Jornal EXTRA
A esquerda brasileira quer definir o que você pensa. E com dinheiro de bilionário americano
Por: Bruno Garschagen em
O que você pensa a respeito de temas como desarmamento, liberação das drogas, marco civil da internet, desmilitarização da polícia militar, democracia é fruto de pesquisa e reflexão ou é mera adesão à posição de pessoas famosas, de jornais, de comentaristas de TV, de políticos, de entidades que gozam de boa imagem pública? Se os "progressistas" defendem soluções únicas e amorais para esses problemas, de onde vem esse certo consenso cada dia mais consolidado?
As agendas políticas que hoje despertam paixões, que provocam "polêmicas" e discussões nas redes sociais, são muitas vezes o resultado de um trabalho muito bem articulado de instituições e personagens que nem sempre aparecem. Mas quem são essas pessoas e organizações? E quem as financiam? E qual é a conexão entre Hillary Clinton, candidata do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, e certos grupos de esquerda do Brasil?
No post "Quem é a Hillary Clinton que a imprensa não mostra?" tentei expor o projeto ideológico e de poder da candidata democrata que a imprensa brasileira ignora ao preferir atacar - com e sem motivos - Donald Trump, candidato do partido Republicano. E também mostrei a influência financeira do bilionário George Soros sobre a família Clinton (Bill e Hillary).
Pois são dois os vínculos de Hillary com parte da esquerda brasileira: 1) um projeto de engenharia social por meio da mudança de mentalidade e de comportamento; 2) o patrocínio de Soros.
Documentos vazados recentemente pelos sites Wikileaks e DC Leaks mostram o grau de influência de Soros sobre Hillary e o Partido Democrata, que receberam cerca de US$ 25 milhões do bilionário até agora para esta eleição. Soros é um dos maiores doadores da carreira política de Hillary, não apenas desta eleição. Um dos emails revela que Soros, mediante um representante, enviou instruções à Hillary, então secretária de Estado, para intervir na política da Albânia, país onde tem negócios. Três dias depois da mensagem, o nome sugerido por Soros, Miroslav Lajcak, foi enviado pela União Europeia para mediar o conflito entre os rivais políticos albaneses.
Investindo o seu dinheiro de forma estratégica, Soros teria orientado políticos do partido Democrata para fazer valer seus interesses dentro e fora dos Estados Unidos, além de ter tentado manipular eleições na Europa. Ainda segundo os documentos vazados, através da Open Society, o bilionário financiou entidades em várias partes do mundo.
E no Brasil? A Open Society injeta cerca de US$ 37 milhões por ano no Brasil e em outros países da América Latina e a Fundação Ford US$ 25 milhões anualmente.
Aqui, várias entidades que gozam de prestígio social fazem parte do grande projeto global de revolução social financiado por Soros a partir da promoção de agendas de grupos defensores do aborto, da legalização das drogas e dos que se travestem de mídia independente para defender certas bandeiras. O Movimento Viva Rio, por exemplo, recebeu US$ 107 mil entre 2009 e 2014 para atuar como representante de uma postura nova e diferente em relação à política de drogas, ou seja, na defesa da liberação. E o Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), que ficou conhecido nas manifestações de 2013 dizendo-se independente, recebeu US$ 80 mil do bilionário. A independência parece ter um preço.
Outro projeto financiado por Soros é o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio), que recebeu US$ 350 mil em 2014 e em 2015 da Open Society e mais US$ 200 mil da Fundação Ford. E quem faz parte do ITS Rio? Ronaldo Lemos, cofundador e seu atual diretor, o nome mais conhecido na elaboração e defesa do Marco Civil da Internet, que abriu a possibilidade de regulação e de controle pelo Estado e que tem sido usado pela justiça como fundamento jurídico para suspender o aplicativo WhatsApp.
Também fazem parte da equipe do ITS Rio Eliane Costa, que foi gerente de patrocínio da Petrobras de 2003 a 2012 (ou seja, durante todo o governo Lula); Lucia Nader, que é Fellow da Open Society Foundations, entidade de Soros; e Ana Toni, que integra o conselho editorial do jornal socialista Le Monde Diplomatique Brasil e que atuou como diretora da Fundação Ford no Brasil de 2003 a 2011 (quase o mesmo período em que sua colega trabalhou na Petrobras). A Fundação Ford, assim como a Open Society de Soros, financia grupos e projetos socialistas no mundo inteiro.
Qualquer coincidência não é mera semelhança.
A drenagem dos recursos de Soros também alimenta entidades criadas por aquelas já financiadas pela Open Society. O ITS Rio, por exemplo, criou o site Mudamos.org, que também recebe dinheiro de Soros e orgulha-se de ter participado da criação do Marco Civil da Internet, que foi elaborado pelo cofundador do ITS Rio, Ronaldo Lemos. O dinheiro entra por vários canais, mas convergem para o mesmo duto.
O idealizador do Mudamos.org é o sociólogo socialista Luiz Eduardo Soares, que foi secretário de segurança pública do governo Antony Garotinho no Rio de Janeiro e secretário nacional de Segurança Pública do governo Lula. Soares é notório defensor da desmilitarização da Polícia Militar e da descriminalização das drogas, cuja proibição tem como consequência, segundo ele, " a criminalização da pobreza, sem reduzir a criminalidade ou o consumo de drogas". Se a pobreza é criminalizada em função da proibição, o sociólogo está dizendo que os pobres são criminalizados por envolvimento com as drogas? Não seria esta uma posição altamente preconceituosa e falsa de alguém que tenta combinar Karl Marx e Michel Foucault?
Soares também é coautor do livro "Elite da Tropa", que deu origem ao filme "Tropa de Elite". Conhecendo como ele pensa é possível analisar o livro de outra forma e entender os seus comentários sobre a reação do público diante do filme.
Sobre a legalização das drogas, o nome mais conhecido da política brasileira a defendê-la é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cujo instituto que leva seu nome recebeu US$ 111.220,00 em 2015 e 2016.
Outras organizações que receberam dinheiro de Soros para influenciar a sociedade brasileira de acordo com uma agenda revolucionária foi a Agência Pública, do socialista Leonardo Sakamoto, que em cinco anos recebeu mais de R$ 1 milhão da Open Society. É com os dólares de Soros que a Agência Pública diz realizar um "modelo de jornalismo sem fins lucrativos para manter a independência". Independência similar a do Mídia Ninja. Sakamoto também é autor da célebre frase: "o que define uma mulher não é o que ela tem ou teve entre as pernas".
Há ainda o Instituto Arapyaú, fundado por Guilherme Leal, um dos donos da empresa Natura que, em 2010, foi candidato a vice-presidente de Marina Silva, que foi petista por 24 anos até pedir para sair em 2009. Um dos membros do conselho de governança é o petista Oded Grajew, idealizador do Fórum Social Mundial (a disneylândia do socialismo latinoamericano), ex-assessor especial do presidente Lula e coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, que recebeu US$ 500 mil da Open Society em 2014 e 2015.
A lista vai além. O projeto Alerta Democrático, que recebeu US$ 512.438,00 em 2014 da Open Society Foundations, tem na sua equipe o petista Pedro Abramovay, que trabalhou no Ministério da Justiça nos governos Lula e Dilma e que é, vejam só, Diretor Regional para América Latina e Caribe da própria Open Society. Abramovay também foi diretor no Brasil do site de petições Avaaz, que ele definiu "como um movimento" que não era uma rede social nem "um espaço neutro", mas "um movimento que tem princípios". Por isso, só aceita petições de causas afeitas à ideologia e retira do ar qualquer petição vá "contra os princípios do movimento".
Outro que integra a equipe do Alerta Democrático é o ex-BBB Jean Wyllys, que usa o seu mandato de deputado federal para fazer valer o projeto de engenharia social pela mudança de comportamentos mediante a ação do Estado.
É possível tanto considerar que a esquerda contemporânea tem seguido a agenda de um bilionário com um projeto global de revolução a partir da mudança de mentalidades como achar que a esquerda está usando o dinheiro de um capitalista para financiar a implantação da sua ideologia. Mas não há, como pode parecer, um antagonismo, pois ambos compartilham os meios e os fins ideológicos.
O financiamento de organizações socialistas e comunistas por uma certa elite econômica nem é uma novidade histórica: os revolucionários russos foram financiados por grandes empresários para fazerem a revolução de 1917; os nazistas foram financiados por grandes empresários para conquistarem o poder em 1932; os petistas foram financiados por grandes empresários até conquistarem o governo federal em 2002.
Sequer o projeto global de Soros é novidade para o leitor atento. Desde o fim da década de 1990 o professor Olavo de Carvalho alerta para o financiamento de entidades socialistas realizado por Soros e outros endinheirados. Muitos dos artigos sobre o tema foram publicados no jornal O Globo e depois reunidos no livro " O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", organizado pelo colunista da VEJA.com Felipe Moura Brasil e publicado pela Editora Record.
E porque Soros faz o que faz?
"Soros é, possivelmente, o indivíduo sem cargo eletivo mais influente do mundo. Possuidor de uma fortuna pessoal estimada em US$ 13 bilhões e administrando US$ 25 bilhões de terceiros, é tão poderoso no Partido Democrata americano que no programa humorístico Saturday Night Live foi chamado de 'dono' do partido. E na prática não é nada muito diferente disso. Dentro do Partido Democrata, candidatos independentes, não ligados a Soros, são cada vez mais raros.
George Soros se vê como um missionário das próprias utopias e não conhece limites para usar sua fortuna quase sem paralelo para influenciar a política, a imprensa e a opinião pública em diversos países, especialmente os EUA. Como ele mesmo disse, 'minha principal diferença de outros com uma quantidade de recursos acumulados parecida com a minha é que não tenho muito uso pessoal para o dinheiro, meu principal interesse é em ideias.' Soros também revelou que seu sonho era escrever um livro 'que durasse o mesmo que nossa civilização' e que ele valorizaria isso mais do que qualquer sucesso financeiro. Ele já lamentou que mudar o mundo é muito mais difícil do que ganhar dinheiro. Num livro de 1987, disse que já tinha se achado uma espécie de deus mas que depois se convenceu que seria mais como uma mistura de John Maynard Keynes com Albert Einstein.
Há 30 anos, Soros mantém a Open Society, nome tirado de um livro de Karl Popper. A Open Society é uma ONG bilionária destinada a influenciar a opinião pública e a política no mundo. Ela está presente em mais de 70 países é tão poderosa que, em alguns regimes, é considerada um 'governo informal'.
Nos EUA, mantém o poderosíssimo Media Matters, que dá o tom de praticamente toda imprensa americana, além de ser o principal financiador do The Huffington Post, um ícone da esquerda mundial. A Open Society é inspirada pela idéia do filósofo francês Henri Louis Bergson que acreditava num mundo com valores morais 'universais' e não de sociedades 'fechadas', o que influenciou vários pensadores que até hoje criticam os ideais do pais fundadores da nação americana e do 'excepcionalismo americano'.
Soros é tão próximo de Bill Clinton que alguns dos mais importantes ocupantes de cargos públicos no seu governo são considerados indicações diretas dele. Em 2004, gastou tudo que podia para tentar impedir a reeleição de George W. Bush mas não conseguiu.
Em dezembro de 2006, George Soros recebeu Barack Obama em seu escritório em Nova York. Duas semanas depois, Obama revelou que seria candidato a presidente dos EUA e, uma semana depois, George Soros anunciou publicamente que apoiava sua indicação nas primárias contra Hillary Clinton, o que parecia uma maluquice na época. O resto é história. Hoje ele apoia Hillary para a próxima eleição presidencial.
O número de fundações, ONGs, sindicatos e veículos de comunicação que recebem dinheiro de George Soros ou de suas fundações é tão vasto que só um incansável pesquisador como David Horowitz para catalogar e publicar no seu portal Discover the Networks. Se você tiver curiosidade, é só clicar aqui."
Depois de descobrir qual é a agenda desses grupos, quem os representa e os financia e a influência que exercem na opinião pública de diversos países, incluindo o Brasil, cabe ao leitor refletir se aquilo que pensa e defende é o resultado de uma análise genuína pautada em informações diversificadas ou uma mera repetição de discursos ideológicos previamente criados por socialistas que criticam o grande capital financeiro e os poderosos enquanto desfrutam do dinheiro daqueles que aparentemente atacam. Como diz o escritor Flavio Morgenstern em seu podcast, " Não é você que pensa o que pensa, George Soros pensa por você".
Convém ter isso em mente antes de defender determinadas posições e de agir como inocente útil de uma ideologia e de um projeto político que desconhece.
Um comentário:
Ótimo artigo.
Concordo plenamente.
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