Somos efêmeros. Não sabemos o que temos ou quem somos neste mundo de Deus, mas parece que Ele se esqueceu de nós. Este planeta é menos que átomo comparado ao universo infinito, e a humanidade segue sua eterna viagem na espaçonave Terra mantendo a ilusão de que um dia tudo será melhor. Como será melhor, se as pessoas que habitam o orbe são intrinsecamente más?...
Eis a indagação que nos atormenta ao acordarmos e tocarmos o solo com o pé direito... Que fazer com a nossa maldade atávica? Por que arrotar grandiosidade e egoísmo, se representamos a voluptuosidade do nada? Parece grosseira a afirmação, mas é para alertar que somos meros animais e pensamos que pensamos, o que nos faz lembrar quem somos nós e não o que somos: carne efêmera, que, pensando ou não, nasce, cresce, reproduz, morre e alimenta os vermes.
Às vezes me preocupo com as pessoas aceitando falas alheias como verdades perenes: forma preguiçosa de viver... Não creio ser isto razoável. Sou questionador incorrigível, não aceito verdades de outrem sem antes analisá-las à luz do meu conhecimento ou da minha ignorância. Não acolho de antemão nada que me venha pronto e acabado. Rendo-me, porém, a comentários que não se encaminhem para a solução fechada e definitiva das questões. Quem garante que entendemos completa e definitivamente o mundo?
Vivemos numa sociedade que um dia emprestou seu poder a uma entidade chamada Estado, mas essa entidade nos devorou e hoje vivemos a criticá-la sem substituí-la por outra. Falta-nos imaginação e coragem. Falta-nos, talvez, uma “terceira via”...
O nosso Leviatã
Enquanto criticamos a entidade corrupta que criamos para nos organizar em “civilização”, ela nos devora em avidez de rapina. Sim, culpamos o Estado por nossos infortúnios, mas ele segue indiferente à nossa perplexidade, indiferente a nós.
O Estado é abstração na sua essência e realidade em sua existência cruel; sociedade é abstração. Temos uma individualidade abandonada e uma coletividade submetida a um viciado poder estatal. Não somos mais micropoderes de nada, não decidimos nada, distanciamo-nos definitivamente da Ágora de Péricles.
Continuamos reféns de uma liberdade que não vence a barreira do sonho; vivenciamos a derrota individual e coletiva para o micropoder que emprestamos aos burocratas do Estado quando nos reunimos em sociedade. Não somos comunidades orgânicas, somos societários formais contra nós mesmos. Somos asnos dissimulados em peles de leões da fábula de Esopo. Demos armas a alguns para nos dominar. Fomos derrotados pelo sistema que nós mesmos instituímos e insistimos em manter em nome de uma convivência coletiva que se deteriorou.
Justificamos os males e os maldosos que contra nós se voltam cotidianamente; amamos os bandidos que nos matam em vez de destruí-los em nome do nosso direito de viver; quebramos o contrato social tanto quanto o quebram os bandidos; eles agem; nós nos omitimos ou agimos em benefício deles. Somos uns efêmeros metidos a eternos. Não somos leões a rugir; somos asnos a zurrar: eis o desfecho da história.
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