“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles
que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não
viram.” (Albert Einstein)
A
atual gestão da PMERJ busca agora a coragem, que antes faltou aos seus antecessores,
para mudar o rumo operacional da corporação, creio que com o aval do andar de
cima da SSP, pelo que inferi da angústia do Dr. Roberto Sá, delegado da PF e
ex-Oficial PM formado em Operações Especiais, atual gestor da segurança
pública.
Nota-se
a mudança de rumo pelas matérias que vêm sendo veiculadas no Jornal EXTRA, por
sinal o meio de comunicação que se antecipou em apontar que alguma coisa vai de
mal a pior na prática operacional da segurança pública, em especial em relação
à PMERJ, esta que não perde a mania de querer abraçar o mundo, enquanto outras
instituições do setor se mantêm em cautela, digamos que a meio vapor, enquanto
o fogaréu esquenta nas favelas e no asfalto em todo o RJ.
Claro
que a maior população concentrada no Grande Rio responde pelo maior número de
eventos operacionais, mormente os confrontos entre traficantes e PMs, com as
UPPs e seus efetivos recebendo o impacto mais danoso e letal desta péssima
providência surgida ao acaso e consolidada a ferro e fogo durante o desgoverno
Cabral, em vista, principalmente, da Copa do Mundo e das Olimpíadas, eventos
que levaram o RJ ao caos financeiro e à calamidade social de um banditismo
urbano que nunca foi tão pujante, apesar do hercúleo e oneroso esforço das
PMERJ, esta que vem pagando caro por não saber recuar desta situação de
fracasso.
Mas
agora, finalmente, a própria PMERJ assume para si o fracasso, apresenta números
alarmantes de letalidade policial, em especial nas UPPs, desmitificando esse
modelo operacional que já nasceu para morrer na praia, como, aliás, cansei de
prognosticar aqui, apenas seguindo a tradicional lógica operacional da polícia
administrativa e nada mais. Digo-o para que não pensem os leitores que me ufano
por “descobrir nova pólvora”. Nada disso, apenas me baseei na rotina do
policiamento ostensivo preventivo, este que depende de máxima frequência do
patrulhamento nas ruas e logradouros, ficando a repressão de polícia
administrativa num segundo plano, como exceção. Mas hoje, devido à paranoia das
UPPs, modelo de policiamento que nasceu com a pretensão de ser “pacificador”,
ou seja, “preventivo”, tornou-se abatedouro de PMs e ampliou sobremodo a
repressão sob o pretexto da já famigerada “guerra às drogas”, como se tal
situação de criminalidade fosse início, meio e fim da corporação, seu “carro-chefe”
infelizmente estimulado por quem decide onde, como e quando policiar, deste
modo aprofundando o fracasso operacional de que tanto falo.
Na
verdade, não sei se a retomada da lógica operacional, - fundada na simplicidade
e na ideia de que, como dizia Henry Ford, “o que deve ser feito deve ser bem
feito”, - não sei se esta lógica operacional resolverá o problema da violenta
criminalidade no RJ. Aliás, sei, sim, que não resolverá nada, se as demais
instituições do Sistema de Segurança Pública, nele inseridos todos os seus
subsistemas, - Polícias Estaduais (Civil e Militar) e Federais (PF e PRF),
justiça, MP, Subsistema Prisional, DETRAN e quejandos, - se as demais
instituições não abraçarem também e fortemente suas responsabilidades. Há ainda
de se convocar a sociedade, de modo que se atenda ao preceito constitucional
gravado no Art. 144 da CRFB, resumido na ideia de que a segurança pública é “dever
do Estado e responsabilidade de todos.” Sem tal providência o caos
permanecerá...
Mas
para esta nova/antiga ordem vingar é indispensável assumir que o momento é de
fracasso; e, a partir desta constatação, se partir para uma nova programação no
sentido de coibir minimamente a avassaladora criminalidade no RJ, esta que se
caracteriza como “guerrilha” armada com fuzis de última geração e pela falta de
contrapartida punitiva à altura do problema, como bem desabafou o Dr. Roberto
Sá no sepultamento do PM Anderson. Enfim, o recado está dado pelo secretário e
pelos gestores da PMERJ, como nos informa a importante matéria do EXTRA. Falta
agora cobrar a reunião do sistema de segurança pública para traçar o novo rumo,
não mais um “rumo ao nada”, como sugere Paulo Moska na sua canção, mas um rumo
ao tudo e ao todo, mesmo que seja uma “pedra de Sísifo” a ser rolada montanha
acima. Que todos então se unam a empurrar a pedra, já de antemão sabendo que
ela insistirá em descer e encontrar a sua inércia no nada.
Um comentário:
Infelizmente o povo fluminense sente-se abandonado no que diz respeito à segurança pública e seria hipócrita se dissesse que a culpa é dos policiais. Sabemos que existe um número muito grande de policiais omissos (sempre foi assim), porém temos um enorme contingente de bons policiais, combatentes de verdade, que dão sua vida no combate à criminalidade.
Sabemos que o quadro mudou em relação a 35 anos. Lembro-me dos meus tempos de Patamo, que varava a madrugada, somente com minha equipe, em qualquer lugar de Niterói atrás de bandidos e quase sempre lograva êxito; hoje a história é outra, mas como senhor mesmo diz no texto, alguma coisa deve ser feita. Shakespeare disse que para quem não sabe onde ir, qualquer caminho serve.
Desejo uma excelente semana aos meus amigos e aos inimigos também. Com meus respeitos, um abraço. Paulo Xavier ex-PM.
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