quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

VIOLÊNCIA URBANA NO RJ – A NATURALIZAÇÃO DA MORTE DE PMs – COMPARAÇÃO ENTRE 1989 E 2017



“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)



Foto da Galeria de Heróis, local onde os PMs mortos são homenageados, com destaque da frase escolhida pelos PMs daquela época, depois apagada por algum frouxo.

Lembro-me de que em 1989, no mês de julho, na condição de tenente-coronel PM do serviço ativo, viajei aos EUA em estudos como prêmio por ter sido no ano anterior o primeiro colocado no Curso Superior de Polícia – CSP. Escolhi o roteiro: Nova Iorque, Washington, Montgomery e Tokio. Minha obrigação era a de visitar organizações policiais dessas cidades para compará-las com a briosa. Que humilhação! Tudo que havia lá não havia cá, e só vencemos essas organizações policiais alienígenas num item: assassinato de policiais-militares, o meu foco. Neste, a nossa vitória era surpreendente. Por exemplo: no Japão (todo o Japão), havia o registro de uma só morte de policial em cem anos. Em Nova Iorque, morreram até aquele ano 12 policiais desde a criação da polícia. Pasmem! Mas era isso mesmo que me informaram. E aí eu surgi vencedor, mas com meu vergonhoso garbo oculto entre as pernas: só no batalhão que eu comandava, o nono batalhão, no ano de 1989 viríamos a contabilizar 09 mortos.



Veja as matérias jornalísticas referentes para não pairar dúvidas, assim como há o registro de muitos batalhões e seus mortos, todos na rabeira do batalhão situado na área mais violenta da Cidade Maravilhosa.




Agora observo em espanto e tristeza a quantidade de PMs mortos só neste início de ano, e quando posto aqui a matéria pode ser que o número já se tenha ampliado. Acresce a isto a falência do sistema de saúde da corporação, da qual se recupera com muito esforço, mesmo com o Estado atrapalhando, pois a Secretaria de Estado de Saúde não libera os processos de aquisição de equipamentos hospitalares e remédios, embora o dinheiro a ser utilizado não lhe pertença, mas se integra à remuneração dos PMs e Pensionistas, de onde sai para o FUSPOM.



Absurdo! Um roubo a mais! Um desprezo a mais desse maldito governante e seus aliados nas Secretarias e na ALERJ, no Ministério Público e na Justiça, pois ninguém se mexe para solucionar tamanho absurdo cujo reflexo é direto ou indireto na morte de mais PMs e Pensionistas por enfermidades dependentes de atenção urgente. Há, sim, um genocídio praticado pelo Estado contra o PM e seus familiares, e contra seus pensionistas, agora acirrado pelo não pagamento dos vencimentos em dia certo e pelo calote do 13º salário ainda devido desde dezembro.



Mas tudo é fácil de entender, e só acontece porque a PMERJ anda de quatro num conformismo inexplicável, como se tudo fosse “natural”. Porque não se vê nenhuma autoridade superior da corporação nem piscar. Ficam como cães treinados, ávidos pela nova ordem de trabalhar a manu militari, sem receber, o que estão fazendo em caradura, permitindo a ideia de que a tropa está conformada ao extremo ou não precisa de salário, como sugeriu o mau PM tomando água de coco na viatura e enaltecendo o seu “serviço” perguntando de público: “Pra que salário?”



Ora uma indagação desta só pode ter saído do boquirroto de um membro de família abastada ou de ladrão assumido! E é o que basta, pois o foco é só a assustadora comparação entre o ano de 1989 e 2017. Que cada um conclua por si mesmo, sendo certo que em morrendo tantos policiais ante a indiferença do Estado e da Sociedade, é de se esperar que morram mais cidadãos em assaltos e acidentes decorrentes do uso exagerado de drogas!



Mas como a fertilidade garante a reposição geral e irrestrita, que morram os cidadãos indiferentes à morte dos policiais! E assim seguiremos até o país tomar vergonha na cara em vez de naturalizar a morte de policiais e cidadãos, enquanto lamenta a morte de assassinos em prisões com anúncio de indenização às famílias, ignorando essas malditas autoridades públicas as vítimas desses facínoras assassinados intramuros de presídios, como se a morte fora deles fosse “normal”, não cabendo nenhuma indenização por parte do Estado, o que nos leva a concluir que a integridade física do cidadão ordeiro não fosse responsabilidade do Estado, que tem como função-síntese prestar segurança.



Arrenego! Irra! Ufa!!!!


2 comentários:

Paulo Xavier disse...

Cel Larangeira.
Ainda não pesquisei, mas acredito que Rio de Janeiro é o lugar do mundo onde se mata mais policiais em todo o mundo em tempos de paz. As razões são diversas e o senhor as conhece muito bem; nossos governantes também sabem onde está o X do problema, porém é mais prático fingir que está tudo bem e repor o profissional como se fosse um copo descartável.
Tenho uma sobrinha que reside no Japão há mais de 20 anos e sempre que nos falamos eu insisto na questão de diferenças culturais. Ela sempre me responde que lá a educação do povo é outra, a cultura e a tradição também; que educação, saúde e segurança são prioridades,que raramente se vê um político, funcionário público ou cidadão comum envolvido em corrupção, que 99% dos crimes são apurados e o culpados devidamente presos, que ao chegar na estação do metrô um relógio digital informa a hora exata que o trem vai passar e um atraso de dois minutos é informado com antecedência com os pedidos de desculpas, portanto é cultura de verdade.
Então, a morte de policiais no Brasil é mais uma mazela que reflete esse enorme lamaçal em que o nosso país se encontra.
Com meu respeito, um abraço. Paulo Xavier Ex-PM

Anônimo disse...

Emir disse:

Caro amigo, conheço o Japão e sei como funciona o sistema policial por lá e sei também da cultura daquele povo. Sou uma apaixonado pela cultura japonesa. Quando fui lá, em 1989, indaguei sobre policiais assassinados por meliantes e tive com resposta um resultado surpreendente: um policial assassinado nos últimos CEM ANOS. É mole?