Bope: a queda do mito?
“O mundo está
perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa
dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)
"16 jul 2015 - O Globo - VERA ARAÚJO varaujo@
oglobo.com. br Colaborou: Ana Cláudia Costa
Operação do Bope põe sob
suspeita oficiais do alto escalão da PM
Corregedoria apura suposto desaparecimento de
dinheiro do tráfico
Uma semana após a Corregedoria da PM ter cumprido
mandados de busca e apreensão na sede do Batalhão de Operações Especiais (Bope),
em Laranjeiras, e nas casas de seis policiais (incluindo três oficiais), a
investigação sobre um suposto roubo de dinheiro do tráfico pode chegar a nomes
do alto escalão da corporação. O Inquérito Policial-Militar (IPM), que está sob
segredo da Justiça, investiga uma operação do Bope realizada no último dia 22
no Morro da Covanca, em Jacarepaguá. Denúncias dão conta de que policiais
teriam se apropriado de uma grande quantidade de dinheiro encontrada dentro de
tonéis. O site da revista “Veja’’ publicou ontem que o valor chegaria a R$ 15
milhões. Porém, uma fonte informou ao GLOBO que teriam desaparecido R$ 1,8
milhão do crime organizado.
DIVULGAÇÃO/PM
Apreensão
A
operação foi coordenada pelo comandante do Bope, tenente-coronel Carlos Eduardo
Sarmento, e pelo coronel Fábio Almeida de Souza, subcomandante do Comando de
Operações Especiais (COE), responsável pelas unidades de elite da PM. A
Corregedoria da PM já afastou três oficiais e três praças que, de acordo com
uma investigação preliminar, são suspeitos de desvio de conduta. Segundo o
órgão de correição, o tenente- coronel Sarmento acompanhou, de dentro de um
caveirão, a tropa que entrou na favela. Já o coronel Fábio de Souza assistia a
imagens da operação no 18º BPM ( Jacarepaguá). Um helicóptero filmava toda a
movimentação policial e, em terra, cada equipe tinha um PM usando uma câmera.
Armas e drogas
encontradas por policiais do Bope no Morro da Covanca: operação está sob
investigação
Segundo a Polícia Militar, foram apreendidos sete
fuzis, uma pistola, 16 granadas e 52 carregadores, além de drogas. No registro
da operação feito na 32ª DP (Taquara), não consta qualquer apreensão de
dinheiro.
INVESTIGAÇÃO SOB
SEGREDO
O corregedor-geral da PM, coronel Victor Yunes, não
quis dar detalhes sobre as investigações:
— Há duas boas razões para a decretação de sigilo
sobre inquéritos policiais em andamento. A primeira delas é o interesse da
própria apuração. A segunda é referente à presunção de inocência, que preserva
àqueles que são, ainda, meros investigados, direito cuja primeira garantia é o
sigilo, ao menos na fase primária da persecução criminal. Nossa única resposta
à sociedade neste momento é que estamos investigando tudo, sob sigilo da
Justiça. Cortar na própria carne é preciso, todavia, as pessoas e a corporação
precisam ser preservadas e respeitadas.
Procurado pelo GLOBO, o comandante do 18º BPM,
coronel Rogério Figueiredo, confirmou que o coronel Fábio de Souza acompanhou a
operação do auditório do batalhão. Ele disse ainda que não havia sido informado
sobre a ida do Bope ao Morro da Covanca:
— A operação era sigilosa. Quando cheguei ao
batalhão, às 7h20m, o coronel Fábio já estava lá. Ele pediu ao meu oficial de
dia para usar o auditório, pois precisava de um lugar para ver as imagens
enviadas do helicóptero.
O subcomandante do COE é investigado num outro IPM
por ter trocado, com subordinados, mensagens de suposto cunho nazista e de
incitação à violência contra um outro oficial.
MEU
COMENTÁRIO
Lembro aqui a badalação do livro Elite da Tropa, da
lavra do estudioso Luiz Eduardo Soares e outros, que deve ter rendido bons
trocados... Depois vieram os filmes, dois, até hoje exaltados pelos
interessados em faturar alguns milhões a mais. Tudo bem!... É assim no mercado
capitalista pátrio, que de ética e moral nada entende ou observa.
É bom também lembrar que num mundo de contrastes, de
sim e não, para existir o herói há de haver como contraponto o vilão. No caso
em questão, como todos sabem, o livro e os filmes enquadraram a tropa comum da
PMERJ como vilã (“barriga azul”) e o BOPE como o herói absoluto desta insana
ficção que foi entendida pelo povo como realidade. Pior é que contaminou o
espírito do próprio PM, que passou a ser ver ou ser visto como vilão (“barriga
azul” - corrupto, extorsionário, matador etc.) ou como herói (bopeano da farda
preta).
Foi com o espírito deste modo contaminado que o Batalhão
de Choque (BPCh) acordou do seu natural estado estacionário, como sói
permanecer toda tropa de controle de distúrbios civis. Porque o certo é ela
ficar aquartelada, em treinamento específico, para agir em situações típicas de
desordens públicas coletivas. O BPCh, porém, não foi apenas acordado, mas posto
em favelas como tropa de combate a traficantes, em apoio à tropa do BOPE que
vinha desgastada de tanto ter de agir em socorro às UPPs atacadas
insistentemente por traficantes.
Esta nova
incumbência do BPCh animou seus integrantes a assumirem o papel de “guerreiros”,
instituindo uma nova cultura operacional, ambígua em todos os sentidos, pois,
sem ser BOPE nem “barriga azul”, havia de ser alguma coisa, afinal. Daí é que
seus integrantes, em especial alguns oficiais, já menoscabando a missão básica
da tropa de controle de distúrbios civis, viria a inventar um meio-termo de
tropa de combate sem ser BOPE. Eis aí o resultado da teratogenia posta no
último parágrafo da matéria assinada pela jornalista Vera Araújo com seu
excelente poder de síntese: “O subcomandante do COE é
investigado num outro IPM por ter trocado, com subordinados, mensagens de
suposto cunho nazista e de incitação à violência contra um outro oficial.”
Bem lembrado o fato, importante em muitos sentidos, pois a badalação das
UPPs sobrecarregou o BOPE, que se vem tornando espécie de “tropa da vingança”
ao reagir em favelas após ataques a PMs lotados em UPPs, fator negativo
exuberante e inegável, pois são recordistas as mortes de novatos nessas favelas
“pacificadas”, demonstrando inelutavelmente que não houve pacificação alguma. É
tudo ficção, tal como o endinheirado pacote da “Elite da Tropa”/“Tropa de Elite”.
Torno à ideia de que há desvios de conduta até no Olimpo ou nos Céus,
menos no âmbito ascético de alguns organismos poderosos, porque seus
integrantes não se investigam nem são investigados por ninguém. E, se eventualmente
o são, corre tudo longe dos ouvidos e olhos do povo. E deste controverso ponto manifesto
minha preocupação não com o suposto desvio de conduta de alguns integrantes do
BOPE, que começa com denúncia anônima favelada. Prendo-me ao fato de ver ainda em
ação um oficial superior investigado por fato gravíssimo, que incluiu atentado
contra o lar de outro oficial superior, ex-comandante do BPCh, e por
insinuações maliciosas dando conta de que a tropa comum, já ofendida pela pecha
de “barriga azul”, volte a ser atacada por seus próprios pares com novo apodo
depreciativo: “peito de ladrilho”.
Mas, por conta de não querer prender ao peito as medalhas de honra ao
mérito por excelência em cursos de formação e aperfeiçoamento e outras de
bravura e destemor, e mais outras de mérito individual por serviços prestados,
que são difíceis de se conquistar, mas se prendem ao peito dos “barrigas azuis”,
os apaixonados pelo combate em favelas e não mais interessados na missão
original do BPCh decidiram instituir cursos e medalhas semelhantes ao do BOPE,
para se diferenciarem dos “barrigas azuis”... E, por meio desses cursos, que vêm
produzindo risco de vida para alguns por falta de critério no seu planejamento
e na sua execução, os amantes de medalhas coletivas tentam se
diferenciar do que jocosamente designaram como “peitos de ladrilho”.
Bem, tomara que a jornalista Vera Araújo não pare por aí e se aprofunde
na sua investigação jornalística, pois ainda há muito caroço neste angu...
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