“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
Do G1 Rio - Gabriel Barreira
12/06/2015
05h55 - Atualizado em 12/06/2015 08h50
'Existem
mil novos Sandros por aí', diz Yvonne Bezerra sobre 15 anos do 174
Sequestrador de ônibus
chamava ativista de 'tia' e pedia sua intermediação.
Ex-capitão diz que falhas na ação foram marco para mudanças no Bope.
Polícia tenta negociar rendição de Sandro Barbosa
(Foto: Reprodução / GloboNews)
A atuação desastrada da Polícia Militar do Rio na noite de 12 de junho
de 2000 precipitou duas mortes: a de um homem fadado à tragédia e a de uma de
suas vítimas. Sandro Barbosa do Nascimento, que já fora testemunha ocular do
assassinato da mãe e de "irmãos", morreu por asfixia em um carro da
PM, horas depois de sequestrar um ônibus da linha 174, na Zona Sul da cidade. A refém Geísa
Gonçalves perdeu a vida pouco antes, pelas mãos dele. Foi o capítulo final de
uma história que durou 4 horas e 30 minutos, onde um sobrevivente da Chacina da
Candelária manteve 10 passageiros sob a mira de uma arma.
Ao final da negociação, atacado por PMs que
erraram a mira, ele reagiu: apertou o gatilho e provocou a morte da refém
Geísa, que estava grávida. Horas antes, quando agentes tentavam convencer a
rendição aos gritos, ele berrava de volta na janela do coletivo: "chama a
Tia Yvonne". Ela, porém, não foi encontrada.
Até hoje, a ativista e artista plástica Yvonne
Bezerra de Mello acredita que poderia ter evitado as duas mortes. Mas,
sobretudo, acredita que – junto do poder público – poderia ter mudado o destino
de Sandro.
Antes mesmo da tragédia da Candelária, em 1993,
quando oito pessoas – entre elas seis menores – morreram, ela ia ao encontro de
Sandro e de outros 70 jovens para distribuir comida e tentar apresentar a eles
um outro universo. Por atos como este, Yvonne levanta polêmica e divide
opiniões. Para seus críticos, é a "mulher que ajuda bandidos" e, por
eles, já
chegou a ser ameaçada de morte.
Yvonne era uma das poucas pessoas com quem Sandro
se abria. Revelara a ela o momento em que viu, ainda criança, a mãe ser
assassinada. Anos depois, assistiria à morte de amigos em sua nova
"casa": a calçada da igreja da Candelária, no Centro do Rio.
Chamava-os "irmãozinhos". No episódio, PMs deram fim a moradores de
rua suspeitos de praticar delitos. A ativista social o conheceu ali.
Índices de violência cada vez mais alarmantes, que
aumentam a sensação de insegurança, levam Yvonne a não descartar o aparecimento
de "novos grupos de extermínio". Ela teme pela reprodução de
tragédias semelhantes, como a da Candelária e do sequestro do 174.
A solução para evitá-las, segundo ela, seriam
políticas sociais mais complexas e justas. "Você não pode criar crianças
em uma área bélica, é impossível. Gente morta todos os dias faz com que, na
cabeça delas, isso seja normal. Existem mil novos Sandros por aí, já estão nas
ruas", ela diz.
No início de 2014, um dos "Sandros" foi
parar amarrado nu em um poste da Zona Sul do Rio. "Justiceiros"
usaram uma tranca de bicicleta para prender um suspeito de um assalto na rua.
Foi Yvonne quem fotografou e divulgou a história, voltando a ser muito
criticada em redes sociais. Seus detratores diziam que ela acolhia
"marginais".
"Hoje tem meninos em todo o lugar. Segurança
pública é depois: quando a pessoa está roubando. Antes de chegar na rua
roubando, é um problema social", afirma. Na ocasião, uma amiga revelou ao G1 que ela fora ameaçada.
'Cenário parecido', diz consultor
Ex-capitão do Bope e produtor do
documentário "Ônibus 174", o consultor de segurança Rodrigo Pimentel
diz que o sequestro foi um marco para a mudança do Batalhão de Operações
Especiais (Bope). Ele não descarta que considerações políticas tenham se
sobreposto a considerações técnicas durante a ação policial, mediada pelo
batalhão. Como mostra o documentário, um dos policiais que participava da
negociação estava ao telefone com o então governador do Rio, Anthony Garotinho.
Apesar das falhas, ou justamente por causa delas, ele vê
uma enorme evolução. "Depois do sequestro ao 174, o Bope não perdeu mais
reféns no Rio. Já são 15 anos", celebra.
A insegurança, no entanto, persiste. "Temos a menor
taxa de homicídio dos últimos 24 anos, mas para o carioca vivemos um cenário
muito parecido. Segurança pública não é número, é mais percepção. Atribuo isso
a pouca ostensividade da polícia", diz o ex-capitão.
MEU
COMENTÁRIO
Que cena!...
A fisionomia animalesca de Sandro, mui clara na foto, bem indica que não havia espaço para negociar absolutamente nada com ele. Cabia, sim, a ação isolada de um sniper e ponto final!... A moça grávida estaria viva e Sandro no lugar para o qual partiu de forma desastrosa, somando-se o episódio a outras tantas trapalhadas policiais idênticas por falta de profissionalismo e, principalmente, por interferências políticas num assunto em que só cabia a ação cirúrgica da polícia para salvar a moça.
A fisionomia animalesca de Sandro, mui clara na foto, bem indica que não havia espaço para negociar absolutamente nada com ele. Cabia, sim, a ação isolada de um sniper e ponto final!... A moça grávida estaria viva e Sandro no lugar para o qual partiu de forma desastrosa, somando-se o episódio a outras tantas trapalhadas policiais idênticas por falta de profissionalismo e, principalmente, por interferências políticas num assunto em que só cabia a ação cirúrgica da polícia para salvar a moça.
Lembro-me
bem de que Sandro, – totalmente desnorteado e ameaçador, – propiciou várias
chances de ser abatido por um atirador de elite. E era o que deveria ser feito,
e não precisava ser o BOPE, pelo menos da forma como aconteceu, ou seja,
atropelando um comandante de batalhão que possuía experiência suficiente para
conduzir as negociações ou decidir pela ação do atirador de escol. Mas a
mudança de comando foi atabalhoada e dentro da cruel ótica de que somente o
BOPE é capaz de solucionar problemas como aquele. Pergunto: “Por acaso, ainda
hoje, o BOPE é onipresente? E se o fato tivesse ocorrido em Campos?...”
Ora,
o desfecho trágico foi culpa da falta dum comando firme, de modo que não
deixasse espaço para palpites políticos ou intervenções semelhantes. Foi esta a
causa da morte estúpida da moça, sendo certo que o fim de Sandro se deu por
acidente, pois a tentativa de dominá-lo, sem a devida experiência (aí sim!),
produziu a segunda tragédia dentro da viatura policial. Porque não creio que
fosse decorrente de ira policial contra ele. Neste ponto, minha experiência
dita que não havia motivação para tanto, o rapaz estava na fase mais aguda da
droga, possesso mesmo, e contê-lo seria tarefa para especialistas, talvez com o
uso de camisa de força antes de trancá-lo na caçamba da viatura.
Na
verdade, não há romantismo na história de Sandro. Deveria haver, sim,
romantismo na história da moça grávida, que nada fez para merecer o fim trágico
que a tirou do mundo. O fim de Sandro foi fruto de sua própria história de
vida, que é a de muitos adolescentes drogados que continuam a praticar crimes,
agora estimulados para o uso de facas. Aí, sim, a ausência do Estado põe no
centro da sala, como heroína, uma pessoa altruísta.
Que
me desculpe a heroína (não está entre aspas, é heroína mesmo!), mas uma andorinha
só não faz verão!... O seu trabalho de conscientização, na verdade, não foi
entendido. A legião de meninos de rua só se ampliou de lá para cá, assim como
os crimes de sangue perpetrados por esses menores desviados da linha reta por
não saberem nem se ela existe. E eles tendem à crucificação por uma lei a
diminuir a maioridade penal sem muito esforço mental da sociedade, esta, que se
sente atendida pelo falido e corrupto Estado e se dá por satisfeita. Sim, que se
danem os menores infratores, e com eles se danem, também, os abandonados à
própria sorte pela sociedade clientelista e seu Estado
Interventivo-paternalista!
Não
sei se foi boa a ideia de trazer de volta este fragmento de desastre. Mas ele serve,
sim, para provar que nada mudou de lá para cá, e agora a vitima central, dentre
muitas, é o médico esfaqueado e morto na Lagoa Rodrigo de Freitas. Sim, eis o
novo emblema a ser explorado pelo cinismo de uma sociedade que se contenta em
ler esta matéria e esquecê-la no dia seguinte. Como sempre, aliás...
Obs.: não reproduzi os vídeos da matéria, pois estão disponíveis no G1.
Obs.: não reproduzi os vídeos da matéria, pois estão disponíveis no G1.
Um comentário:
Esse tralha, o tal de Sandro, foi um assíduo frequentador do Instituto padre Severino.
pergunta que não quer calar : por que a tia Yvonne não levou esse tralha pra casa dela ? Talvez assim toda essa ação desastrosa viesse a ser evitada e tia Yvonne não ficaria só no lindo discurso políticamente correto.
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