Ainda não li o livro do estimado Coronel PM Frederico Caldas, mas
o farei com prazer tão logo a ele tenha acesso (já encomendei). Porém, como escrevi bastante no
meu blog sobre o tema UPP, sempre, claro, com minha visão crítica, porque estou
geralmente a buscar contrastes e exceções como maneira de tentar melhorar o mundo, sei ele trará um toque especial de esperança, o que o torna ímpar.
Digo assim porque o otimismo é da índole do Coronel PM Frederico Caldas. Também imagino, ainda sem ler o
livro, que Frederico Caldas dever ter traçado o PM atuante em UPP como espécie
de herói; e, se o fez, fê-lo muito bem, pois eles, apesar de tudo e dos pesares,
conseguiram e ainda conseguem fazer a diferença por lá; já outros morreram
tentando, e a imensa maioria não desistiu nem desiste da espinhosa missão de
servir em UPPs dentro de favelas infestadas de malfeitores.
Não digo que a favela seja feita somente de pântanos; há por
lá uma e outra flor de alegria em meio ao pânico dos tiroteios e das mortes de
muitas crianças e adolescentes, de um lado, e de adultos e idosos, de outro,
sem que nenhuma dessas pessoas tenha praticado na vida algum crime. Também não
digo que na favela impera a indiferença entre os moradores, porque,
contrariamente, é lugar da solidariedade orgânica, distante do que
caracteriza a sociedade formal. Sim, a favela é marcante exemplo do que o
saudoso Paulo Bonavides defende em obra dele: é “comunidade orgânica”,
com todos os seus traços característicos de pobreza, indigência e miséria, a
eles atualmente acrescidos os ultrajantes riscos de morte, além dos decorrentes do descaso
público e das roubalheiras de brasileiros formais que se fingem solidários e se
vestem de favelados em época de eleições.
Talvez lembrando Thomas Morus pudéssemos conceber uma
“favela-utopia” a acolher pessoas aprofundadas em solidariedade e atendidas nos
seus direitos básicos à saúde, à educação e à segurança, dentre outros
indispensáveis à vida humana com qualidade. Mas hoje, em virtude do maldito
tráfico de drogas e de armas de guerra sofisticadas, e principalmente devido à
ganância humana, a vida favelada é um pesadelo que só cessa com a morte. Sim, a
vida favelada, com ou sem PM, é corda bamba em razão da infestação do crime; e,
quando entra em cena a PM, ela não consegue, como jamais conseguiu, tornar o
ambiente favelado “uma ilha chamada Utopia”. Em contrário, acaba ampliando muitas
vezes os riscos de quem não tem como se defender de nada, nem de traficantes e
milicianos ou de PMs com eles guerreando para tentar pacificar o ambiente
favelado.
Eis o quadro em que vejo a favela num contexto que bem
conheço: um infeliz morador, adulto ou criança, sem saber para onde corre nem
como se proteger dos inesperados tiroteios: do mal contra o mal ou do bem
contra o mal, não importa, o efeito é o mesmo: sangue no chão das vielas
maltratadas por um poder público corrupto que só pensa em favela apinhada de
polícia, especialmente de PMs, como se estes fossem os “salvadores da pátria”;
melhor dizendo, e as dignas autoridades sabem: PMs não passam de “buchas de
canhão”...
Será que exagero?... Creio que não, o que não desmerece o
esforço de milhares de oficiais e praças da PMERJ, homens e mulheres, que,
lotados em UPPs, vêm se dedicando a “enxugar gelo”, expressão que “roubo” do
ilustre mestre Coronel PM, Professor Universitário e Escritor Jorge da Silva
para sintetizar meu raciocínio. Também creio, por último, e por outro lado, que o companheiro
Frederico Caldas defenderá seu contraponto, porque é também real e não se trata
de “enxugar gelo” no sentido particular do seu significado, tanto que não
permitiu até agora que a PMERJ virasse as costas para muitos favelados que
sonham, também, com aquela “ilha” de Thomas Morus, e sabem que se o PM
repentinamente lhes virar as costas, como se a favela fosse espécie de
“território inimigo”, a situação de paz e tranquilidade tão sonhada jamais será
alcançada. Eta dilema!...
Sim, há todo um dilema a ser enfrentado por uma PMERJ que já
morreu defendendo o solo pátrio contra o inimigo estrangeiro, que já enfrentou
núcleos de comoção intestina ao longo dos seus mais de 200 anos. Sim, sim, há
todo um dilema dentre muitos que se desdobrariam aqui como um círculo
infelizmente vicioso, porque a permanência de PMs em UPPs, assim como a sua
retirada, ambos significam morte de inocentes, em última análise. Que fazer
então com esse programa, que, malgrado o excesso de mentiras quanto aos seus
“planejamentos operacionais”, nasceu por acaso no Morro Dona Marta, como já
confessou Beltrame?...
Quem sabe, talvez, o seu erro tenha sido o avanço apoteótico, tal como fizeram os exércitos napoleônicos em solo russo,
e que terminaram derrotados pelo frio, pela fome e por doenças?.... Por tudo
isso, creio, sim, e me arrisco a dizer que o livro do Coronel PM Frederico Caldas, que ainda não
folheei, de algum modo trará o tema à discussão. E em boa hora. Pois, afinal, o dilema persiste,
traduzido numa equação simples: se a PM se retirar das favelas em correria é
demonstração de covardia de uma instituição que existe para demonstrar força e
propiciar sensação de segurança ao cidadão em qualquer coletividade, rica ou
pobre; se, por outro lado, permanecer nos atuais moldes, a demonstração de
força dependerá de um fator primordial na seletividade do uso dela:
superioridade numérica e bélica em relação ao inimigo. Hum...
Ah, sei que muitos não gostarão do vocábulo “inimigo”
referindo-se a traficantes e milicianos! Mas como definir homens armados de
fuzis andando em patrulhas nas favelas e impondo suas próprias leis?... Ora bem, é como Rousseau define "malfeitores" no seu Contrato
Social...
Agora irei ao livro do Coronel PM Frederico Caldas; e, mesmo sem conhecer seu conteúdo, sei que nele estará contida a verdade sob a ótica de um ser
humano sabidamente otimista em seu exercício profissional, importante
contraponto a pessoas, como eu, que não veem saída para as UPPs por razões nem
tanto humanas, mas doutrinárias e pragmáticas, que têm na máxima frequência do
patrulhamento no ambiente social como único formato democrático de ação da
polícia administrativa, e que se resume na proteção igual do cidadão, seja favelado,
seja aquinhoado (prevenção pela presença constante e repressão como exceção). Agora sim, vamos
ao livro!
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Morei em favela. Ha uma diferença grande em querer uma policia melhor e não querer policia nenhuma. Transformaram uma boa ideia em um pesadelo. E coroneis aceitaram isso. Sem constrangimento. O sr nem precisa publicar meu comment pq ele é pro sr mesmo.(ler). As visitar minha tia na Tijuca, ouvi de uma senhora, sua lavadeira e passadeira, que agora com a saida da UPP não pode mais dormir em paz pq o baile vara a madrugada com suas letras de putaria. Quem defende essas pessoas??? E por fim, a PM deveria se envergonhar da quant. de unidades adm; se a PM fosse um restaurante, teria mais gente na contabilidade do que servindo mesa, cozinhando e lavando a louça. Somos autofágicos, gafanhotos que só param qdo nada mais ha para sugar.
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