quarta-feira, 17 de junho de 2015

Teatro em Paty do Alferes


Assisti a uma peça teatral em Paty do Alferes. E eu, que nem sabia haver teatro por aqui?... Mas vamos à peça... Genial! O autor e ator principal, idoso como eu, foi coadjuvado por um jovem não menos talentoso que ele.

Com duração de uma hora e meia, no mais ou no menos, a encenação foi emocionante. Em momento algum os protagonistas esqueceram o texto. Encenação sem dúvida arduamente treinada, os diálogos foram perfeitos, assim como a expressão facial e corporal de ambos, tudo precisamente conectado ao enredo.

Pelo que pude inferir, o enredo foi inspirado em Pablo Neruda, com poucas pitadas de Machado de Assis e Jorge Amado. Também me pareceu que o ator pôs no palco algumas vivências dele, infantis e juvenis, e também do período adulto em que foi paraquedista.

O bem elaborado cenário, formado pelo nylon de dois ou mais paraquedas, completava-se com material de camuflagem utilizado pelas Forças Armadas. Mas as cortinas de nylon da retaguarda serviram para uma bela encenação, pelo jovem, transformando-a em cruz para que ele personificasse o Cristo crucificado.

Excelente e emocionada encenação!...

Já o personagem central, aparentando 70 anos de idade, interpretou a sua parte com uma só roupa: um pijama ostentando ao peito algumas medalhas de mérito militares, forjando assim o militar “de pijama”. O jovem ator permaneceu por quase toda a peça com uniforme militar e botim marrom, este, específico de militar testado em salto de paraquedas. Só no final ele ressurge com pijama idêntico ao do seu “eu” mais velho, com o qual se confunde numa só pessoa forjando uma só pessoa.

Impressionou-me, sim, a riqueza interpretativa dos personagens significando uma só pessoa em dois momentos da vida, o mais jovem questionando permanentemente o mais velho, com este se defendendo sem muita convicção.

Insistia em valorizar sua conduta moral como fundamento de sua questionável felicidade, reclamando veementemente da desatenção familiar e da solidão que recebera como pagamento por seu modo de vida pautado em valores importantes, porém somente para ele, dentre os quais não se incluía o amor.

E por mais que ele se defendesse mais se atolava ante as críticas que recebia do seu “eu” mais jovem, acabando por admitir ter tido amante na vigência do seu casamento. Enfim, o perfil de Pablo Neruda embutido na trama, ainda reforçado pela indicação de um câncer de próstata, causa mortis do poeta chileno questionada por familiares que ainda hoje insistem em assassinato promovido pela ditadura de Augusto Pinochet.

Mas a excelência da peça não logrou lotar o pequeno teatro. Num município com aproximadamente 28 mil habitantes, esperava-se um teatro cheio, já que reduzido, talvez, a mais ou menos cem lugares. Mesmo assim, o teatro estava vazio. Que pena! O povo de Paty do Alferes perdeu ótima oportunidade de assistir a um espetáculo de altíssimo nível cultural. Ou então faltou divulgação ou, pior, o povo não estava à altura dele...

Prefiro crer que falhou a difusão, eu mesmo não ouvi nenhum carro com serviço de autofalante, tão corriqueiro em Paty do Alferes, avisando ao povo pelas ruas. Que fazer?...

O produtor e os atores anunciaram que a peça será encenada em Rio das Ostras, Saquarema, Vassouras e outros lugares. Recomendo aos meus leitores. Se a trupe passar por seus municípios, não percam a peça, é espetáculo de primeira grandeza!

Um comentário:

Anônimo disse...

Também não percebi divulgação a respeito. É normal no Brasil. Faz-se propaganda daquilo que não presta, do mau gosto, da grosseria, da falta de estética, da música barulhenta e vulgar, apenas.