sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O Estado Morreu...

Morrem tantos PMs ultimamente que nem tempo há para lamentações. Quando se pensa em lastimar a morte de um, outra ocorre e lhe toma o lugar na interminável lista de tombados em serviço ou em conseqüência da profissão policial-militar. Jamais na história da bicentenária corporação morreram tantos assim, como baratas indiferentemente pisoteadas. Nem na Guerra do Paraguai tantos foram exterminados.
Curioso é o discurso dos mandatários políticos justificando a mortandade dos PMs como se conseqüente da “política de enfrentamento”. Pena que não morram os filhos deles, ou seus pais, ou seus irmãos, para que sintam na pele e no espírito o significado real da dor da perda. Pena, sim, pena! Pois eles estão protegidos pelo poder e cercados de segurança. Um dia não mais gozarão de tantos privilégios e poderão ser as vítimas...
Mas eis porque podem discursar à vontade, falar em “audácia dentro da barbárie”, falar de “morte conseqüente do combate”, quando, na verdade, é a falta de combate sistemático ao banditismo que vem produzindo a tenebrosa motivação dos criminosos a assassinar diariamente os PMs. Fossem poucos, esses PMs, nem mais existiriam, de tanto que morrem. E quando um PM logra matar o bandido, este é um “suposto bandido”, mesmo que estivesse atirando contra o PM, e as chances de o PM culminar preso são enormes.
Sem mais palavras, regravo o poema de Salgado Maranhão (Prêmio Jabuti de Poesia), brasileiro, negro, que trabalha como massagista para não dormir debaixo dum viaduto e não morrer de fome. Também, que de bom pode esperar um grandioso poeta num país em que a morte do policial e de qualquer cidadão é tão banal?
Por favor, leiam e sintam na alma o poema de Salgado Maranhão (ele me dedicou a mim a obra-prima). Regravo-o em homenagem especial ao tenente-coronel PM José Lourenço, ou ao “Soldado PM Desconhecido”, pois são tantos os companheiros a morrer que nem dá tempo de saber quem são eles, exceto seus familiares, que carregarão a dor da perda para o resto da vida, assim como é certo que no dia seguinte outros infortunados PMs lhes ocuparão o lugar dentre as novas vítimas, e assim sucessivamente... Até quando?...


“FARDA


Melhor se se chamasse fardo,
em vez de farda, – esse travel
cheque para o sacrifício –
a defender o indefensável.

Melhor se se chamasse alvo:
mural da ira acusadora
contra os próprios personagens
que lhe julgam protetora.

São, normalmente, pretos, pardos,
Pobres, sobras de etnias:
gente fabricada em série,
que ao perder, tira se outra via.

E prossegue o ritual
desse espetáculo de horrores,
de Caim matando Abel
numa guerra sem vencedores.

E prossegue essa torrente
do sangue que não socorre,
o drama de ser ver morrer,
do lado de onde sempre morre.”


(SALGADO MARANHÃO)

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