sexta-feira, 4 de novembro de 2016

VIOLÊNCIA URBANA NO RJ – MAIS TIROTEIO NO “PACIFICADO” MORRO DO ALEMÃO

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


  
Do G1 Rio

04/11/2016 11h33 - Atualizado em 04/11/2016 12h04
PM faz operação no conjunto de favelas do Alemão, Rio

Agentes do Bope e do Batalhão com Cães atuam na comunidade.

Moradores relatam tiroteio nas redes sociais.

Homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Ações com Cães (BAC) fazem uma operação no conjunto de favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na manhã desta sexta-feira (4). Até às 11h desta sexta não havia informações sobre apreensões e prisões.

Nas redes sociais, moradores relatavam os momentos de pânico na região. "Hoje é o #DiaDaFavela e o que os moradores ganham de presente? Tiros e mais tiros! Atenção moradores, há relatos de tiros na Alvorada!!", disse um deles.

Grupo fechado do Facebook relata clima tenso durante operação. "O clima começou tenso nesta manhã de sexta-feira no Complexo do Alemão. Segundo informações, o BOPE realiza uma operação na comunidade. Houve relatos de um intenso tiroteio agora há pouco".

No início de agosto, um delegado foi baleado durante uma megaoperação no conjunto de favelas do Alemão. O delegado foi levado para o Hospital Getúlio Vargas, na Penha, de onde recebeu alta no mesmo dia. Durante a ação, intensos tiroteios aconteceram na comunidade. Além do delegado, outras duas pessoas também foram baleadas na operação.

MEU COMENTÁRIO

Uma ação a mais no Complexo do Alemão, local emblemático do Comando Vermelho, alvo de uma operação da Polícia Civil no início do desgoverno Cabral (27 de junho de 2007), cujo resultado foi a morte de 19 traficantes. Faz lembrar o brado valentão do referido mandatário, brado, cá entre nós, inesquecível, por descortinar ao mundo sua (dele) verdadeira natureza: ‘É enfrentamento mesmo!” Se não bastasse, seu então secretário de segurança, José Mariano Beltrame, fez coro dando ao brado um leve retoque socialista, ao proferir na sequência a histórica frase que lembra o genocida russo Joseph Stálin: “Não se pode fazer omelete sem quebrar ovos.”





Depois veio a monumental invasão do complexo favelado por tropas militares federais, com direito a cenas tragicômicas como a da disparada de centenas de facínoras no alto do morro, todos em fuga precipitada, deixando no imaginário popular a falsa ideia de que jamais voltariam. E no auge desta empolgação emerge a heroica cena do então comandante-geral da PMERJ bradando um “ultimato de rendição” endereçado aos bandidos, mesmo que sua elevada autoridade estivesse ao pé de autoridades militares de maior vulto naquele histórico momento de efêmera vitória: oficiais-generais das Forças Armadas, ali representadas pelo Exército Brasileiro e pela Marinha de Guerra. E veio a enxurrada de UPPs emblemando a mais importante “pacificação” nunca vista neste país...



Vi a cena extasiado, aqui confesso! Imaginei que finalmente o desgovernado Cabral redescobrira o Brasil, agora o da paz duradoura num conglomerado favelado sem bandidos. Que maravilha! E não era sonho, estava tudo acontecendo mesmo, a mídia lá estava, por terra e pelo ar, documentando tudo. Ou quase tudo... Pois o traficante-mor conseguira escapulir de um modo ainda hoje inconfessável e alguns corpos mortos foram até o IML andando sozinhos, tais como os defuntos que se autoexumaram do cemitério de Erico Verissimo no seu épico Incidente em Antares, se não me falha a velha memória, momento em que ele vislumbra o que se vê agora no Brasil e em especial no RJ: uma “merdocracia” ou “cafagestocracia”, ou, ante a realidade das mortes supracitadas e todas mais produzidas pela criminalidade violenta e pela atabalhoada reação do sistema situacional, uma “tanatocracia”... Mas basta sublinhar o mestre da literatura pátria e a cena de corpos fedidos confabulando entre si e depois andando livres pelo povoado, formando uma tragicômica cena que se eternizaria pela pena do magnífico autor da literatura pátria. Cá entre nós, há quem diga que o escritor, em magistral digressão, fez seu romance explodir em gargalhadas como protesto contra tudo que é ditadura tupiniquim. Não sei se é vero, mas que fique o registro e tornemos ao épico Complexo do Alemão, à “Antares” de hoje depois do fracasso das UPPs ali instaladas com direito a teleférico e a diversos concertos sinfônicos a comemorarem a falseada derrota do tráfico. Tudo isto lembra também Napoleão perdendo a guerra para o inesperado frio no inóspito solo russo, a ponto de inspirar o maestro Pyotr Ilyich Tchaikovsky a compor o clássico "Overture 1812".


Sim, como tratar do assunto sem ironias e galhofas? Como levar a sério o cinismo estatal que agora atua sob o peso da Lava-Jato (que vingue este neologismo como forma de vingança do povo espoliado). Porque os inevitáveis confrontos entre aparatos policiais e bandidos não terão trégua enquanto a PMERJ mantiver efetivos espalhados por UPPs no Complexo do Alemão e algures, em tropas fixas, aquarteladas e numericamente inferiorizadas. Seria mais ou menos exigir que exércitos em guerra construíssem quartéis em zonas de combate, lá deixando parte do seu efetivo até ele, no seu todo, esfrangalhado, pulverizassem em derrotas sucessivas. É o que acontece com as UPPs, que fragmentou o efetivo global da corporação e lhe retirou boa parte da mobilidade, fator fundamental da prevenção de polícia administrativa. Ora, essas incursões no Complexo do Alemão, quase sempre em reação a anteriores ataques de bandidos às enfraquecidas sedes de UPPs, tornar-se-ão manobras tão eternas quanto cemitérios, até que apareça um comandante-geral macho, corajoso e despojado, e brade ao mundo o inverso da fanfarronice do Cabral: “Perdemos!” E a partir daí recomece a contar uma história de realidade, não mais encenando ficções.




Um comentário:

  1. Como sempre, um comentário farto de verdades e realidades para uma guerra urbana na qual o Estado está diante de um problema muito maior que o anunciado pela farta mídia e os falsos entendedores de segurança pública

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