma estratégia político-financeira destinada à elite carioca, em especial à rede hoteleira e aos incorporadores e agentes imobiliários, por sinal, importantes gastadores em publicidade, em especial os últimos.
Como a PMERJ deve atender democraticamente a todos os contribuintes, vejo na concentração permanente do efetivo um paradoxo operacional, já que a corporação deve primar pela máxima frequência do patrulhamento ostensivo, o que demanda fracionamento máximo da tropa no cotidiano do patrulhamento do ambiente social geral. Particularizar o policiamento diz respeito bem mais aos grandes eventos com data marcada para início e término (Carnaval, Jogos de Futebol, Micareta e congêneres), ou às tropas adrede concentradas (Força Reserva) para operações complementares de polícia (BOPE, BPCh etc.).
Não discuto o valor e a qualidade das UPPs. Questiono, sim, e também, o desconforto a que estão submetidos os efetivos nas favelas ocupadas, como já demonstrei aqui várias vezes. Agora surge um movimento empresarial no sentido de prover esses efetivos de quartéis decentes, o que implica concluir que os atuais são indecentes. Ou talvez indecente seja a doação desses quartéis por empresários decerto beneficiados em seus negócios por conta do afastamento das quadrilhas de traficantes de suas regiões de interesse. Mas, mesmo assim, e como sugere Zuenir, “resta o dia seguinte” a descortinar a verdadeira intenção desse inconteste “ato
político”. No mínimo...

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