terça-feira, 21 de julho de 2015

RIO EM GUERRA CXIII


“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


"Do G1 Rio - 21/07/2015 06h10 - Atualizado em 21/07/2015 06h10

Janaína Carvalho
Alunos sofrem com invasões e briga de gangues em escolas do RJ

Grupo invade, depreda e furta escola em Vigário Geral.

Jovens são impedidos de estudar por causa de briga de gangues.



Escola República do Líbano, em Vigário Geral, sofre com invasões. (Foto: Janaína Carvalho / G1)

A violência nas escolas do Rio de Janeiro não se restringe apenas às unidades escolares situadas em áreas de risco – nesta segunda-feira (20), o G1 mostrou que 16 mil alunos ficaram sem aula apenas nos 15 primeiros dias de julho. Além da violência externa, professores, alunos e pais convivem ainda com armas, drogas e brigas de gangues.

A escola Municipal República do Líbano, em Vigário Geral, onde um aluno de 13 anos ameaçou um professor com uma arma na cabeça há cerca de um ano, continua enfrentando problemas com violência e, ainda, uso de drogas e depredação por parte dos alunos e invasores.
Já no interior do Estado do Rio, jovens são obrigados a mudar de escola por causa da atuação de gangues e ameaças constantes à integridade física dos menores.

“Já sofri ameaça e agressões, mas como educador eu preciso atuar, minha função é essa, não posso ficar com medo e recuar. Há uns três meses precisei me proteger com uma cadeira para que eles não viessem para cima de mim”, admite um professor do Ensino Fundamental da escola de Vigário Geral.


Polícia faz rondas

A escola possui dois portões, sendo que um deles foi arrebentado pelos menores e atualmente precisa ficar preso por uma barricada. É por esse portão ou pulando o muro da quadra que ocorrem invasões de pessoas que usam o pátio para consumir drogas ou andam pelos corredores furtando e depredando o colégio.

“Já cheguei a presenciar 20 pessoas estranhas quebrando armários, levando material, furtando, correndo e depredando a escola”, afirma o educador.

Ainda de acordo com os docentes, os invasores transitam o tempo topo pela escola e quando a situação fica insustentável, a polícia é acionada, mas normalmente, eles conseguem escapar pulando o muro.

“Os professores do primeiro segmento não conseguem descansar um minuto, mesmo no recreio, quando normalmente podemos dar uma relaxada. Eles precisam ficar extremamente atentos aos pequenininhos”, conta o professor, destacando temer pela integridade das crianças.

A Polícia Militar alegou que faz rondas diárias com viaturas em toda a região e que o comandante do 16°BPM realizou uma reunião com a direção do colégio na sexta-feira (17) para tentar solucionar o problema das invasões.

Gangues impedem alunos de estudar

Em Resende, no Sul Fluminense, os jovens têm enfrentado problemas para assistir às aulas devido a atuação de gangues composta por menores. Segundo mães de alunos da Escola Estadual Oliveira Botelho, na região Central do município, as gangues impedem que jovens de outros bairros estudem em regiões diferentes.

“Os meninos de lá disseram que ele tinha que sair e eu, com medo, consegui a transferência no mesmo ano. Como o sonho dele era fazer curso técnico de Mecânica Automobilística e Industrial, coloquei ele no Senai. Mas mais uma vez ele não pode terminar, pois o Senai também fica em área diferente da que moramos”, lamenta a mãe de um rapaz de 17 anos, que atualmente precisa estudar a duas quadras da rua onde mora.

De acordo com outra mãe, os jovens que pertencem às gangues usam camisa de escola pública e param na portas de outras unidades para arrumar confusão. “Há poucos dias eles invadiram um ônibus que vem do bairro Cidade Alegria com pau, pedaço de cano, e ameaçaram alunos que estavam descendo na porta do colégio [Oliveira Botelho]. Eles estão querendo marcar território, por isso que tem essas agressões”, diz a mãe de um menino de 16 anos, que agora passou a levar e buscar o filho na escola diariamente.

A Polícia Militar informou que o comando do 37°BPM (Rezende) está intensificando o patrulhamento diário para coibir os crimes na região e que há equipes voltadas especificamente para as rondas escolares.

Audiência pública na Alerj

Para tratar da questão da violência no interior das escolas e identificar como isso tem afetado aos professores, em agosto acontecerá uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) para abordar o assunto.

“A violência nas escolas não atinge apenas os alunos. O professor também é vítima. Entendemos que a solução para o problema da violência nas escolas e para o surgimento das gangues não pode ser paliativa e imediata. Precisamos de decisões estratégicas com todos os setores da sociedade envolvidos”, ressalta o deputado estadual Glaucio Julianelli (PSOL), que também sugeriu ao governo do estado a criação de duas delegacias da Criança e do Adolescente Vítimas (DECAV) para atender o Sul Fluminense.

A Secretaria Estadual de Educação destacou que as unidades escolares têm por rotina promover encontros regulares com os pais para tratar desses e outros temas relevantes que possibilitem a ordem e a segurança da comunidade escolar. Algumas delas têm ainda projetos próprios que incentivam o diálogo e o respeito dentro e fora do espaço escolar e, caso necessário, o Conselho Tutelar é acionado.

“Temos a preocupação de tentar trabalhar um clima de paz nas escolas. Trabalhamos a questão do bullying, das relações interpessoais, para que o clima na escola seja mais harmônico e a convivência seja mais saudável. Fazemos um trabalho que se chama Fórum de Práticas Restaurativas, onde construímos grupos de pessoas mais sensíveis ao diálogo para nos ajudar a prevenir conflitos”, ressaltou Heloísa Werneck, assessora técnica de Saúde e Bem-Estar da Seeduc.

Falta de segurança nos portões

Segundo os educadores, a tragédia que aconteceu na escola Tasso da Silveira, em Realengo, há quatro anos, quando um ex-aluno invadiu a escola e matou 12 crianças,
pode se repetir sem dificuldade na escola República do Líbano.

“Uma vez que não há porteiro e o portão está aberto, você não tem nenhuma barreira. Na Tarso, alguns professores conseguiram salvar alunos porque as salas tinham tranca. Aqui, numa situação análoga, vai matar quem quiser, porque não há nenhuma, absolutamente nenhuma, proteção para os alunos”, afirma o professor, destacando que o corpo docente e a direção da unidade fazem o máximo que podem para garantir a segurança dos alunos.

Segundo Adriana Silveira, de 43 anos, mãe de uma das crianças mortas na tragédia e presidente da Associação “Os Anjos de Realengo”, pouca coisa mudou desde a morte das crianças dentro da unidade escolar.

“A violência está muito grande nas escolas. Na verdade, nada mudou. As escolas não têm segurança alguma. Se continuar como está, daqui a pouco os pais não vão querer colocar os filhos na escola. Não podemos colocar nossos filhos na escola e ter a incerteza de que vamos voltar e podemos encontrá-los mortos”, afirmou Adriana, que hoje preside o grupo formado por cerca de 200 pessoas que luta por mais segurança nas escolas.


Pais pedem segurança para os filhos na Escola Tasso da Silveira, Zona Oeste (Foto: Matheus Rodrigues/G1)

Para o Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro (Sepe), a necessidade de concurso público para o cargo de porteiro é essencial para garantir a segurança nas escolas. “Não é uma atribuição de qualquer um abrir o portão de uma unidade escolar. Isso envolve a segurança das crianças. Queremos uma escola que possa garantir para os nossos filhos e nossos alunos uma formação plena em todos os seus aspectos, que ele se sinta seguro, tranquilo e que tenha condições objetivas de alcançar sua aprendizagem”, garante Susana Gutierrez, diretora do Sepe.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, após término do contrato com a empresa que prestava serviço de vigia nas escolas, a prefeitura deu autonomia para cada unidade definir qual esquema seria utilizado nas portarias e sugeriu que fossem colocados funcionários readaptados – aqueles que não podem exercer sua função anterior – nos portões.

MEU COMENTÁRIO

Impressionante como, mesmo diante de fato gravíssimo, os atingidos (vítimas) ou os instados a comentar sobre suas responsabilidades institucionais (políticos e burocratas) tangenciam o assunto; enfim, enfiam-se em caminhos enviesados e não concluem com seriedade coisa alguma. Nem vou comentar sobre a PM, que sempre alega que vai reforçar o policiamento, ou que já o faz, ignorando solenemente que o que faz não funciona no sentido de desestimular os delinquentes juvenis. E nem tudo é culpa das más leis...

Sobre as gangues, nada de novo sob o sol. Lembro os meus tempos de infância na Engenhoca, Niterói/RJ, época em que já havia gangues de bairros e de colégios, assim como garotos “donos de rua”. Enfrentei o problema não sem muito espanto quando fui residir na Engenhoca após a morte do meu pai, em Campos dos Goitacazes, aos 39 anos. Com onze anos de idade, logo fui abordado no portão da minha casa por um desses “donos de rua”: um moleque franzino, mas que mesmo assim atemorizava as crianças devido à fama do pai dele, malandro famoso na época. Mas eu, que não sabia disso, ao ser ameaçado pelo moleque, dei-lhe uma boa surra até ele correr rua acima.

Ainda houve outro incidente com ele durante uma pelada improvisada na rua de chão em que morávamos. Desta feita, meu irmão mais novo somou forças comigo e novamente o moleque saiu em disparada depois de levar mais uma boa surra. Então, para evitar contato com esse moleque, decidi ir à escola passando por outra rua, paralela à que eu morava e “pertencia” ao moleque surrado. Pois não é que na outra rua também havia “dono”?...

Já acostumado ao problema, não me fiz de rogado e surrei este outro, agora com a ajuda da minha irmã mais velha, de doze anos, que comigo ia às aulas. Para variar, pude perceber que o tal “dono da rua” não passava dum fracalhão quando enfrentado pelo modesto garoto plantador de mandioca, abacaxi e café morro acima em Santo Antônio do Imbé, distrito do município de Santa Maria Madalena, onde minha avó paterna possuía uma gleba de terra em meio á mata virgem. Enfim, eu não sabia de brigas, mas era forte. E tive de aprender rápido a brigar, mesmo a contragosto, no bairro niteroiense já infestado de gangues e de “donos de rua”.

Aprendi naquela época que tal fenômeno se resolvia em confrontos diretos entre as gangues de meninos rotos contra garotos esfarrapados, situação em que adultos não se metiam para apartar; em contrário, promoviam esse embates e até apostavam nos brigões como se fosse uma rinha de galo. E a polícia?... Ora, nem existia, e pelo visto esta cultura não se alterou. E hoje a violência está acirrada em função da droga e da existência de facções criminosas servindo de emblema para essas gangues de crianças e adolescentes, muitas delas armadas até com armas de fogo, sem falar em armas de guerra. Agora, portanto, é solução policial e judicial, não havendo mais espaço para bedéis ou porteiros ou mais alguém que os possa representar como meio de intimidação desses moleques já acostumados desde a tenra infância até a matar.

Quando falo desses moleques, refiro-me, claro, a exceções. No fim de contas, isto jamais poderia ser a regra. Mas acontece que a generalização sensacionalista feita pela mídia, que junta fragmentos antigos a outros, novos, acaba por introjetar no espírito dos leitores esta falsa impressão de grandeza da delinquência, deste modo aumentando a insegurança geral, esta, que não passa também dum estado de espírito. Por isso é bem provável que o contingente de crianças amedrontadas, ou de seus pais igualmente em pânico, tenda a aumentar. Porque não se nota nos pais, principalmente, disposição para enfrentar esses poucos delinquentes juvenis, que conseguem atordoar a numerosa coletividade, porém são como aqueles moleques que enfrentei um dia. Ah, eles não passam de fracassados e covardes, bastando um susto forte para se borrarem...

Quem sabe um dia os pais acordam para o fato de que são mais fortes e poderosos e não deveriam transferir suas responsabilidades para o Estado? Afinal, segurança pública é “dever do Estado”, mas é também “responsabilidade de todos”, como reza a Carta Magna. Ainda mais em se tratando dum Estado a mais e mais incapaz de exercer com eficiência e eficácia sua função-síntese, que é a de prestar segurança aos contribuintes que o sustentam mediante pesados tributos. Em vez disso, porém, políticos e burocratas que mamam sem merecer nas tetas do Estado preferem a demagogia barata, o discurso oco e a leniência em nome de ideologias que são como o câncer a consumir em metástase o pouco que resta de dignidade e de coragem no espírito dos cidadãos.

Ora, reagir é preciso! E não apenas cobrando do Estado e virando as costas para todo o resto, em especial para a segurança resumida no direito das crianças à educação num ambiente de paz, não o fictício, mas o real, que, infelizmente, não se vê aqui, mas pode ser visto no Japão, só como exemplo a ser imitado.


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