sexta-feira, 21 de julho de 2017

A VIOLÊNCIA NO RJ - A PUJANÇA DO NARCOTRÁFICO E A DESTRUIÇÃO DA SOCIEDADE E DO ESTADO



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)





Engana-se quem pensa que o tráfico de drogas mudou somente a paisagem das favelas no RJ, acrescentando-lhe a imagem das quadrilhas armadas e homiziadas em meio à miséria; porque, lamentavelmente, mudou também, dentre muitas outras, a paisagem dos quartéis militares estaduais e a dos lares de PMs, os primeiros envergonhados de si e os segundos enlutados diariamente. Porque, no fim de contas, o milionário tráfico de drogas instituiu a distribuição de polpudas propinas a pessoas que escolheram a vida militar estadual para se livrar da imobilidade social que grassa como praga o país. Sim, sem essa de vocação!... Já se foi o tempo da vocação!... O que muitos homens e mulheres de classes menos abastadas atualmente buscam ao ingressar na PMERJ é um subemprego de alto risco por um mínimo salário, porém associado a um falso poder que lhe possa garantir vida social mais aproximada do que poderíamos definir como “classe média de periferia”.

Para esses brasileiros sem oportunidade de trabalho, nem mesmo o de “quebrar pedras” na construção civil, a PMERJ lhes surge como redenção. E o tráfico concomitantemente lhes emerge como oportunidade de ganho rápido e polpudo, pois é certo que os serviços informais de segurança e as pequenas propinas contravencionais jamais suprirão as vantagens oferecidas pelo tráfico... E, se de um lado o traficante se enche de dinheiro, joias caras, carrões e mulheres bonitas, do outro o mau policial, que antes era ou intentava ser um bom cidadão, ao não encontrar trabalho honesto para o seu sustento, - e já de cabeça fraca e bucho vazio, - imita o traficante buscando a qualquer custo os mesmos desvalores capitalistas. E ambos, bandidos e PMs, unidos por laços comuns de interesse pecuniário, guerreiam ou negociam entre si a divisão desses quinhões oriundos do mais vil comércio que enlameia sem controle o planeta Terra; o narcotráfico. Que triste realidade!

Eis aí, sim, uma realidade nua e crua até então impensável: ou a guerra do tráfico, que mata de parte a parte, ou a negociação espúria entre maus PMs e “bons bandidos”, todos atrás do lucro fácil que, por um lado, eventualmente lhes dá mais tempo de vida em desafinado concerto, ou, por outro, encurta-a em confrontos sangrentos entre PMs e bandidos que não se misturam. Mas ao fim e ao cabo tudo oscila como pêndulo dum relógio da morte ou da cadeia nos seus extremos, sem meio-termo. E a sociedade, no seu todo, contribui largamente para a existência, a manutenção e a pujança desse comércio ilegal que funciona como engrenagem de um sistema transnacional sem mais chefes ou líderes.

Sim, sim, o narcotráfico caminha com suas próprias pernas formadas ao “modo Leviatã”, ou seja, por homens com ou sem identidade que nascem e morrem na impunidade, ou são presos quando o véu dos seus negócios escusos ou de suas guerras particulares vai ao chão do seu palco de horrores num teatro em que a plateia é o Estado e a Sociedade igualmente podres. Mas como esses homens e mulheres se proliferam em progressão geométrica, substitui-se imediatamente qualquer vácuo humano que surja de caminho, por ferimento, morte ou prisão, e em raros casos por abandono do lucro fácil da parte de alguns que resolvem ir ao céu futuro em orações tardias.

É feio expressar tudo assim, é terrível constatar de maneira tão crua esta realidade! Mas pior ainda é ignorar esta agonia em que se enfiou a Sociedade do RJ e seu “Estado-Protetor”, ambos formando um manancial único de PMs, traficantes e “cidadãos”, os últimos entre aspas para diferençá-los dos primeiros, que são socialmente proscritos, sendo certo que o descontrole de tudo nos permite apostar sem erro no caos total. E aqui, talvez, e paradoxalmente, esteja a solução desta agonia social, pois, como nos ensinou Erich Fromm, “a calamidade é ruim para o povo, mas boa para a sociedade.”

Sim, tudo isso se configura numa tenebrosa calamidade social que avança rumo aos bairros luxuosos de quem comanda os pés de chinelo desde a monarquia. Refiro-me aos senhores da Casa-Grande que ganham eleições ou se habilitam sem concorrentes ao poder burocrático dos nomes de família que não perdem concurso público, de um lado (plateia), tendo do outro os protagonistas historicamente amontoados naquele palco de horrores: os nascidos e proliferados na Senzala, que é a miséria escrava de ontem transformada na miséria favelada e periférica de hoje, e assim o será amanhã. Será?...

Talvez, talvez, talvez... Posto ser quase certo que um dia os barracos serão tantos que ruirão devido ao excesso do seu próprio peso; e como avalanche invencível soterrarão os edifícios que os usam como panos de prataria, até se tornarem inservíveis panos de chão e irem ao monturo para onde escoam as coisas imprestáveis e doentes. Só que o monturo se tornou montanha a aguardar a avalanche, tal como a neve a aguarda lá no pico, até rolar em incontrolável ferocidade e destruir tudo onde ninguém supõe ser possível. São assim os desastres: não escolhem dia, hora, lugar nem corações, sejam puros ou impuros!...




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