sexta-feira, 17 de julho de 2015

RIO EM GUERRA CIX

Bope: a queda do mito?

“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)


"16 jul 2015 - O Globo - VERA ARAÚJO varaujo@ oglobo.com. br Colaborou: Ana Cláudia Costa

Operação do Bope põe sob suspeita oficiais do alto escalão da PM
Corregedoria apura suposto desaparecimento de dinheiro do tráfico
Uma semana após a Corregedoria da PM ter cumprido mandados de busca e apreensão na sede do Batalhão de Operações Especiais (Bope), em Laranjeiras, e nas casas de seis policiais (incluindo três oficiais), a investigação sobre um suposto roubo de dinheiro do tráfico pode chegar a nomes do alto escalão da corporação. O Inquérito Policial-Militar (IPM), que está sob segredo da Justiça, investiga uma operação do Bope realizada no último dia 22 no Morro da Covanca, em Jacarepaguá. Denúncias dão conta de que policiais teriam se apropriado de uma grande quantidade de dinheiro encontrada dentro de tonéis. O site da revista “Veja’’ publicou ontem que o valor chegaria a R$ 15 milhões. Porém, uma fonte informou ao GLOBO que teriam desaparecido R$ 1,8 milhão do crime organizado.


DIVULGAÇÃO/PM



Apreensão

A operação foi coordenada pelo comandante do Bope, tenente-coronel Carlos Eduardo Sarmento, e pelo coronel Fábio Almeida de Souza, subcomandante do Comando de Operações Especiais (COE), responsável pelas unidades de elite da PM. A Corregedoria da PM já afastou três oficiais e três praças que, de acordo com uma investigação preliminar, são suspeitos de desvio de conduta. Segundo o órgão de correição, o tenente- coronel Sarmento acompanhou, de dentro de um caveirão, a tropa que entrou na favela. Já o coronel Fábio de Souza assistia a imagens da operação no 18º BPM ( Jacarepaguá). Um helicóptero filmava toda a movimentação policial e, em terra, cada equipe tinha um PM usando uma câmera.

Armas e drogas encontradas por policiais do Bope no Morro da Covanca: operação está sob investigação

Segundo a Polícia Militar, foram apreendidos sete fuzis, uma pistola, 16 granadas e 52 carregadores, além de drogas. No registro da operação feito na 32ª DP (Taquara), não consta qualquer apreensão de dinheiro.

INVESTIGAÇÃO SOB SEGREDO

O corregedor-geral da PM, coronel Victor Yunes, não quis dar detalhes sobre as investigações:

— Há duas boas razões para a decretação de sigilo sobre inquéritos policiais em andamento. A primeira delas é o interesse da própria apuração. A segunda é referente à presunção de inocência, que preserva àqueles que são, ainda, meros investigados, direito cuja primeira garantia é o sigilo, ao menos na fase primária da persecução criminal. Nossa única resposta à sociedade neste momento é que estamos investigando tudo, sob sigilo da Justiça. Cortar na própria carne é preciso, todavia, as pessoas e a corporação precisam ser preservadas e respeitadas.

Procurado pelo GLOBO, o comandante do 18º BPM, coronel Rogério Figueiredo, confirmou que o coronel Fábio de Souza acompanhou a operação do auditório do batalhão. Ele disse ainda que não havia sido informado sobre a ida do Bope ao Morro da Covanca:

— A operação era sigilosa. Quando cheguei ao batalhão, às 7h20m, o coronel Fábio já estava lá. Ele pediu ao meu oficial de dia para usar o auditório, pois precisava de um lugar para ver as imagens enviadas do helicóptero.

O subcomandante do COE é investigado num outro IPM por ter trocado, com subordinados, mensagens de suposto cunho nazista e de incitação à violência contra um outro oficial.

MEU COMENTÁRIO

Lembro aqui a badalação do livro Elite da Tropa, da lavra do estudioso Luiz Eduardo Soares e outros, que deve ter rendido bons trocados... Depois vieram os filmes, dois, até hoje exaltados pelos interessados em faturar alguns milhões a mais. Tudo bem!... É assim no mercado capitalista pátrio, que de ética e moral nada entende ou observa.

É bom também lembrar que num mundo de contrastes, de sim e não, para existir o herói há de haver como contraponto o vilão. No caso em questão, como todos sabem, o livro e os filmes enquadraram a tropa comum da PMERJ como vilã (“barriga azul”) e o BOPE como o herói absoluto desta insana ficção que foi entendida pelo povo como realidade. Pior é que contaminou o espírito do próprio PM, que passou a ser ver ou ser visto como vilão (“barriga azul” - corrupto, extorsionário, matador etc.) ou como herói (bopeano da farda preta).

Foi com o espírito deste modo contaminado que o Batalhão de Choque (BPCh) acordou do seu natural estado estacionário, como sói permanecer toda tropa de controle de distúrbios civis. Porque o certo é ela ficar aquartelada, em treinamento específico, para agir em situações típicas de desordens públicas coletivas. O BPCh, porém, não foi apenas acordado, mas posto em favelas como tropa de combate a traficantes, em apoio à tropa do BOPE que vinha desgastada de tanto ter de agir em socorro às UPPs atacadas insistentemente por traficantes.

Esta nova incumbência do BPCh animou seus integrantes a assumirem o papel de “guerreiros”, instituindo uma nova cultura operacional, ambígua em todos os sentidos, pois, sem ser BOPE nem “barriga azul”, havia de ser alguma coisa, afinal. Daí é que seus integrantes, em especial alguns oficiais, já menoscabando a missão básica da tropa de controle de distúrbios civis, viria a inventar um meio-termo de tropa de combate sem ser BOPE. Eis aí o resultado da teratogenia posta no último parágrafo da matéria assinada pela jornalista Vera Araújo com seu excelente poder de síntese: “O subcomandante do COE é investigado num outro IPM por ter trocado, com subordinados, mensagens de suposto cunho nazista e de incitação à violência contra um outro oficial.”

Bem lembrado o fato, importante em muitos sentidos, pois a badalação das UPPs sobrecarregou o BOPE, que se vem tornando espécie de “tropa da vingança” ao reagir em favelas após ataques a PMs lotados em UPPs, fator negativo exuberante e inegável, pois são recordistas as mortes de novatos nessas favelas “pacificadas”, demonstrando inelutavelmente que não houve pacificação alguma. É tudo ficção, tal como o endinheirado pacote da “Elite da Tropa”/“Tropa de Elite”.

Torno à ideia de que há desvios de conduta até no Olimpo ou nos Céus, menos no âmbito ascético de alguns organismos poderosos, porque seus integrantes não se investigam nem são investigados por ninguém. E, se eventualmente o são, corre tudo longe dos ouvidos e olhos do povo. E deste controverso ponto manifesto minha preocupação não com o suposto desvio de conduta de alguns integrantes do BOPE, que começa com denúncia anônima favelada. Prendo-me ao fato de ver ainda em ação um oficial superior investigado por fato gravíssimo, que incluiu atentado contra o lar de outro oficial superior, ex-comandante do BPCh, e por insinuações maliciosas dando conta de que a tropa comum, já ofendida pela pecha de “barriga azul”, volte a ser atacada por seus próprios pares com novo apodo depreciativo: “peito de ladrilho”.

Mas, por conta de não querer prender ao peito as medalhas de honra ao mérito por excelência em cursos de formação e aperfeiçoamento e outras de bravura e destemor, e mais outras de mérito individual por serviços prestados, que são difíceis de se conquistar, mas se prendem ao peito dos “barrigas azuis”, os apaixonados pelo combate em favelas e não mais interessados na missão original do BPCh decidiram instituir cursos e medalhas semelhantes ao do BOPE, para se diferenciarem dos “barrigas azuis”... E, por meio desses cursos, que vêm produzindo risco de vida para alguns por falta de critério no seu planejamento e na sua execução, os amantes de medalhas coletivas tentam se diferenciar do que jocosamente designaram como “peitos de ladrilho”.

Bem, tomara que a jornalista Vera Araújo não pare por aí e se aprofunde na sua investigação jornalística, pois ainda há muito caroço neste angu...


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