“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
G1 RIO
23/09/2016 18h04 - Atualizado em 23/09/2016 19h37
Rio teve mais homicídios em agosto em comparação a 2015.
Durante o período, Rio tinha
esquema de segurança da Olimpíada.
Oitenta e cinco mil homens
estavam mobilizados.
O Instituto de Segurança Pública do Rio de
Janeiro informou nesta sexta-feira (23) que, em agosto de 2016 foram
registradas 386 vítimas de homicídio doloso - crimes onde há a intenção de
matar - no estado, representando um aumento de 50 vítimas em relação ao mesmo
período do ano anterior. Também chama a atenção no relatório o aumento dos
roubo de rua: no acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 41,7%
(56.966 em 2015 – 80.731 em 2016).
O acréscimo no número de homicídios acontece
mesmo com o reforço de segurança durante o período da Olimpíada. Segundo o
Governo Federal, o
esquema de segurança contou com 85 mil homens.
As áreas integradas de segurança pública (AISP)
que apresentaram o maior número de vítimas foram as AISP 15 (Duque de Caxias),
AISP 07 (São Gonçalo), AISP 24 (Seropédica, Itaguaí, Paracambi, Queimados e
Japeri) e AISP 20 (Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis) somando respectivamente
30, 29, 29 e 28 vítimas, 30% do valor total do estado. As AISP 02 (Catete,
Cosme Velho, Flamengo, Glória, Laranjeiras, Botafogo, Humaitá e Urca), AISP 19
(Copacabana e Leme) e AISP 23 (Rocinha, Ipanema, Leblon, Gávea, Jardim
Botânico, Lagoa, São Conrado e Vidigal) não registraram nenhuma morte.
As AISP 14 (Campos dos Afonsos, Deodoro, Jardim
Sulacap, Magalhães Bastos, Realengo, Vila Militar, Bangu, Gericinó, Padre
Miguel e Senador Camará) e AISP 20 (Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis)
apresentaram uma redução de, respectivamente, 17 e 8 mortes – apesar de ter
obtido o maior número de reduções de vítimas no mês de agosto, a AISP 20,
contraditoriamente, também apresentou o maior número de vítimas; e as AISP 04
(Catumbi, Cidade Nova, Estácio, Rio Comprido, Centro - parte, Caju, Mangueira,
São Cristóvão, Vasco da Gama, Maracanã, Praça da Bandeira e Tijuca) e AISP 29
(Laje do Muriaé, Porciúncula, Natividade, Varre-Sai, Itaperuna, São José de
Ubá, Bom Jesus de Itabapoana, Cardoso Moreira e Italva) apresentaram redução de
4 vítimas cada uma.
O ISP faz a ressalva que, apesar do aumento nas
vítimas de homicídio doloso no mês de agosto, os últimos quatro meses
apresentam uma redução dos números registrados no início do ano, quando foram,
em média, 403 vítimas por mês. No acumulado do ano, porém, de janeiro a agosto,
os números ainda indicam aumento de 17,4%.
Levando em conta o acumulado, também há aumento
no índice geral dos chamados crimes de letalidade violenta (homicídio doloso,
latrocínio, lesão corporal seguida de morte, homicídio decorrente de oposição à
intervenção policial), que subiram 18,5% de janeiro a agosto; no número de
policiais mortos em serviço (25 entre janeiro e agosto), além do crescimento de
roubos de rua (acréscimento de 41,7%).
Confira o
resumo de alguns indicadores (janeiro a agosto de 2016):
• Homicídio Doloso – No acumulado de janeiro a
agosto de 2016 houve aumento de 17,4% (2.747 em 2015 – 3.224 em 2016).
• Letalidade Violenta (Homicídio Doloso,
Latrocínio, Lesão Corporal Seguida de Morte, Homicídio Decorrente de Oposição à
Intervenção Policial) - No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento
de 18,5% (3.329 em 2015 – 3.945 em 2016).
• Policiais Civis e Militares Mortos em Serviço –
Aumento de seis vítimas no acumulado de janeiro a agosto de 2016 (19 em 2015 –
25 em 2016).
• Homicídio Decorrente de Oposição à Intervenção
Policial – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 19,2% (459
em 2015 – 547 em 2016).
• Roubo de Rua (Roubo a Transeunte + Roubo de
Aparelho Celular + Roubo em Coletivo) - No acumulado de janeiro a agosto de
2016 houve aumento de 41,7% (56.966 em 2015 – 80.731 em 2016).
Indicadores de produtividade policial (janeiro a agosto de 2016):
• Armas Apreendidas – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve redução de 3,1% (6.237 em 2015 – 6.046 em 2016), sendo 198 fuzis.
• Prisões (Guia de Recolhimento de Preso) – No
acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve redução de 4,1% (28.439 em 2015 –
27.281 em 2016).
• Prisões (Auto de Prisão em Flagrante e
Cumprimento de Mandado) – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve
redução de 4,0% (37.929 em 2015 – 36.416 em 2016).
• Apreensões de Adolescentes (Guia de Apreensão
de Adolescente Infrator) – No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve
redução de 8,0% (7.034 em 2015 – 6.470 em 2016).
• Apreensões de Adolescentes (Apreensão de
Adolescente por Prática de Ato Infracional e Cumprimento de Busca) – No
acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 9,5% (7.428 em 2015 –
8.133 em 2016).
• Recuperação de Veículo - No acumulado de janeiro a agosto de 2016 houve aumento de 15,6% (16.116 em 2015 – 18.628 em 2016).
Revista
VEJA
RIO BATE
RECORDE DE ASSALTOS NO MÊS DA OLIMPÍADA
Apesar do aparato de quase 50 000
agentes de segurança espalhados pela cidade, período dos Jogos registrou o
maior número de assaltos da história do estado.
Por Leslie Leitão
access_time 23 set 2016, 20h43
Mesmo com reforço de tropas militares, o estado do
Rio de Janeiro registrou aumento no número de assaltos na Olimpíada (Ricardo
Moraes/Reuters)
Ao final da Olimpíada, as autoridades de segurança
respiraram aliviadas. José Mariano Beltrame, que comanda a pasta no governo
fluminense há uma década, chegou a classificar a operação como bem sucedida. O
delegado destacou a integração das polícias Civil e Militar com as Forças
Armadas, Polícia Federal e Rodoviária e Força Nacional – totalizando um aparato
de quase 50 000 homens – como grande legado desse sucesso. Beltrame só esqueceu
da população do Rio de Janeiro, que mesmo com todo esse reforço sofreu nas mãos
de assaltantes que atacaram como nunca. Agosto de 2016, o mês dos Jogos
Olímpicos, que registrou a maior concentração de agentes de segurança de todos
os tempos no Brasil, registrou também o maior número de assaltos em um único
mês. Foram 17 255 roubos, seis mil a mais do que o registrado no mesmo período
de 2015 (11 290).
Os números assombrosos foram divulgados na tarde
desta sexta-feira pelo Instituto de Segurança Pública (ISP). Nos corredores da
secretaria, as autoridades tentam se agarrar numa explicação para tamanho salto
na violência: os quase 1,2 milhão de turistas que estiveram na cidade durante
os Jogos, aumentando em 18% a população da capital. Uma análise mais
aprofundada dos dados, no entanto, indica que esse crescimento de assaltos vem
sendo registrado todos os meses. Como já havia mostrado o site de VEJA , o
primeiro semestre de 2016 foi o pior da
história , com 97
100 assaltos. Somados os meses de julho e agosto, já houve 131 198 roubos nas
ruas do estado somente nos oito primeiros meses do ano.
O que impressiona na ineficiência do aparato de
segurança para a Olimpíada é que mesmo nas áreas de competições os números de
assaltos registraram aumentos significativos. Na área de Copacabana e Leme –
que concentrava muitos turistas e contava com militares do Exército por toda a
parte – os 147 roubos dobraram em relação a agosto de 2015 (71). No Leblon e em
Ipanema o salto foi de 98 para 137. As regiões da Barra da Tijuca, Recreio dos
Bandeirantes e Jacarepaguá, onde também houve grande concentração de pessoas em
virtude da localização do Parque Olímpico, saltou de 475 para 521, enquanto a
área englobando Maracanã e Tijuca teve 254 assaltos, contra 164 no mesmo mês de
agosto do ano passado. O centro, que também lotou diariamente, em especialmente
no trecho do Boulevard Olímpico, teve 606 ataques de ladrões, contra 425 do ano
passado.
Como era de se esperar, fora do eixo olímpico a
situação foi ainda pior. Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, aumentou de 1 101
para 1 836 roubos. Nas áreas que englobam vários bairros nos arredores dos
Complexos do Alemão e da Maré, na Zona Norte, os números de assaltos somados
pularam de 602 para 1 075. Até a Região dos Lagos também viveu dias de terror
nas mãos de bandidos, registrando 233 assaltos, contra 100 de agosto de 2015.
O ISP forneceu dados e comparou os oito meses deste
ano com o mesmo período do ano passado. E os números mostram a crise na qual a
segurança mergulhou. Os homicídios aumentaram 17,4%: foram 3 224 assassinatos,
contra 2 747 de 2015. O número de armas apreendidas caiu de 6 237 para 6 046,
enquanto o de autos de resistência (mortes em confronto com a polícia) cresceu
19,2%, registrando 547 casos este ano, contra 459 do ano passado.
Nos corredores da segurança pública, o que se diz é
que Beltrame está se despedindo após dez anos. Em dezembro de 2006, último mês
antes de assumir a secretaria de Segurança, o Rio de Janeiro registrou 10 619
roubos (62% a menos que agosto de 2016). A expectativa é de que o
secretário deixe a pasta após as eleições e sua ideia é fazer seu sub, o
também delegado federal Roberto Sá, como sucessor.
MEU COMENTÁRIO
Gosto de desenvolver raciocínios
rápidos no meu blog, em complemento a matérias jornalísticas, para que estas,
bem mais do que infiro delas, sirvam de referência em estudos por quem tiver
interesse em se aprofundar no tema segurança pública. No caso, juntei duas
matérias de fontes diferentes e datadas do mesmo dia, como se pode depreender
da leitura de ambas. Vejo como importante traçar um registro histórico deste
modo, pois sei que há muitas conversas soltas que, por falta de dados concretos,
culminam vazias de conteúdo ou descambam para ideologias e/ou maniqueísmos que
se desfocam do problema específico.
Não digo que as reportagens se
pautem pelo rigor científico nem se prendam a algum raciocínio globalístico.
São apenas constatações imediatas, porém situadas num contexto real dentro de
um espaço e de um tempo. Com base nesta percepção muitos leitores podem
desenvolver raciocínios mais aprofundados e inclusive pesquisar in loco nas
fontes de referência cujos créditos sempre acompanham meus comentários.
Aproveito para me desculpar por
alguns atrasos nos comentários. É que não raro sou atropelado por outros
acontecimentos pessoais que me impedem às vezes de ser mais diligente. Também
por isso inverto casualmente alguma ordem cronológica, problema que pode ser
facilmente superado pela impressão dos textos e sua arrumação conforme a data
da publicação.
No caso presente, importa comentar
sobre a dura realidade já muitas vezes detectada pela imprensa especializada em
segurança pública: por mais que se massificasse o patrulhamento nos últimos
meses, contando inclusive com reforços federais, a criminalidade não parou de
crescer no RJ, em especial no Grande Rio e na Capital. Isto nos leva a uma
conclusão imediata: o aumento dos meios materiais e humanos, se não for
acompanhado de bom sistema de inteligência e de investigação policial sistemática,
não alterará a expansão do crime. A verdade constatada nesse período de Copa do
Mundo e Olimpíadas em que houve o reforço é a de que o crime permaneceu
desenvolto e fazendo suas vítimas. Para não me estender, indago aos leitores:
“Por quê?”
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