quinta-feira, 28 de junho de 2018

NA ANTESSALA DOS DISCURSOS: O ÓDIO COMO REGRA NA CONSTRUÇÃO DAS VERDADES FORJADAS


Por Marcelo Adriano Nunes de Jesus - Professor de História*



Eric Hobsbawn, eminente historiador inglês em sua obra  clássica “A era dos impérios” destacou a irresignação de alguns soldados que foram para a guerra sem saberem ao certo o por quê lutavam.
Diferentemente do contexto ocorrido no Velho Mundo em meados do século XIX, contemporaneamente no estado do Rio de Janeiro os “soldados” das forças de segurança sabem perfeitamente e têm, de forma cristalina para si, o motivo da guerra que diariamente travam: a  liberdade do cativeiro de milhares de pessoas que vivem subjugadas por traficantes que não hesitam, nem por um segundo, em acionar os gatilhos de seus poderosos fuzis na “defesa” daquilo que denominam “seus territórios”.
Para esses inimigos da República, não importa se a bala que sai de seus fuzis vai atingir policiais, “inimigos”, crianças ou inocentes. Para eles, o importante é manter o controle de seus feudos, e nesse diapasão, a vida humana é o que menos importa.
Nesse cenário de guerra urbana quando um policial é abatido quem se importa com o tiro que o atingiu, com exceção de sua família e amigos?
No dia seguinte à tragédia, a mídia clássica vai se limitar a noticiar a morte daquele trabalhador como mais um número na triste estatística que não para de crescer e que diariamente vemos estampada nos tabloides e reproduzida nas vozes geladas dos âncoras dos telejornais.
Em seus velórios não se vê nenhum representante da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa nem tampouco se ouve dessas mesmas pessoas qualquer  manifestação em desfavor do  Executivo para que dê uma pronta resposta aos responsáveis por mais aquele homicídio.
De outro giro, o policial quando incursiona nesses labirintos que aqui vamos denominar de “um convite para a morte”, ele tem que se preocupar, em resposta a uma injusta agressão, aonde aquele tiro disparado de sua arma irá atingir; tem que se preocupar com os inocentes pelo caminho, com seus companheiros e consigo mesmo.
É parceiro, não é fácil!
Considerando que boa parte da sociedade se posiciona contrária às ações policiais – muito em razão do que é mentirosamente forjado pela mídia - , esses bravos combatentes seguem em sua missão para garantir às pessoas o direito constitucional de ir, vir, permanecer e desfrutar da paz necessária para tocarem suas vidas.
Em linhas finais é importante registrar que está em cartaz nos cinemas brasileiros o longa metragem “Auto de Resistência”, obra de ficção que retrata a antítese da realidade que o policial no Rio de Janeiro enfrenta.
Sem dúvida que o filme apresenta ao público leigo realidade diametralmente oposta à vivida pelos policiais, mas quem se preocupa com isso? Afinal, a verdade não aumenta pontos no IBOPE, não vende jornais e não rende um bom dinheiro de bilheteria.
De qualquer sorte, esse filme terá o condão de criar um estereótipo do que realmente acontece nas favelas do Rio de Janeiro. Sim, não há como negar a existência de maus profissionais na polícia, eles existem e estão lá, mas felizmente representam uma minoria, e não como o filme quer retratar, todavia, essa leitura da realidade caberá a cada um dos leitores analisar, afinal, “a ficção consiste não em fazer ver o invisível, mas em fazer ver até que ponto é invisível a invisibilidade do visível”. (Michel Foucault).
            A luta continua.
               Rio de Janeiro (RJ), 26 de Junho de 2018.

                     Marcelo Adriano Nunes de Jesus

*Sobre o autor.
Marcelo Adriano Nunes de Jesus é graduado em História pela Faculdade Integradas Simonsen (RJ), pós graduado em História do Brasil pela Universidade Cândido Mendes (RJ) e mestrado em História Social pela Universidade Severino Sombra (Vassouras – RJ) – curso trancado. Atualmente é acadêmico do 8º período de Direito na Faculdade Metropolitana São Carlos – FAMESC - (Bom Jesus do Itabapoana – RJ).
É professor da rede pública estadual do Rio de Janeiro lecionando a disciplina História no ensino fundamental e médio.



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