“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles
que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não
viram.” (Albert Einstein)
Não
apenas uma vez, mas muitas vezes eu tratei deste delicado tema neste blog; e
mais uma vez o farei por verificar que nada mudou no contexto intramuros da
corporação, embora o mundo tenha mudado do dado de fora e todos os oficiais
superiores conheçam e reconheçam as técnicas de otimização dos recursos materiais
humanos que compõem os quadros administrativos e operacionais da PMERJ. Enfim,
sabem discernir com profundidade os matizes e texturas do militarismo que
norteia as ações constitucionais da tropa, tanto individuais como coletivas;
ainda mais: conhecem de sobejo as técnicas de combate urbano e rural, assim
como aprenderam, ensinaram e ensinam sobre os meios e modos de ação preventiva
e repressiva de polícia administrativa.
Sim,
de soldado a coronel, o que mais abunda é conhecimento teórico sobre a árdua e
incompreendida profissão do policial-militar, aqui com hífen para caracterizar
o homem e a mulher fardados como um composto por dois substantivos, eis que o
militar estadual é “policial que é militar”, como nos informa a boa gramática e
os dicionários que se preocupam em respeitá-la, como o Houaiss, por exemplo:
“policial: substantivo de dois gêneros; profissional que, trabalhando na
polícia, zela pela manutenção da ordem, pela segurança dos cidadãos etc.”;
“militar: substantivo masculino; soldado ou oficial das forças armadas.”
Eis
o que basta, sendo certo que, por analogia dos Princípios Gerais do Direito e
por imperativo constitucional, os militares estaduais, além de policiais são
militares substantivos, tais como seus equivalentes nas Forças Armadas, em
especial no Exército Brasileiro, do qual as Polícias Militares Estaduais são
Forças Auxiliares Reserva. De modo que não se discute a verdade verdadeira de
que os policiais-militares o são efetivamente em duplicidade de funções, embora
exerçam diuturnamente ações policiais, ficando o militarismo como ornamento de
uma categoria que não o vivencia como fazem os militares federais, estes sim,
com o foco na hierarquia e na disciplina conscientes.
Não
aponto isto, todavia, para desqualificar o militarismo em favor da árdua função
policial; apenas sublinho a contradição porque a prática do militarismo pela
PMERJ (não falo das demais Polícias Militares pátrias) vem desde muito
deformada por más leis e maus regulamentos administrativos e disciplinares,
estes que formam um todo ininteligível, carcomido pelo tempo e por interesses
muitas vezes inconfessáveis, mormente quando se trata de planos de carreira, de
subserviência a políticos insanos e de punições disciplinares estressantes,
dentre outras anomalias que caracterizam o mau militarismo (aquele dos “corpos
dóceis” de Foucault) que norteia ações e inações de baixo para cima e de cima
para baixo, para não dizerem que critico graduações e patentes superiores, como
sugere a sucessão de poleiros e outras imagens que insinuam as multifacetadas realidades
intra e extramuros de quartéis militares estaduais no RJ, um autêntico caos
posto no colo só da PMERJ, uma assimetria que atordoa a corporação, que, mesmo
assim, não descansa em sua busca desumana pela simetria.
Lamento
ser tão assertivo, embora vago, mas como “um abismo puxa outro” e o “excesso de
tudo é um defeito”, aforismos grafados num remoto passado, as multivariadas imagens
servem para clarear o objetivo desta reflexão beirando talvez a loucura, tal é a
monstruosidade que traduz a ambígua profissão que atualmente mata mais PMs do
que a guerra na Síria, sendo desnecessário sublinhar a hipocrisia dos discursos
oficiais e particulares quando morre alguém por bala perdida em tiroteios
inúteis, com destaque para o papel de monstro firmado por uma mídia que vai ao
orgasmo ao ver PMs abatidos a tiros de fuzil que parecem ser obras de ficção,
algo menos importante no atual contexto de vitória da violência e do crime em
desfavor não apenas da PMERJ, mas de toda a sociedade do infelicitado RJ.
Por
conseguinte, listar aqui as causas do mau funcionamento do militarismo na
PMERJ, pomposo, sim, mas que se demonstra perdedor, seria como carregar a pedra
de Sísifo. Daí a preferência por imagens que o representem em maior ou menor
proporção, direta ou indiretamente, pois nossa ideia não é apresentar soluções
ao grave problema, mas criticar o modelo de militarismo que precisa ser revisto
e descolado de sua cópia federal malformada a partir de leis, regulamentos e
normas copiadas do Exército Brasileiro desde os primórdios de criação dele
próprio e das PPMM no Brasil, com destaque para a PMERJ, esta, única, pois é
mistura de outras que vêm dos tempos da Casa-Grande e da Senzala até a sua
última teratogênese ocorrida em 1975.
Um comentário:
Infelizmente parece não haver uma articulação entre a PMERJ e a ALERJ no sentido de se aprimorar e modernizar os instrumentos legais dos Militares Estaduais do RJ. Em SP em 2001, foi editado o RDPM através de Lei Estadual, consonante com a CF. Daí, o "status" Militar vem sabia e eficientemente, controlar minimamente o poder do Militar Estadual frente o cidadão nas ações de Polícia Ostensiva.
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