O tráfico de drogas, depois de fixar seus domínios nas áreas carentes, foi ao asfalto periférico cobrar ágios sobre várias ilicitudes: gatonet, maquininhas, venda clandestina de bujões de gás, vans, táxis e ônibus piratas, receptação de ouro e jóias, camelotagem de porcarias chinesas etc. Demais disso, acresceram aos seus ágios os pedágios cobrados a entregadores de bens adquiridos legalmente pela população, extorquindo também as empresas prestadoras de serviços essenciais, que silenciosamente se submetem ao pedágio para lhes garantir o dever de atender a população: uma brutal contradição.
Eis onde entram as milícias com garantido sucesso: erradicam o tráfico (em tese) e mantêm a cobrança de ágios e pedágios às vezes até diminuindo seus valores. Assim conquistam as apavoradas comunidades, que, deste modo insólito, se livram dos tiroteios entre traficantes e policiais. Sim, os paramilitares tornam-se imbatíveis, eis que são preferidos pelos que não mais confiam no Poder Público como solução de nada. Acresce ao problema a contaminação da estrutura oficial destinada a coibir essas ilicitudes fomentadoras dos ágios e pedágios... e das milícias.
Esse domínio territorial lembra a Máfia Siciliana...
Contudo, não se trata somente de admitir o avanço das ilicitudes e considerar ágios e pedágios pagos ao Poder Paralelo. Inclui-se nesse emaranhado a propina destinada aos agentes públicos que deveriam reprimir tais ilicitudes, mas não o fazem; e muitas vezes se omitem por autorização ou determinação de políticos detentores do poder porque se mancomunaram com esse sistema ilícito: o “caixa dois” aliado à garantia de voto da massa humana que prefere miliciano a traficante em meio a sua miserável vida. E boa parte do Poder Público, em vez de agir ou reagir como remédio eficaz na prevenção ou na erradicação dessas doenças (tráfico e milícia), alimenta-se da mesma fonte. Torna-se, também, remédio a matar o doente...
A situação é mais grave do que se pode supor e penetra toda tessitura social. Não se restringe a favelas e periferias. Avança pelas ruas e logradouros abastados sob a forma de segurança informal; enfia-se nos gabinetes de autoridades burocráticas e políticas que deveriam desautorizar e reprimir as ilicitudes, mas se tornam inertes e delas se aproveitam. O argumento é simples: a informalidade é via de escape das “injustiças sociais”. Eis como, ao justificar a existência dessas ilicitudes, e ignorar sua proliferação, aquele que deveria ser o remédio (Poder Público) alimenta o tumor social em metástase que já alcança os Municípios interioranos.
Não se há de duvidar da obstinada vontade do ilustre Secretário de Segurança Pública, Dr. José Mariano Beltrame, em combater milícias. Também está certo o novo e não menos ilustre chefe de polícia, Dr. Allan Turnowski (profissional competente e corajoso!), ao admitir faz pouco tempo a extrema dificuldade de vencer esse “Leviatã” guloso e altamente perigoso, apesar da intensa e eficiente ação policial que vem sendo desencadeada com este fim e produzindo resultados expressivos. Afinal, há centenas de ex-policiais e ex-bombeiros, há muitíssimos policiais ativos e inativos e outros agentes públicos não-policiais metidos nisso... E, segundo ouvimos em estranheza, haveria também traficantes que mudaram de lado e hoje formam em milícias... Mas, se se partisse para a repressão das ilicitudes (causas), nem sempre por meio de ações policiais, mas antes por outros órgãos fiscalizadores municipais, estaduais e federais, esta repressão esgotaria a fonte de renda do tráfico e dos paramilitares. E de outros... Funcionaria como uma espécie de prevenção à proliferação de milícias, pelo menos em tese.
Sim, por que não eliminar as causas que estão à sombra da omissão de muitos órgãos não-policiais?... Por que tudo se deve resumir à ação policial, quando esta deveria ser a última instância de solução para um problema cuja causa é a estupenda proliferação das ilicitudes toleradas em descaramento pelo Poder Público?... Ora, o incêndio é apagado pela eliminação do seu foco, já que a prevenção falhou ao permitir que o combustível potencialmente existisse e ainda exista. Agora, mui pouco ou nada adianta jogar água na ponta da chama para apagar o fogo que se alastra a consumir oxigênio de todos os lados (as ilicitudes). É mais fácil isolar o combustível do que o comburente a ocupar a atmosfera...
Por derradeiro, indaga-se: nessa história de conseqüências trágicas para a sociedade, os ex-PMs e afins existem na condição de combustível ou comburente ou calor?... Ou seriam todos, concomitantemente?... Sejam o que sejam, no caso particular do Ex-PM quem o fabrica em série, sem direito a recall, é a PMERJ, o que sugere outra indagação: quantos serão eles espalhados pelas ruas em subempregos ou desempregados, sem chance de reinício de vida em outro labor honesto?...
Prova emblemática é o ex-PM conhecido como Batman, que, ao ser novamente preso, ironizou o sistema oficial que o aprisionou porque confia na solidariedade de seus parceiros, – tais como ele descartados pela corporação por motivos justos ou injustos, – ou na aprovação tácita dos que ainda estão dentro PMERJ aguardando, como “gado de rebanho”, a hora do abate...
(1) Publicado no Jornal MARICÁ EM FOCO, de 22 de maio de 2009 (Maricá/RJ).
PS: sugiro a leitura de artigo (A ESTRUTURA DO CRIME) publicado no O GLOBO de 02/06/2009 (OPINIÃO), de CLAUDIO BEATO e FELIPE ZILLI (pesquisadores do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais.
Um comentário:
Não! infelizmente a sociedade prefere que seja assim, joga para à policia problemas de polícia que na verdade e da sociedade, visto que , o policial sai daqui da terra do nosso meio , não vêm de outro planeta .É fácil culpar á corrupção por tudo de ruim , tem que punir à todos !! aquele que dá o dinheiro e tão culpado quando o que recebe. Infelizmente a vantagem que era somente para existir no futebol à sociedade trouxe para si, que na verdade acabou virando uma arma contra ela mesma, já que estamos num momento em que não existem mais valores familiares , a instituição família está falida . Como cobrar de uma corporação que saí desta instituição falida? infelizmente na cabeça dos jovens não há mais uma esperança , uma utopia , algo que a geração de 80 ainda traz consigo.
Hoje , infelizmente temos uma geração de analfabetos funcionais que no futuro próximo com certeza serão analfabetos políticos!É O PREÇO SERÁ ALTO!!
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