Quando eu comandava o 9º BPM da PMERJ, na Zona Norte do Rio, em 1989/1990, tive a oportunidade de ir a Campos para me somar a um contingente do 8º BPM e localizar uma ilha fluvial pertencente ao traficante Antonio Carlos Coutinho (TUNICÃO), da favela de Acari, morto em confronto com guarnições que eu comandava durante operação repressiva na supracitada favela.
Em lá chegando, e vendo a tropa de apoio em formatura antes de seguir ao local onde logramos identificar a ilha, no rio Muriaé, com 10.000m2, que estava em nome da viúva do traficante, chamou-me à atenção o aspecto individual da tropa formada, todos homens de idade semelhante aos meus comandados, porém com uma importante diferença; tinham seus cabelos ainda normais, sem o branco do envelhecimento precoce que caracterizava os homens que compunham a minha guarnição. E tive ainda a chance de observar bastante a tropa do batalhão de Campos, indagando de muitos a idade, além de observar a pele lisa da juventude de cada um ainda preservada.
Tornei ao Rio e ao 9º BPM, fazendo uma comparação grosseira do cabelo e da pele dos meus comandados em idade aproximada daqueles que vi em Campos. Não fiz nenhuma pesquisa, apenas constatei aleatoriamente a diferença entre um grupo e outro, mas suficiente para perceber, sem dúvida, que meus comandados estavam bem mais avelhantados do que seus colegas campistas.
Claro que não me foi difícil concluir que o estresse que afetava os PMs do 9º BPM era sobremodo aberrante, se comparado com as tensões enfrentadas pela tropa interiorana. E pude firmar a certeza de que as situações diárias de risco e o excesso de pressão envelheciam os PMs do 9º BPM bem mais que seus iguais em idade lá do 8º BPM. Mas não tive tempo de pesquisar isto e deixo aqui a ideia para algum oficial ainda em tempo de aperfeiçoamento no CAO (Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, para capitães) ou no CSP (Curso Superior de Polícia, para majores e tenente-coronéis).
Creio que o momento exige que se faça essa pesquisa, de modo que se possa comparar o quanto são diferentes os ambientes sociais no RJ e como isto influencia o estresse da tropa, tornando-a diversa em relação ao estado de saúde em geral e ao estresse individualizado.
Ponho aqui o assunto para que os companheiros de quaisquer PPMM brasileiras façam o mesmo, de modo a provar que nem precisa comparar a tropa de PMs com a das Forças Armadas, bastando resumir a pesquisa num só Estado Federado, sublinhado o RJ como excelente amostragem.
Mais ainda: essa pesquisa poderia anotar, também, a incidência de doenças psicológicas e psiquiátricas e a quantidade de feridos com perda de membros e órgãos, além de mortos, durante um período que poderia ser de pelo menos trinta anos.
Ponho trinta anos de propósito, porque, se hoje se reclama que morrem mais de cem PMs por ano no RJ, na década de 90, em especial durante o desgoverno Brizola, o número de mortos por anos ultrapassava a casa dos 200 PMs, número, aliás, difundido recentemente pelo Jornal EXTRA.
Importante estudar o assunto neste momento em que se fala de mudança das regras de aposentadoria num país que não respeita o policial, e que desconhece o fato de que a média de aposentadoria por anos de serviço policial em muitos países civilizados é de 25 anos, variando os métodos de pagamento dos inativos, mas respeitando o fato de que se trata de profissão exercida quase que em tempo permanente de guerra.
E não é difícil pesquisar isto, é só querer e ser autorizado pelo sistema situacional predominante, talvez o maior óbice, pois a tendência do poder interno é a de ocultar esta dura realidade para agradar a governantes insanos, que não querem assumir nenhum fracasso administrativo, cultura que se transporta naturalmente para intramuros dos quartéis.
Cmt, quando foi que passamos a aceitar promoções no lugar de um salário decente? E por que as condições de trabalho são tão contraproducentes?
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