Nota
de Emir Larangeira: trata-se história real, ou de de ficção, que retrata a cruel realidade enfrentada
pelos PMS da PMERJ nos dias de hoje. O autor, Soldado PM com bastante vivência operacional,
culmina por nos oferecer momentos de muita emoção com suas crônicas literárias de alto gabarito. Para mim é
uma honra postá-las aqui!
CONTO DE FARDA II
FOTO
ILUSTRATIVA DO NOBRE SARGENTO DA SILVA!
Um
calor de 40 graus no Rio janeiro. Viramos à direita em direção à rua que dá
acesso à parte principal de uma comunidade dominada pelo tráfico de drogas!
Ouvimos
os primeiros disparos dos traficantes, tiros de fuzis e pistolas, e na maioria
das vezes são tiros em forma de rajadas!
Tiros
sem compromisso com o alvo, eles esmagam os gatilhos sem remorso, estão
desesperados, não querem ser mortos nem presos!
É
foda parceiro, muitas vezes não escutamos o barulho do disparo, mas ouvimos o
barulho do deslocamento de ar do projétil passando perto de nossas cabeças!
E
quando falo que é foda é porque é mesmo! Você não escuta o barulho do disparo,
mas sente o projétil passando próximo de sua cabeça e o barulho que ele faz é
idêntico ao de um carro de Fórmula Um cortando o ar!
Sim,
aquele mesmo barulho de carro de Fórmula Um que faz na TV! Só que o carro da TV
você ainda consegue ver, mas o projétil não! Ele passa, faz barulho como se
cumprimentasse com um "Oi!" no pé do seu ouvido! É tenso!
Continuamos
subindo até o ponto mais alto planejando onde iríamos desembarcar e continuar a
pé. Olhamos todos os comércios, todas as pessoas ao redor, lajes, becos,
vielas, vegetação ao longe e tentamos perceber qualquer tipo de movimentação estranha
ou um olhar que condenasse o flagrante!
Sim,
quem está no erro tem um olhar diferente, respiração "condenante",
fala entregadora e um semblante de terror que só o tempo nos faz perceber de
longe!
Desembarcamos
e progredimos! O policial que mais conhece a área puxa a ponta, e assim vamos
até chegar num ponto onde não existem mais casas e sim um descampado! Sabemos
que eles estão na mata, eles subiram e estão esperando que fiquemos
desprotegidos ao tentar subir ao encontro deles!
50
metros mais à frente tem uma pedra no chão, do tamanho de um homem, e serve de
abrigo! Um de nós tem que ir correndo o máximo possível e conquistar aquele
terreno!
Conquistando
esta parte do terreno, o policial que ali ficar vai trocar tiros com os
vagabundos da parte alta enquanto os outros avançam!
Decido
que vou correr até a pedra! Respiro com mais força, olho fixamente a pedra e
cálculo mentalmente os movimentos que irei fazer de forma mais explosiva
possível até chegar ao meu refúgio!
Flexiono
as pernas, meu semblante muda. Sinto minhas feições enrugarem; um pingo de suor
escorre da testa, passa lentamente pela sobrancelha, chega às bochechas e vai
em direção ao queixo! Sinto vontade de passar a mão no rosto, mas antes que
aquele pingo de suor caia em direção ao solo eu parto em disparada!
É
agora PORRAAAA! Dou o primeiro passo e um grito involuntário é produzido de
minhas cordas vocais de forma que isso aumente minha adrenalina e me faça
correr mais rápido!
Cada
passo parece eterno! Não escuto nenhum barulho de tiro, mas sinto os impactos e
ouço o barulho dos projéteis cortando o ar e atingindo o solo, próximo de mim,
levantando uma poeira amarela!
Tiros
atingem a pedra em que me vou abrigar, meus companheiros revidam, e os tiros
que estavam pegando próximo a mim diminuem!
Falta
bem pouco! Vou conseguir! A arma do meu colega trava e faz com que os bandidos
sedentos pelo meu sangue voltem a esmagar seus gatilhos disparando rajadas e
mais rajadas na minha direção!
Estou
prestes a dar os últimos passos antes de chegar à pedra e, num movimento de
sobrevivência, eu não dou os passos, eu simplesmente dou um “carrinho” como
jogador de futebol e deslizo até a pedra!
Nem
quando jogava minhas peladas, no futebol semanal, eu conseguia dar um “carrinho”
tão perfeito!
Pronto,
agora é fazer o combinado!
Fuzil
na mão, abrigado, me posiciono; no 1-2-3 eu levanto; e a coisa mais linda que
eu podia presenciar está a 150 metros de mim: cerca de oito bandidos se
desabrigam em desespero e saem correndo em fila indiana, facilitando toda a
minha cruel mira!
Disparo
cerca de sete vezes! Nos últimos três tiros, um deles cai e outro tenta agarrá-lo
para ajudar!
Com
uma mão ele puxa o outro bandido e com a outra ele aponta sua arma para baixo,
em nossas direções!
Antes
que eu reaja, escuto uma explosão. Parece que o mundo está acabando bem do lado
do meu ouvido! Outra explosão e outra e mais outra!...
São
meus colegas: a cavalaria, o apoio, os “cães de guerra”, meus amigos sedentos e
focados na mesma direção, a vitória!
Todos
já tinham atravessado, e agora, parceiro, toma que é de graça!
Progressão
defensiva e bala nesses filhos da puta!
Os
bandidos que não são baleados não correm: eles pulam, parecem cangurus no cio,
gazelas saltitando o mais alto possível! Medo e desespero eles exalam a quilômetros!
Antes,
eram bandidos valentes. Agora não passam de alvos ambulantes alvejados de todos
os lados pela “matilha azul” chamada POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO RIO DE
JANEIRO!
A
prioridade dos bandidos, nesse momento, não é mais revidar, e sim fugir como o
diabo foge da cruz.
Resultado:
Dois baleados, pistolas apreendidas e farto material entorpecente!
*AUTOR:
SD WELLEY COSME II, administrador da página Policiais Operacionais
2 comentários:
É companheiro, Laranjeira, nos conhecemos de longa data se escrever o meu conhecimento, talvez se tempestuoso,mas, curto o que acabei de ler, parabens ao valente guerreiro por sua insistência em fazer o certo...valeu caarada
Emir disse: caro amigo Jorge, tem sido gratificante publicar no meu blog as crônicas do Soldado Weslley Cosme. Só o conheço do Facebook, mas a qualidade das histórias dele me empolgou. Houve um expressivo aumento no número de leitores que me visitam graças ao trabalho literário do Weslley. Muito legal!
Postar um comentário