Por Marcelo Adriano Nunes de Jesus - Professor de História*
Eric
Hobsbawn, eminente historiador inglês em sua obra clássica “A era dos impérios” destacou a
irresignação de alguns soldados que foram para a guerra sem saberem ao certo o
por quê lutavam.
Diferentemente
do contexto ocorrido no Velho Mundo em meados do século XIX, contemporaneamente
no estado do Rio de Janeiro os “soldados” das forças de segurança sabem
perfeitamente e têm, de forma cristalina para si, o motivo da guerra que
diariamente travam: a liberdade do
cativeiro de milhares de pessoas que vivem subjugadas por traficantes que não
hesitam, nem por um segundo, em acionar os gatilhos de seus poderosos fuzis na
“defesa” daquilo que denominam “seus territórios”.
Para
esses inimigos da República, não importa se a bala que sai de seus fuzis vai
atingir policiais, “inimigos”, crianças ou inocentes. Para eles, o importante é
manter o controle de seus feudos, e nesse diapasão, a vida humana é o que menos
importa.
Nesse
cenário de guerra urbana quando um policial é abatido quem se importa com o
tiro que o atingiu, com exceção de sua família e amigos?
No
dia seguinte à tragédia, a mídia clássica vai se limitar a noticiar a morte
daquele trabalhador como mais um número na triste estatística que não para de
crescer e que diariamente vemos estampada nos tabloides e reproduzida nas vozes
geladas dos âncoras dos telejornais.
Em
seus velórios não se vê nenhum representante da Comissão de Direitos Humanos da
Assembleia Legislativa nem tampouco se ouve dessas mesmas pessoas qualquer manifestação em desfavor do Executivo para que dê uma pronta resposta aos
responsáveis por mais aquele homicídio.
De
outro giro, o policial quando incursiona nesses labirintos que aqui vamos
denominar de “um convite para a morte”, ele tem que se preocupar, em resposta a
uma injusta agressão, aonde aquele tiro disparado de sua arma irá atingir; tem
que se preocupar com os inocentes pelo caminho, com seus companheiros e consigo
mesmo.
É
parceiro, não é fácil!
Considerando
que boa parte da sociedade se posiciona contrária às ações policiais – muito em
razão do que é mentirosamente forjado pela mídia - , esses bravos combatentes
seguem em sua missão para garantir às pessoas o direito constitucional de ir,
vir, permanecer e desfrutar da paz necessária para tocarem suas vidas.
Em
linhas finais é importante registrar que está em cartaz nos cinemas brasileiros
o longa metragem “Auto de Resistência”, obra de ficção que retrata a antítese da
realidade que o policial no Rio de Janeiro enfrenta.
Sem
dúvida que o filme apresenta ao público leigo realidade diametralmente oposta à
vivida pelos policiais, mas quem se preocupa com isso? Afinal, a verdade não
aumenta pontos no IBOPE, não vende jornais e não rende um bom dinheiro de
bilheteria.
De
qualquer sorte, esse filme terá o condão de criar um estereótipo do que
realmente acontece nas favelas do Rio de Janeiro. Sim, não há como negar a
existência de maus profissionais na polícia, eles existem e estão lá, mas
felizmente representam uma minoria, e não como o filme quer retratar, todavia,
essa leitura da realidade caberá a cada um dos leitores analisar, afinal, “a
ficção consiste não em fazer ver o invisível, mas em fazer ver até que ponto é
invisível a invisibilidade do visível”. (Michel Foucault).
A luta continua.
Rio de Janeiro (RJ), 26 de Junho
de 2018.
Marcelo Adriano Nunes de
Jesus
*Sobre
o autor.
Marcelo
Adriano Nunes de Jesus é graduado em História pela Faculdade Integradas
Simonsen (RJ), pós graduado em História do Brasil pela Universidade Cândido
Mendes (RJ) e mestrado em História Social pela Universidade Severino Sombra
(Vassouras – RJ) – curso trancado. Atualmente é acadêmico do 8º período de
Direito na Faculdade Metropolitana São Carlos – FAMESC - (Bom Jesus do
Itabapoana – RJ).
É
professor da rede pública estadual do Rio de Janeiro lecionando a disciplina
História no ensino fundamental e médio.
Contato:
professormarcelonunes@gmail.com
Um comentário:
Obrigado, Mestre!
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