“Só nos resta/ Em festa sanguinolenta/ Sob a traidora rosa / O áspide esconder.”
(Alexandre Herculano)
UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) é sigla pomposa
do que hoje se pode ser considerar o maior de todos os estelionatos políticos
do RJ, só perdendo, talvez, para aquele outro havido durante a Guerra do Paraguai,
época em que os senhores dos escravos os mandavam para morrer em lugar de seus
filhos, com promessa escrita da liberdade a ser concedida no retorno
triunfal. Mas a maioria dos “escravos-guerreiros” ficava insepulta no solo onde
os violentos combates eram travados.
Hoje não é muito diferente, já que a falta de mercado
de trabalho é o principal senão o único motivo de jovens cariocas e fluminenses se
entregarem à esperança de liberdade financeira, mesmo que mínima. Daí ingressarem
na PMERJ, vindos de todos os recantos do RJ, e indo parar nas tais UPPs, não sem
antes serem bafejados por discursos eufóricos de autoridades e estudiosos
alinhados à esquerda, dando-lhes o “salvo-conduto” da probidade ainda "não
contaminada pelos PMs mais velhos", e adrede agraciando-os com o título de “espartanos sem vícios" que
vieram “salvar as comunidades do jugo dos traficantes".
Os traficantes, porém, só encenaram a retirada,
sublinhando-se a do Complexo do Alemão em cena televisiva grotesca: um bando de
pés de chinelo correndo morro acima e morro a abaixo, para deleite de todos da sociedade e
ufanismos fardados na entrada do imenso complexo favelado ainda tão inexpugnável como
antes e ostentando sua vitoriosa bandeira vermelha com a sigla CV (vermelha não
por acaso)...
E, se não bastasse o vermelho da bandeira e da
ideologia criminosa (“Paz, Justiça e Liberdade”), há agora o vermelho do sangue
dos PMs manchando o azul da farda e o chão batido ou enlameado das favelas supostamente
pacificadas pela implantação célere de UPPs antes da Copa do Mundo, mas que,
por conta da realidade da derrota para o banditismo, não logrou alcançar em euforia as
Olimpíadas.
E o mais grave de todos os problemas causados por esse desgoverno
de quase dez anos: a finalidade última não foi alcançada, e tudo se resume
atualmente a um Nada em termos de pacificação. Pois as UPPs não passam de Nada
em se tratando de vitória contra o crime, e de um Tudo em se tratando de
derrota banhada em sangue de PMs mais uma vez usados pelos senhores da decisão
ao badalar de qualquer sino conclamando-os à morte, tais como os “300 de
Esparta”.
Tal situação nos inspira a sublinha do belo e trágico poema do grande
poeta contemporâneo Salgado Maranhão, Prêmio Jabuti de Poesia, a mim dedicado
talvez retratando minha tristeza ante a realidade deste mundo louco e
alimentado por um tresloucado e cínico poder:
Farda
(Salgado Maranhão)
Melhor se se chamasse fardo,
em vez de farda, – esse travel
cheque para o sacrifício –
a defender o indefensável.
Melhor se se chamasse alvo:
mural da ira acusadora
contra os próprios personagens
que lhe julgam protetora.
São, normalmente, pretos, pardos,
Pobres, sobras de etnias:
gente fabricada em série,
que ao perder, tira se outra via.
E prossegue o ritual
desse espetáculo de horrores,
de Caim matando Abel
numa guerra sem vencedores.
E prossegue essa torrente
do sangue que não socorre,
o drama de ser ver morrer,
do lado de onde sempre morre.
3 comentários:
Pena ferina, continência padrão, amor pela sua Tropa. Este é o Cel PM Emir Larangeira. Prossiga irmão, temos que mudar esse quadro de extinção PM. Demônios Verdes sempre. Selvvva !!!!
Excelente texto.
Aproveitam-se da ingenuidade e dos sonhos dos mais jovens e novos para alimentar uma politica e estratégia dolosas camuflando demagogia eleitoreira faminta por cargos e verbas.
Dependemos da voz sensata e experiente de quem comprovou na vida profissional a competência e honradez elevadas.
Grato por ser nosso interlocutor.
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