sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Sobre as ocupações policiais militares




Ou sobre a ameaça governamental

“Estou avisando para os traficantes irem embora” / “Sérgio Cabral manda recado para que bandidos deixem Tabajaras e Morro dos Cabritos em três semanas” (título e subtítulo extraídos do Jornal O Globo, Rio, quinta-feira, 3 de dezembro de 2009, P. 15)

Que conclusão se deve tirar da ameaça proferida pelo governante e estampada na grande imprensa? Se os bandidos medrarem, irão embora para onde? E se não obedecerem e começarem a gargalhar da bravata?... O que lhes acontecerá?... Como o policial deve entender esse recado-ameaça governamental na hora de agir?... Será a ameaça uma demonstração de valentia ou de desespero? É manifestação de coragem ou de medo? Não seria melhor a ordem estar oficializada em decreto governamental? Quem sabe assim os traficantes, como “bons cidadãos”, acolheriam a determinação e sairiam enfileirados e submissos, entregando-se às autoridades policiais sediadas na rua onde incendiaram um ônibus, dentre outras perigosas estripulias?...


Venho comentando sobre as ocupações de favelas pela PMERJ no Rio de Janeiro (Capital) num misto de otimista e pessimista. Sou otimista porque entendo se tratar de medida operacional salutar para a comunidade ordeira residente em favela; e pessimista devido à carência de efetivo não somente para ocupar, mas, principalmente, para manter o sistema funcionando por longo tempo. Nem digo indefinidamente porque a realidade será a da migração dos traficantes para outros pontos da cidade e o acirramento dos conflitos em novas disputas de territórios. Tal situação demandará deslocamento de efetivo para essas novas áreas de risco (já se vê o Batalhão de Choque desviado de suas precípuas finalidades...). Já também apontei o inconveniente de a PMERJ se apresentar como “salvadora da pátria favelada” e logo depois se ver em situações desagradáveis ao ter de coibir pequenos delitos no ambiente ocupado. Torna-se ela, então, a vilã de sempre, tal como o é o bandido em suas cidadelas. Pois é certo que nenhuma população, nem aqui nem algures, vê com bons olhos a polícia. Em alguns momentos, até prefere os bandidos...


Agora se acrescem mais problemas aos conflitos já detectados entre a população favelada e o grupamento de ocupação, conforme salientei num outro artigo aqui postado (a farda do PM rasgada por favelados indignados): a reação dos bandidos (?) queimando ônibus no asfalto, explodindo bombas de fabricação caseira e mandando fechar o comércio até na rua em que está sediada uma Delegacia de Polícia. Mais arrogância que esta é impossível de se conceber. E não adianta partir para o confronto, resposta que decerto haverá, com a morte de alguns desses traficantes açodados e de policiais abanados por discursos governamentais de enfrentamento. Enfim, o problema persistirá, admitindo-se ainda a possibilidade de os que mandaram o comércio cerrar as portas, lançar bombas e incendiar ônibus nem mesmo serem bandidos, mas apenas pessoas agindo por ordem do tráfico e a medo da morte em caso de negativa.

A situação desnuda uma realidade de derrota que vem sendo ofuscada por discursos estatais otimistas e ameaçadores (última moda lançada pelo governante). Porque os bandidos conhecem as limitações da polícia, embora chovam anúncios de novas levas de policiais militares. O último deles é o da inclusão de mais quatro mil homens a engrossar o efetivo da corporação, dificultando, deste modo, a melhoria salarial da sofrida tropa. Trata-se de absurda contradição, pois o governo se nega a pagar salário digno ao PM antigo, sob a alegação de falta de verba, ao mesmo tempo em que investe em novas contratações a privilegiar a quantidade em detrimento da qualidade. Inclui-se nesta qualidade o preparo, e, principalmente, a motivação da tropa existente, que hoje ocupa o penúltimo lugar no ranking da remuneração das Polícias Militares no Brasil.

É imperativo deduzir disso tudo que os dirigentes estatais nada almejam além de manipular a polícia ao bel-prazer de suas idiossincrasias políticas, todos de olho nas eleições do ano que vem e nos eventos geradores de lucro, principalmente para a mídia (Copa do Mundo e Olimpíadas). Alguém deve desde já pagar o preço da menos-valia para que a mais-valia entupa as algibeiras de muitas gentes no futuro. Para o PM, como de costume, sobrarão os restos indigestos dessa despudorada politicagem. Mas ele, o PM, como bom “ovino”, estará pronto para o abate, e, como um “bode expiatório” das falhas do sistema, animará o discurso desses dirigentes interessados tão-somente em si mesmos e não no verdadeiro interesse público.

4 comentários:

Anônimo disse...

Prezado amigo Cel Larangeira

Está na rede o meu Blog: http://diarioadvogado.blogspot.com/

Conto com a sua presença!!!!

Abs.

André Luiz Tavares

Anônimo disse...

As upp são um sucesso, Cabral está colocando ordem na casa !

Emir Larangeira disse...

Não duvido que as upp sejam um sucesso e torço para que se consolidem. Mas o mérito é da PMERJ, que sua a camisa para "colocar ordem na casa". A questão que me preocupa é outra: como ficam as centenas de comunidades que merecem tratamento igual? De onde sairão os efetivos? Esse é o problema: aumentar o efetivo e pagar bem ao policial civil e militar. Só depois disso é que o Cabral poderá dizer que "colocou ordem na casa". Por enquanto, é só um pequeno teste que está dando certo. Espero que se alastre o sucesso, mas como mérito da PMERJ e não de governante algum. Depender da vontade de governante para a polícia dar certo é um problema sério para a população. A polícia tem de dar certo por sua conta e risco. Ao governante cabe apoiar as boas condutas e suprir a polícia e os policiais dos meios materiais para o conjunto estrutura-pessoas ser bem-sucedido.
Abraços ao anônimo e obrigado pela participação.

Anônimo disse...

Caro Larangeira,

E os subúrbios?
Parece que o Rio é só a AP2.1.
Como sempre: Farinha pouca meu pirão primeiro.

JS