sexta-feira, 20 de março de 2009

Reflexão para o fim de semana


Vida: realidade ou ilusão?

Um caminho para a loucura
Se há algo que me intriga é a definição de realidade. Neste mundo quântico, nem os astrofísicos arriscam-se a afirmar que existe alguma. Deduzo, por conseguinte, que vivo das impressões que pessoas e coisas causam-me no espírito. Neste caso, até mesmo a ilusão me pode impressionar como se realidade fosse. A conclusão é, então, a de que vivo num mundo de ilusões, e a própria realidade seria uma delas. Tudo, enfim, é ilusão. Vivo um nada em torno de nada pensando que vivo um tudo em torno de tudo. Mas esta impressão confusa esbarra na dor física que sinto ou na dor emocional que por vezes experimento. Parecem-me reais. Seriam?...
Entender a dor como ilusão não me faz sentido. Portanto, vivo bem mais para a dor do que para a alegria, forma de emoção quase sempre representada ou movimentada por drogas, dentre as quais, e no meu caso, e esporadicamente, o álcool. Finjo muita vez uma alegria que não sinto. Decerto também posso fingir uma dor ausente, mas logo sou desmascarado ante a aguçada observação do outro.
Há quem afirme que pessoas desprovidas de algum membro sentem-no na mente como se existisse. Há quem reclame da comichão num pé inexistente. Não sei avaliar, não é meu caso; e, se é complicado concluir pela realidade física, imagine a mental, ou espiritual. Seria mesmo realidade ou ilusão da alma? E a alma? Existe? É real ou ilusão?
Neste Universo absurdo, crer em realidade ou em ilusão é aproximar-se da alienação. Mas talvez seja a alienação a saída para tocar o chão com os pés e o ar com as mãos. Alienação seria ver o invisível, tocar o intocável, seria o máximo fingimento humano ou o abraço fraterno ao absurdo. Ou não?
Acontece que não há um só vivente, humano ou animal, e não há nenhum vegetal ou mineral (vegetal e mineral são coisas inertes ou seriam pensantes?) com a mesma identidade. São diferentes, sem dúvida ou com dúvida. Contudo, não há uma só folha igual numa mesma árvore. Tudo é diverso, ou cogito erradamente que o seja? Sim, tenho a impressão de que sim!... E que seria impressão?
Suponho que a impressão pertence ao sujeito em relação ao objeto que se vê, ouve ou toca. Seria o reflexo dos meus sentidos, que, aliás, existem em outros seres que afirmamos serem despossuídos de intelecto. Como posso concluir isto? Com meus sentidos até inferiores a muitos desses seres?... Ah, reflexão tola, esta que faço!... Não me leva a nada além da dúvida resumida na indagação tão famosa: “Quem somos nós?” Soubéssemos a resposta, estariam reveladas as outras três: “De onde viemos?... Por que viemos?... Para onde vamos?...”
E seríamos felizes?...
Geralmente me preocupo em desvelar para onde irei após a morte. Não me ocorre muito a idéia de saber de onde vim. Curioso... O ser humano se costuma dedicar à morte, cuja espera apavorante é sublimada pela outra da “vida eterna”, da “salvação da alma” etc., dogmas decorados por irresistível temor à morte. Tememos a morte ou amamos demasiadamente a vida? Creio que tememos o desconhecido que, no fundo, não desejamos conhecer. Tememos e amamos o Mistério. Mas, independentemente disso, não nos compete evitar que nasçamos nem nos é dado o direito de adiar a morte. Não temos o livre-arbítrio para decidir nascer ou morrer. Somos peças de um grande tabuleiro de xadrez que se chama Universo.


Sob o prisma dos dogmas, um dos jogadores seria Deus e o outro, o Diabo? Não creio que seja assim nem que “assim seja!”. Isto não pode ser realidade nem ilusão. Está além das conjeturas humanas, além da minha imaginação. Pois o Universo, à vista de nossa pequenez, é absurdo. E a cada avanço da inteligência humana nos multifacetados caminhos quânticos, a mais e mais nos enrolamos em leis e teorias confusas até para quem está certo de que as conhece.
Creio que por esta via de busca da realidade não venceremos a incerteza de que a realidade está mais para ilusão, ou o contrário. Porque, quanto mais visível fica o invisível, não ultrapassamos o limite do grande desconhecimento do que seja a tal “matéria negra” que impera no Universo a nos desafiar. E depois de desvelada, e se o for, ainda assim não saberemos se a conclusão nos fará entender finalmente o que sejam realidade e ilusão. Ah, é hora de me dar um beliscão, um tapa na testa; é hora de acordar para a realidade ou para a ilusão de que sou menos que algo microscópico a cumprir uma desconhecida finalidade no Universo. Ou nem isto...
Ah, o jeito então é me preocupar com o guarda da esquina, com o bicentenário da briosa e seus problemas internos e externos, senão eu fico louco, se já não estou. Seja como for, esta é a minha receita, o meu “sal da vida”!... E por que não poetar sobre as vantagens e desvantagens da vida?...




Vida...
Fração do tempo infinito
Espaço mínimo em cosmo imenso
Vida incerta vinda para a morte certa
Pecado original...
Nascer é pecar?
Vidicídio: não deixar nascer... matar
Deixar nascer sem vontade... pra morrer
Esterilidade ou natalidade?
Multiplicar ou não multiplicar?
A vida...

Vida...
Deslembrança total do início de tudo
Acúmulo de recordações
Lembranças do tudo em torno de si
Deslembrança total no fim,
Escrava da fisiológica necessidade
Des-humanamente incontrolável
Inevitável sofrer de paixão
Perdas dolorosas
De Vidas...

Vida...
Fardo adverso
Nascer na miséria
Experimentar a fome
Em meio à fartura.
Doenças...
Mais doenças
Desilusão.
Opressão...
Que vantagem tem a vida?

Vida...
Esperança vã num tempo
Que inexoravelmente se esvai...
Sentimentos maus
Vencendo a inocência
De uma plenitude vã
O bem vencido pelo mal
Morte certa.
Que vantagem é essa?
Isto é vida?

Vida...
Vigilância, punição, ofensa
Pressão, depressão, descrença
Absurdo, absurdo, absurdo!...
Nascer e morrer, eis a vida: o meio...
Antes da vida,
O nada?...
Depois da vida,
O quê?...
Ah, desconhecimento...
Que vantagem é a vida?

Vida...
Quem sabe a morte é vantagem?
Como saber?...
Crer ou não-crer?
A fé ou a não-fé?
Ser ou não ser?
Várias questões sem saber
Contradições e paradoxos
Temores e incertezas
A vida tem vantagens?

Vida...
Existência-essência
Essência-existência
Ser-ente
Ente-ser
Natureza-condição
Condição-natureza
Vontade-estoicismo
Essa é a vantagem da vida?...

Vida...
Resolução em direção à morte.
Fim sem previsão
Viver é a maior questão!
Viver o hoje sem amanhã
O presente sem passado
A questão sem discussão...
Ora!...
A vida é pra ser vivida!...
Eis a vantagem da vida!

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