“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
MEU COMENTÁRIO
Ao longo de minha
carreira na Polícia Militar, - que antes era na PMRJ, com sua própria história
e suas intocáveis tradições, mas depois passou a ser miscelânea abominada por
todos os oficiais, graduados e praças jogados num mesmo “saco de gatos”, sem
direito a chiadeiras, a partir da malsinada fusão do Estado do Rio de Janeiro
com o Estado da Guanabara, - ao longo de minha carreira na Polícia Militar jamais
vivenciei momento de tanto estupor.
Mas devo ser honesto
para retroceder aos idos brizolistas e às invencionices e loucuras que surgiram
a partir deste governo populista que virou a PMERJ de cabeça para baixo, com
muitos oficiais e praças adesistas assumindo um papel ideológico “de esquerda”,
sobremodo conveniente ao momento. A começar pelos cargos comissionados que
foram jorrados na corporação para dividir os xerimbabos brizolistas daqueles
que não se curvaram ao caudilho, este, que chegou com mania de destruição do
espírito corporativo que sustentava uma tropa já desgastada por insólita
mistura com aparente homogeneidade na existência, mas que era heterogênea na
essência.
De tal modo que os
xerimbabos logo começaram seu intenso e descarado patrulhamento ideológico, logo
designando reconhecidos combatentes como “fodões”, e ironicamente se
autointitulando “bundões”, ou seja, “intelectuais”, “defensores dos direitos
humanos”, “administradores” e demais filigranas do gênero. Deste modo, ganharam
mérito os que perseguiam a tropa por meio de estruturas de controle interno
especializadas em abusos disciplinares.
Foi assim,
exatamente assim que se instituiu um sistema inibitório sem precedentes na já conturbada
história da PMERJ, gerada em teratogênese no ano de 1975. E enquanto o monstro
crescia do lado de dentro, do lado de fora o banditismo prosperava num vergonhoso
rasto de impunidade garantido por um governo comprometido até a razi do último
cabelo com as facções criminosas instaladas em favelas, em especial com o CV...
Ora bem, não posso
deixar passar em brancas nuvens a reação de dois importantes coronéis da PMERJ,
um deles oriundo da antiga PMEG e o outro oriundo da antiga PMRJ, sendo o
primeiro o atual presidente da AME, e o segundo, ex-comandante-geral, porém ambos
igualados em alto valor pessoal e profissional.
Mas prefiro não me
prender a elogios, sei que ambos não se importam com afagos. Vou então estender
meu comentário postando mais uma vez uma longa reflexão para conhecimento dos
jovens oficiais de hoje, em especial dos tenentes, capitães e majores. Porque
destes sairão os futuros líderes de uma corporação que atravessa talvez a pior
fase de sua turbulenta existência.
Mas creio que o que
hoje ocorre é resultado de ontem, é efeito de causas complexas e conexas que
precisam ser lembradas e relembradas sempre que possível. É o que farei em
homenagem aos valorosos coronéis que subscrevem os textos publicados no
Informativo da AME/RJ, que aqui reproduzo como fonte de reflexão, não sendo obrigatória
a leitura, o comentário está feito e se complementa no fim do texto em
destaque.
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
A
RECONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA
(por Emir Larangeira)
INTRODUÇÃO
Devido
a circunstâncias várias, em especial por me sentir vitimado por um sistema
situacional criminoso, decidi publicar uma sequência de raciocínio que guardo
faz tempo. Trata-se de assunto grave, mas que vem passando ao largo do
interesse geral da sociedade. Portanto, o tema deve ser visto como espécie de
causa passada a produzir efeitos presentes e decerto futuros. Daí a minha
decisão de divulgá-lo: para que a sociedade analise-o como um sistema e não
como assunto isolado, pois é certo que não existe assunto isolado no nosso mundo,
tudo é sistema interferindo em sistemas num círculo que deve ser virtuoso, mas
costuma ser vicioso.
É
o caso do submundo crime que assola o ambiente social do RJ, sendo certo que
muitas de suas variáveis antecedentes, causais e intervenientes estão no mundo
oficial a produzirem efeitos danosos para alguns e saudáveis para outros.
Esta
confusão de valores e antivalores tem levado ao infortúnio muitas gentes
decentes e beneficiado muitas gentes desonestas acomodadas em ONGs e até em
organismos públicos sustentados pelos contribuintes. De modo que, na evolução
do raciocínio que se inicia com esta parte, pretendo aguçar a observação das
pessoas que, no mínimo, devem estranhar o que aponto com gravidade, mas não
poderão ignorar, pois trato de assuntos reais acontecidos num submundo e num
mundo infestados de criminosos pés de chinelo e de colarinhos engomados.
Dito,
vamos então ao tema, que começa com a chacina de Vigário Geral (agosto de 1993),
mas retrocederá também no tempo para que tudo seja minimamente compreendido. A
partir daí, que cada um infira suas próprias conclusões:
1ª
PARTE
O
BRIZOLISMO EM AÇÃO
Apenas como referência central de um
imaginário continuum histórico,
reporto-me aos nefastos
episódios de PMs e moradores de Vigário Geral brutalmente assassinados
respectivamente em 28/29 ago 93 (sábado/domingo) e 30/31 ago 93
(domingo/segunda).
Esses
dois fatos bem refletiram o resultado de uma série de desmandos estatais por
obra consciente de uma facção política que em muito contribuiu para a desordem
pública no Estado do Rio de Janeiro. Como essa facção será muito citada, devo
explicar seu significado escudado no notável historicista e cientista político
Moisés I. Finley, em sua obra "Democracia Antiga e Moderna", Ed. Graw
Ltda, 1988, págs. 60/1:
“A facção é o maior mal e o perigo mais comum. Facção é a
tradução convencional da palavra grega stasis,
uma das mais extraordinárias que podem ser encontradas em qualquer língua. Sua
raiz significa colocação, montagem, estatura, estação. Sua gama de significados
políticos pode ser mais bem ilustrada apenas pela relação de definições
dicionarizadas que podem ser encontradas: partido, partido formado com fins
sediciosos, facção, sedição, discórdia, divisão, dissensão e, finalmente, um
significado bem abonado que os dicionários incompreensivelmente omitem, a
saber: guerra civil ou revolução.”
No
início, tudo parecia fruto do pânico generalizado entre as atônitas e
incompetentes autoridades públicas e seus agentes – a facção – designados para
apurar a chacina de Vigário Geral, pois o assassinato dos 04 (quatro) PMs na
véspera foi imediatamente esclarecido e atribuído a traficantes homiziados na
favela. Mas hoje, passados os anos, vencido o momento mais turbulento, e
aprofundada a reflexão, vê-se que outras variáveis frias e calculistas, de
cunho meramente político e ideológico, já estavam engendradas na cabeça
daquelas autoridades públicas.
Na
verdade, tudo funcionou "por música", tendo apenas os dirigentes e
auxiliares da Polícia Civil, da Polícia Militar e do Ministério Público – a
facção – servido voluntariamente como instrumentos da diabólica solução (fabricação
de culpados), tudo para livrar o atônito governante Brizola de sua própria
tragédia já anunciada: a intervenção
federal.
A
facção, formada por subservientes oficiais e praças da PMERJ, por policiais
civis e por alguns promotores de justiça, vinha adrede motivada por diversos
incentivos pessoais e profissionais, amparada pela tese brizolista dos
"direitos humanos", via unívoca que sempre visou a imposição da
inércia do aparelho policial em detrimento da pujança do crime organizado, especialmente
do CV.
Na época florescia na PMERJ a cultura do "operacional" e do
"administrador", preconceito instalado no transcurso do primeiro
comando do Cel PM Carlos Magno Nazareth Cerqueira, aliás, muito conveniente
durante o primeiro período de brizolismo (1983-1986). Mas o que era apenas
cultura passou a ser no segundo momento de poder brizolista (1991-1994) um
objetivo mais claro: quem era "operacional" –"fodão" –
passou a ser "bandido" e perseguido como tal pela facção. Em
compensação, os "administradores" – "bundões" – eram
privilegiados por promoções e cargos de confiança. Dividiu-se a PMERJ, deste
modo, em dois segmentos distintos, instituindo-se um cisma que atingiu limites
insuportáveis.
O
preconceito contra os "fodões" foi elevado ao extremo de o oficial
não poder mais portar arma, pois servia para designá-lo como possível
"bandido" (“fodão”). Mas isto
não era por acaso...
Neste
ponto, vale sublinhar algumas reflexões escudadas na obra sobre o CV, do Jornalista Carlos Amorim, com o
título "COMANDO VERMELHO – A História Secreta do Crime
Organizado", de onde serão feitas abstrações na sequência desta
abordagem. Desta maneira, os leitores poderão comparar fatos concretos com os
registros históricos do livro em sublinha, com ressalva do autor de que tudo o
está escrito fora fruto de "doze anos de pesquisa", que "não é
uma obra de ficção", e que "todos os nomes e locais são
verdadeiros". E assim se reporta Carlos Amorim à questão dos direitos
humanos no período de governo Brizola:
“Anunciou uma política de preservação dos direitos
humanos, numa cidade onde os grupos de extermínio agem abertamente. Colocou na
Secretaria de Justiça um ex-perseguido político e companheiro de partido,
Vivaldo Barbosa (...). Brizola chega a nomear um ex-preso político da Ilha
Grande, José Carlos Tórtima, Diretor de Presídio. O crime organizado explorou
com habilidade cada uma dessas demonstrações de civilidade do governo estadual.”
Ainda
nesta linha de raciocínio, Carlos Amorim faz outra afirmação:
“Os limites impostos à ação policial nos morros da cidade
permitiram o enraizamento das quadrilhas (...). A paz no morro é sinônimo de
estabilidade nos negócios (...). Mas o respeito ao eleitor favelado – que decide eleições no
Grande Rio – ajudou indiretamente
na implantação das bases de operação do banditismo organizado (...). Estava
determinado a consolidar a base política que se apoiava enfaticamente nos
setores pauperizados. Na eleição de 82, pesou o apoio da Federação das Favelas
(FAFERJ) e da Federação das Associações de Moradores (FAMERJ). Mas o fato é: o
crime organizado usou tudo isso para crescer (...). O desenvolvimento do
Comando Vermelho foi o subproduto de uma Administração que respeitou o cidadão.”
Louvando a fina ironia do
jornalista, este foi o
clima enfrentado por oficiais e praças da PMERJ considerados "fodões"
pelos novos "bundões", que antes também possuíam o oportuno perfil de
"fodões": os miméticos oficiais que se aliaram na conveniente defesa
dessa tese política do PDT
adaptada aos conceitos do brizolismo que recomeçava.
Mas
o poder concentrado por esses facciosos estava mais organizado e maior do que
se pensava. Há muito extrapolara o âmbito dos quartéis, porque a facção PM, –
formada principalmente por oficiais e praças da PM.2 (Serviço Secreto da PM) e
Chefia de Polícia Militar, – já estava atuando como "braço de força"
do Ministério Público, todos voltados para a "apuração política" da
famigerada "chacina dos onze de Acari", que se transformou em movimento
político-petista-pedetista e ganhou notoriedade internacional, sendo as "Mães de ACAri"
comparadas às "Madres De La Plaza de Mayo" (cuidaremos deste tema em outra
parte).
Também
a Polícia Civil organizou o seu "braço de força" vinculado ao
Ministério Público, cuja preocupação fundamental era demonstrar
"eficiência máxima" na técnica de investigação criminal. Mas não
bastava ao Ministério Público saber investigar, uma indiscutível qualidade dos
Promotores de Justiça que, entretanto, não poderia e não pode alcançar o pragmatismo
operacional sem o indispensável "braço de força". Por isso, os
interesses convergiram e originaram a estrutura informal que passaria a
"investigar" com poder concentrado e desmedido, todos obcecados pela
"tese" dos direitos humanos apregoada por Brizola, cujo mote político
passou a ser, como já afirmado, o desaparecimento dos “onze de Acari”, fato que
teria ocorrido no final de julho de 1990.
Desse
conúbio de interesses concentrados na "Central de Denúncias" e nas
Centrais de Inquéritos comandadas por homens de confiança do procurador-geral
de justiça em exercício, por sinal assumido petista, começaram a surgir as absurdas
"soluções" para crimes supostamente praticados por policiais civis e
militares, espécie de obsessão desta facção a atender à tese política do
Governador Brizola, do combate a “grupos de extermínio”, desde que o foco fosse
endereçado a policiais. Isto passou a ser a maior ameaça contra a polícia,
porque bastava designar alguém como "exterminador" para que a
maquinaria governamental (e a mídia por ela articulada por meio de muita
publicidade do então BANERJ) se voltasse contra o alvo, não importando se fosse
ou não verdade.
O efeito
desta “política de direitos humanos” contra o aparelho policial foi deveras
sentido, principalmente na segunda etapa do brizolismo (1991-1994). Os mesmos
facciosos do passado reocuparam o poder e reinstalaram a facção com o nítido
objetivo de retaliar policiais que durante o governo Moreira Franco agiram
contra o crime organizado nas favelas do Rio (o inverso da omissão exigida por
Brizola), o que depois se repetiria como verdadeira paranoia no governo Marcelo
Alencar, com a polícia agindo aleatória e violentamente contra criminosos e
trabalhadores, tentando de forma brutal e inconsequente recuperar o tempo
perdido. Também não deveria ser assim...
Curioso
é que muitos oficiais da PM que se integraram à “política de direitos humanos”
brizolista passaram a estimular matanças a pretexto de combater o crime que
eles, agora “marcelistas”, não ajudaram a combater no passado. Na realidade,
eles se aproveitaram da paranoia governamental do “combate” para agraciar parte
da tropa com benesses de "pecúnia" e “promoção bravura", desta
maneira ampliando suas bases entre as praças, o que somente ocorria com PMs
subordinados aos organismos que comandaram no passado (PM.2, Chefia de Polícia
Militar e Corregedoria Interna). Eis como a facção prosperou...
Um
dos fatos mais aberrantes ocorridos durante o brizolismo foi a fuga – pela
porta da frente – de um presídio de segurança mínima, do "Dênis da Rocinha", em 13 de
abril de 1993. Este fato foi registrado por Carlos Amorim:
"Ele saiu pela porta da
frente, vestindo um terno fino, e ainda se deu ao trabalho de despedir-se dos
guardas".
Isto não ocorreu ao acaso...
Outro
organismo providencialmente ocupado pelos sectários brizolistas de modo
estranho foi a Defensoria Pública, entregue ao Dr. José Carlos Tórtima, e que
mereceu a observação de Carlos Amorim:
“Na opinião de muitas pessoas ligadas à polícia no Rio, o
advogado José Carlos Tórtima teve influência sobre um certo número de
prisioneiros que se envolveram na formação do Comando Vermelho. Hoje ele é o
Procurador-Chefe da Defensoria Pública do Rio de Janeiro.”
Brizola
negava a existência do CV como organização criminosa estruturada, assim como
outros membros do PDT mantinham
esse conveniente discurso, em uníssono com a ideia central do caudilho.
O CV EXISTE OU NÃO EXISTE?
Há
diversos estudos, encetados por experientes policiais civis e militares, que
não deixam dúvidas quanto à existência dessa organização criminosa. Um dos mais
preciosos trabalhos a respeito do CV pertence ao TCel PM RR Eneas Quintal de
Oliveira, cuja experiência acumulada ao longo de muitos anos dirigindo
presídios e ocupando cargos mais elevados no DESIPE empresta enorme e
indiscutível credibilidade às pesquisas que ele fez e transformou em tese do
Curso Superior de Polícia Militar. O livro
de Carlos Amorim, resultado de pesquisa feita por ele durante doze anos, também
não permite a sustentação dessa oportuna dúvida brizolista.
De
acordo com o conceito universal da Administração, uma organização, para
existir, depende no mínimo de cinco variáveis básicas: estrutura, pessoas,
tarefas, ambiente
e tecnologia, às quais a
Teoria Geral da Administração acrescenta atualmente a competitividade. E isto pode ser adequado à realidade do CV
como organização criminosa. Senão, vejamos: a estrutura é informal, mas existe com forte cultura, hierarquia de seus
membros, divisão de ambientes, direcionamento de tarefas e manutenção
financeira dos líderes presos. O vínculo hierárquico é poderoso, assim como
integrar-se ao CV significa
status no mundo do crime. Os líderes são cultuados em suas comunidades – o ambiente –, assim como respeitados pelos
segmentos do CV de outras
localidades. Quanto ao ambiente, o que era antes restrito ao Morro do
Juramento (local externo de criação do CV, originalmente nascido na no presídio
ilha Grande) hoje se espalhou pelo Estado do Rio de Janeiro e até pelo Brasil,
pois já se observa a presença do CV
ou a imitação de sua cultura em diversos Estados Federados. Também as pessoas existem em número impressionante,
assim como as tarefas criminosas são incontáveis. Há ainda a tecnologia,
variável que coloca o CV na
dianteira da polícia, porque os sofisticados instrumentos indispensáveis às
tarefas criminosas são primeiramente adquiridos pelos membros do CV, e porque é certo que dinheiro não
lhes falta para assegurar a dianteira na competitividade.
Eis,
com todos os ingredientes e forte cultura a sustentá-la, a organização
criminosa CV, que hoje se dá ao luxo de possuir até concorrentes, como o
Terceiro Comando e outros grupos criminosos independentes e estruturados em
torno do narcotráfico. Mas a cultura do CV não se restringe aos objetivos
pragmáticos do lucro com o crime. Há muito tempo o CV deixou de lado o romantismo do bandido corajoso, dando lugar ao
cunho político de sustentação dessa cultura. Os ensinamentos da ilha Grande,
local onde os presos políticos disseminaram a ideia, logo absorvida, da
imprescindibilidade do cunho político, estão hoje a mais e mais enraizados,
assim como envolvem emocionalmente as próprias comunidades carentes – o
ambiente de homizio da maioria dos membros do CV.
A
revolta das populações carentes há muito vem sendo politicamente capitalizada
pelos "benfeitores" do CV,
que sustentam a lacuna deixada pelo omisso Estado. Considerando-se que
expressiva quantidade da população do Rio de Janeiro vive na pobreza, na
indigência ou na miséria, amontoada em favelas sem qualquer urbanização e
outros meios mínimos de conforto que deveriam ser patrocinados pelo Estado;
considerando que isto propicia um ambiente de incontida revolta das pessoas
contra o Poder Público, sem dúvida não poderia haver clima melhor para a
predominância do Poder Marginal.
Quem
manda no voto das favelas é o bandido!...
E
engana-se quem pensa que isto é feito apenas pelo terror das armas, o que
também é verdade. Existe sim, um consenso de escolha, principalmente porque o
bandido procura concordar com a comunidade. E é neste consenso que habilmente
se encaixou Brizola, originando sua primeira e retumbante vitória política em
1982, quando se elegeu governador do RJ com espetacular votação. Mas isto também não ocorreu ao acaso...
Os
vínculos anteriores dos caciques do PDT
com a cúpula do CV sempre estiveram
presentes, mesmo que na forma cística. Na primeira eleição, os compromissos
foram fixados antes pelos contatos mantidos entre aqueles presos políticos –
Vivaldo Barbosa, Brandão Monteiro, José Carlos Tórtima e outros – com seus
companheiros de cela na ilha Grande. Depois, o conluio político ganhou as ruas,
consolidando-se o impressionante apoio nas eleições de 1982. Sem dúvida, o
acordo foi cumprido pelo CV,
pois as comunidades carentes transformaram-se em guetos brizolistas e
silenciosamente abarrotaram as urnas com o nome do escolhido:
"Brizola na cabeça"!
Tudo
saiu como planejado, deixando atônitos os políticos tradicionais, que não
perceberam a extensão e a profundidade do consenso entre bandidos e comunidades
em direção à única solução de mudança: de um lado, o CV, certo da impunidade que viria; do outro, as comunidades,
apostando na novidade e apegando-se a uma nova esperança de dias melhores.
Desta maneira, o ambiente social das comunidades carentes ficou impregnado pelo
PDT e pelo CV no maior conluio político já
ocorrido no Brasil e que teve o Rio de Janeiro como palco. É lógico que Brizola não escolheu o RJ por
acaso...
Carlos
Amorim destaca em seu livro que o CV
surgiu do "encontro dos
integrantes das organizações revolucionárias com criminosos comuns" e
que "o encontro rendeu um fruto
perigoso: o Comando Vermelho". E, com rara capacidade de
abstração e de síntese, apontou a reflexão para um dos cérebros do CV: o "Professor", William da Silva Lima:
“Sobre isso há um depoimento inquestionável: o primeiro e
mais importante líder do Comando Vermelho, William da Silva Lima – o Professor –, diz que leu muitos livros na cadeia. Como
nessa história todo mundo escreveu memórias, William não ia ficar de fora. O
fundador do Comando Vermelho publicou QUATROCENTOS CONTRA UM – UMA HISTÓRIA DO COMANDO VERMELHO, pela
Editora Vozes.”
Carlos
Amorim, em seu livro, reporta-se a alguns trechos da obra do líder do CV
William da Silva Lima, publicada sob os auspícios da Editora Vozes:
“(...). Quando os
presos políticos se beneficiaram da anistia que marcou o fim do Estado Novo,
deixaram na cadeia presos comuns politizados, questionadores das causa de
delinquência e conhecedores dos ideais do socialismo. Essas pessoas, por sua
vez, de alguma forma permaneceram estudando e passando suas informações adiante
(...). Na década de 60 ainda se encontrava presos assim, que passavam de mão em
mão, entre si, artigos e livros que falavam de revolução (...). O entrosamento
já era grande, e 1968 batia às portas. Repercutiam fortemente na prisão os
movimentos de massa contra a ditadura, e chegavam notícias da preparação da
luta armada. Agora, Che Guevara e Régis Debray eram lidos. Não tardaria
contatos com grupos guerrilheiros em vias de criação.”
A
propósito da citação do líder do CV
sobre a "década de 60",
vale rememorar Brizola e seus movimentos políticos com vistas à conquista do
poder pelas armas. Em 1962, ele tentou formar seu "Exército de Libertação Nacional", assim como em
1961 protagonizou o famoso movimento de Goiânia, cujo manifesto denominado "Declaração de Goiânia" sugeria a criação da "Frente de Libertação Nacional – FLN", tudo inspirado nos
"ideais socialistas" citados
por William da Silva Lima.
Esse
movimento não prosperou porque os militares fizeram-no abortar e iniciaram um
novo período político no Brasil, tão afastado da democracia quanto aquele que
pretendia Brizola. Na verdade, trocou-se uma provável ditadura de esquerda,
talvez sangrenta devido aos caminhos exacerbados que buscavam seus defensores,
dentre os quais Brizola, por uma ditadura de direita que certamente não sangrou
menos o país, assim como foi muito sangrada por movimentos clandestinos
caracterizados pela insistência da esquerda em promover a luta armada na cidade
e no campo.
Toda
essa explanação exige o retorno às informações contidas na obra de Carlos
Amorim, livro que precisa ser lido por todos os cidadãos que desejam construir
uma democracia no Brasil de forma transparente e sem conluios desastrosos. Ao
lançar o livro, em julho de 1993, Carlos Amorim salienta, conforme já dissemos
no início, que "não é uma obra
de ficção" e que "todos
os nomes e locais são verdadeiros". E surge a primeira e grave
denúncia no prefácio rubricado pelo Jornalista Jorge Pontual ("palavra de leitor"):
“(...). O Comando Vermelho pôde parodiar impunemente as
organizações de esquerda da luta armada, seu jargão, suas táticas de guerrilha
urbana, sua rígida linha de comando. E o que é pior: com sucesso.”
Esta
categórica afirmação de Jorge Pontual leva-nos a rememorar as insistentes
declarações de Brizola e de outros do PDT
assegurando que "o Comando
Vermelho não existe".
O
livro de William da Silva Lima recebeu grande alarde por parte do governante
Brizola, pela Pastoral Penal e pela ABI
(seu local de lançamento com pompas de obra produzida por "gênio
literário"). Segundo informa Carlos Amorim:
“O livro de William da silva Lima foi lançado no
auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no dia 05 de abril de
1991, durante seminário sobre criminalidade dirigido pelo Instituto de Estudos
de Religião, de orientação católica. O texto final foi copidescado por César
Queiroz Benjamim, um ex-militante do Movimento Revolucionário 8 de outubro
(MR-8), que trabalhou sobre um original de mais de quatrocentas páginas.”
Nota-se
a perplexidade de Carlos Amorim diante das constatações que fez em sua pesquisa,
o que torna a sua obra única no gênero. Assim, ele ainda afirma que:
“As palavras do Professor dão bem a ideia do quanto ele
se desenvolveu nos contatos que manteve na cadeia. Dizem que, ao contrário da
maioria dos militantes da esquerda, ele leu O CAPITAL – conhecimento que ainda
hoje falta a muito comunista de carreira.”
Com
efeito, a história costuma encaixar as ideias e os fatos delas decorrentes como
num quebra-cabeça cujas peças espalhadas custam a encontrar o seu lugar no
tabuleiro, mas acabam se encaixando e formando o desenho adrede determinado.
Também
não foi por acaso que a ABI foi
escolhida. É só retornar ao passado e aos idos de 1962 para constatar que uma
das brilhantes presenças no movimento que gerou a "Declaração de Goiânia" era o ilustre e respeitado
Jornalista Barbosa Lima Sobrinho. Por isso a ABI foi escolhida como palco, e o conluio de Brizola e seus
sectários com o CV não terminou
no apoteótico lançamento da mais importante iniciativa intelectual do CV. Segundo ainda Carlos Amorim, outro
fato surpreendente ocorreu e foi por ele assim sintetizado:
“Duas semanas após o lançamento, no dia 19 de abril, o
fundador do Comando Vermelho, com autorização do DESIPE, manteve um encontro
com jornalistas estrangeiros no Hospital Penitenciário. Esta foi a segunda vez
na história do sistema penal brasileiro que um preso comum deu entrevista
coletiva à imprensa. Na noite de autógrafos na ABI, quem assinava os livros era
a mulher dele, Simone Barros Corrêa Menezes.”
Somente
para aguçar a curiosidade e a reflexão daqueles que tiverem acesso à leitura
deste texto, informa ainda Carlos Amorim a respeito desse personagem do CV
alçado à condição de "gênio literário" pelos sectários brizolistas:
“William da Silva Lima, um pernambucano de cinquenta
anos, se considera um guerrilheiro, (...) Hoje ele está preso em BANGU I.”
Aparece
também no livro de Carlos Amorim talvez a mais impressionante revelação de
William da Silva Lima, gravada pelo Detetive João Pereira Neto, da Divisão
Anti-Sequestro do Rio:
“William comenta que alguns intelectuais pretendiam usar
o Comando Vermelho na luta política. (...). Alguns deles, pequeno-burgueses,
pretendiam usar nossas comunidades e nossa organização com finalidades
políticas. – À medida que não deixamos usar, comprovamos, sem soberba, que
conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu, o apoio da população carente.
Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado.
Futuramente elas serão três milhões de adolescentes que matarão vocês (a
polícia) nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez
milhões de desempregados em armas? Quantos BANGU I, II, III, IV, V... terão que
ser construídos para encarcerar essa massa?...”
William
da Silva Lima era tão importante líder do CV que Carlos Amorim teve que lhe dedicar muita atenção, principalmente
porque as ligações políticas e os conluios de sectários brizolistas com o CV alcançaram incrível pragmatismo nos
bastidores desses contatos, pois é certo que, até assumir publicamente a
paternidade dessas perigosas ligações, como no caso do lançamento do livro do
líder do CV, muitos conluios
devem ter ocorrido fora do domínio público. Prova disso é o prefácio escrito
por Rubens Cesar Fernandes, do Movimento Viva Rio, que de pronto considera sua
decisão de editar e prefaciar o livro do bandido “uma tarefa arriscada”... Hum?...
Neste
ponto, é imprescindível destacar outra revelação de Carlos Amorim, contida em
seu livro:
“Na Ilha Grande, diante de toda a imprensa, um
acontecimento insólito: a autoridade pública é recebida por um dos Vermelhos,
um dos novos xerifes da prisão, Rogério Lemgruber, o Bagulhão. O representante
do Comando Vermelho veste bermudas, camisetas e sandálias havaianas. Mete o
dedo na cara do Secretário de Justiça e comunica a ele que os presos estão
cansados de ouvir o blábláblá do governo...”
E
complementa com outra não menos importante citação histórica:
“No dia 30 de setembro (1983), uma quinta-feira, os
homens de confiança do governador Brizola se reúnem secretamente num anexo do
Palácio Guanabara. O motivo do encontro é a incontrolável violência nas
cadeias. A conversa a portas fechadas dura toda noite e parte da madrugada.
Estão presentes o secretário Vivaldo Barbosa e seu subsecretário Antônio Carlos
Biscaia, o secretário de polícia Arnaldo Campana, o comandante da PM Coronel
Carlos Magno Nazareth Cerqueira, o diretor do Desipe, Avelino Gomes, e o coordenador
de assuntos penitenciários, Dráuzio Lourenço.”
Como
se pode notar, os personagens do conluio do governante Brizola e do seu PDT com o CV surgem naturalmente e se
encaixam no quebra-cabeça que representa a verdadeira e única história do
brizolismo no Estado do Rio de Janeiro, sendo evidente a permissividade de seus
sectários com a organização criminosa que se tornou a mais poderosa do Brasil
depois de oito anos de impunidade.
Tudo
o que aqui está retratado permite-nos imaginar a ideia política de Brizola, o
seu sonho inalcançado no passado, o seu
"Exército de Libertação Nacional" representado pelo CV, que
hoje reúne componentes ideológicos necessários, efetivos surpreendentes e
armamentos sofisticados, além do apoio das populações que ainda atendem aos
discursos populistas do líder do PDT
mesmo depois de morto.
Mas nada disso ocorre ao acaso...
Em
resumo, existe o grupo armado, há a numerosa e revoltada população concentrada
em favelas e apoiando os bandidos, há a guerrilha urbana praticada diariamente
nos "santuários do crime"; inegável é a sofisticação dos sequestros e
a precisão dos assaltos a carros fortes, a bancos e a outras instituições
empresariais; e, finalmente, há o organizado narcotráfico. Tudo motivado pela
sigla CV, componente social realmente
instalado na cultura das comunidades carentes e motivador incontestável das
ações de dois poderes que se uniram por laços de comprometimento fortíssimos: o
Poder Público e o Poder Marginal.
Feitas
as considerações, esta reflexão partirá para o segundo período de brizolismo,
agora com o foco na chacina de Vigário Geral. Em primeiro lugar, deve-se situar
Vigário Geral no contexto do CV. Ainda focado na pesquisa de Carlos Amorim e
para garantir isenção na análise, assim salientou o autor a respeito daquele
local:
“Entre os grandes chefes que continuam em liberdade há
uma divisão de tarefas. Adlas Ferreira da silva, o Adão, é o pinga-fogo, o
braço armado da organização. Domina um território importante, a favela de
Vigário Geral, encravada no coração da Zona Norte. Adão não é um homem de
muitas palavras - é da ação armada, do confronto. Tem sob seu comando um número
ainda não determinado de soldados equipados com o que há de melhor na indústria
bélica mundial. Costuma requisitar reforços de outros feudos do CV, toda vez
que está envolvido numa grande ação com características de guerrilha urbana. Em
todas as operações violentas – assaltos e sequestros –, a polícia sempre vê um
lado do bandido, justamente o dedo que aperta o gatilho.”
Vigário Geral e seus
bandidos há muito se destacam por seus métodos violentos. No último período
brizolista os traficantes daquele local partiram ao ataque frontal contra
policiais, bastando o exemplo dos quatro policiais civis da 39º DP barbaramente
assassinados pelos bandidos de Vigário Geral, em 1993, no Bairro Jardim
América, quando tentavam impedir um "pega" que contava com a
assistência de centenas e talvez milhares de pessoas. Os policiais civis foram
colocados de joelhos, pedindo clemência aos bandidos, e friamente executados
pelos impunes marginais, nada ocorrendo como represália por uma polícia
amedrontada e impedida literalmente de contra-atacar.
O
ódio de policiais contra os bandidos de Vigário Geral tem inúmeros
antecedentes, como o supracitado, sendo notório que muitos policiais-militares eram
e ainda são vítimas da sanha assassina de bandidos ao transitarem em ônibus a
caminho de casa ou do trabalho, quando identificados em insólitas blitze
realizadas por aqueles marginais, apenas com o objetivo de matar policiais. A
própria PM foi obrigada a instituir policiamento específico de PATAMO na Rua
Bulhões Marcial, na periferia da favela, envolvendo o 9º BPM, o 15º BPM e o 16º
BPM, respectivamente Rocha Miranda, Duque de Caxias e Olaria, a fim de evitar
ações armadas desses bandidos contra indefesos policiais-militares passageiros
de ônibus.
É notório
que Vigário Geral, como assegurou Carlos Amorim, sempre representou um poderoso
braço armado do CV, homiziando
os principais "guerrilheiros urbanos" do CV, temidos até mesmo por seus iguais de outros locais. Esta fama,
porém, não foi conquistada gratuitamente, pois ali sempre ocorreram lideranças
cruéis, como a de "Chiquinho Rambo" – a denominação fala por si só –,
Flávio Negão e o próprio Adão, além de outro famigerado bandido, talvez ainda
preso: "Zé Penetra".
Todos
os bandidos sempre se destacaram em audácia e frieza; eram ou são assassinos
ferozes, especialistas em sequestros e assaltos arrojados contra instituições
financeiras. Desses citados, é possível que todos estejam presos, exceto Flávio
Negão, que foi morto pela PM, ocasião em que matou um Sargento do BOPE –
Batalhão de Operações Especiais – durante o seu confronto fatal.
Flávio
Negão comandou pessoalmente o bárbaro assassinato dos quatro policiais civis e
dos quatro policiais-militares, fato último que fez entornar o caldo de ódio
fervente e acumulado, originando a não menos absurda reação de PMs cujo nefasto
resultado foi a matança de 21 pessoas em Vigário Geral (Chacina de Vigário
Geral).
Independentemente
da barbaridade da reação dos PMs, que acabou infortunando pessoas inocentes,
homens, mulheres e crianças, todos pessoas comuns e trabalhadoras, não se pode
deixar de considerar esses antecedentes de ódio e o aspecto de "guerrilha
urbana" ali instalado na cultura de todos – moradores e bandidos de Vigário
Geral – o que permite comparar o "estouro da boiada" de PMs a uma
típica ação de tropas regulares contra bases guerrilheiras cujo exemplo
explicativo foi o Vietnã. Pode parecer comparação grosseira, mas, na verdade,
as reações coletivas de seres humanos historicamente envolvidos em confrontos
com características de guerrilha não têm sido diferentes ao longo da história
da humanidade.
A
irracionalidade do ato dos PMs teve um antecedente indiscutível: a revolta. E esta não mede
consequências, assim como não se vincula a preceitos de legalidade. Foi esse
mesmo "estouro da boiada", psicologicamente denominado como
"reação circular de Milling", que fez eclodir a Revolução Francesa.
E
por que a revolta?...
É lógico que alguns desses PMs acusados
foram severamente punidos pelo bárbaro crime que cometeram. Todavia, isto não
irá eliminar o problema, mas apenas acirrá-lo até a outra tragédia que
certamente ocorrerá caso os bandidos continuem como os líderes daquela e de
outras sofridas comunidades, que não têm outra alternativa a não ser a de ficar
do lado deles.
É
ilusão pensar que movimentos isolados de pessoas corajosas e bem-intencionadas
irão resolver o problema. Não há naquele local nem em nenhuma outra favela o
império da lei e da ordem.
Em
Vigário Geral, especificamente, impera o Poder Marginal absoluto e impune, assim como em outros locais
dominados pelo CV, cujo poder bélico faria corar o próprio pesquisador Carlos
Amorim.
Hoje
são muitos "braços armados" – e mui bem armados – espalhados pelo
Estado do Rio de Janeiro. Hoje eles têm telefonia celular, os carros
importados, moeda nacional forte, computador e outros sofisticados meios para
aprimorar a organização criminosa. Do outro lado, há uma polícia fragmentada,
ainda inerme e inerte em razão das pesadas retaliações que ainda hoje pesam no
espírito da tropa.
Hoje
sabemos que nem as Forças Armadas lograram resolver o problema do crime
instalado em suas cidadelas faveladas, pela simples razão de que elas vieram
para enfrentar bandidos e depararam com uma guerrilha urbana que não se resolve
num estado de normalidade democrática, com apenas o Poder de Polícia limitado
pela legalidade. E também está provado, na prática, que não se resolve o
problema da criminalidade crescente com o emprego de Forças Armadas, pelo menos
juridicamente contidas pelos limites legais impostos ao Poder de Polícia...
O
romantismo da democracia emergente, entretanto, não permite nem mesmo a
hipótese da decretação de um "Estado de Defesa" ou até de um estado
de absoluta exceção legal –"Estado de Sítio"–, a fim de que a Polícia
e as Forças Armadas combatam os "guerrilheiros
do CV" como "inimigos internos", sem preocupação com
limitações legais.
Mas,
como aventar esta solução, se já sabemos que as Forças Armadas não têm qualquer
vocação para a atividade policial?
E
a polícia, do jeito como está, também já perdeu a batalha!
No
caso das Forças Armadas, isto ficou provado pelo insucesso da "Operação
Rio". Resta, pois, a polícia do "seja o que Deus quiser" ou a
reflexão mais profunda sobre a criminalidade e suas causas, a fim de se
encontrar uma solução definitiva para o grave problema que nos aflige, de modo
que nenhuma facção consiga tirar proveito político da aflição da sociedade ante
a extensão apavorante do crime.
Neste
ponto, volto ao comentário sublinhando que pouca coisa mudou da década de 80
para cá. Na verdade, houve uma impressionante expansão do crime, enquanto a
PMERJ permanece atordoada por inimaginável aleatorismo, desgastando-se num
círculo vicioso que a poderá levar a uma irreversível entropia.
Esta
é a grave situação institucional da PMERJ, que não sabe que rumo tomar. Pior é
que agora emerge uma estranha “teoria do pato” saída da cabeça de um só oficial
que se posta como descobridor da roda para condenar sua instituição. Com
efeito, ele tem razão, a corporação não vem sendo muito feliz nos últimos anos.
Precisa, portanto, de revissão. Mas não pode esquecer sua origem de força
militar estadual, como reza a CRFB. E para ela só lhe basta o valioso ensinamento
de Henry Ford:
“Tudo que deve ser feito, deve ser bem feito!”
Enfim, o que ocorre hoje é o acirramento do modismo esquerdista no seio da corporação, que, porém, tem origem no brizolismo e no petismo. Enquanto isso, o crime floresce em silêncio, não como na tal alegoria do pato, ou "dilema do pato", mas no sentido único de que a ave não faz alarde dos ovos que põe...
2 comentários:
A doutrinação marxista gramsciana em nossas escolas e universidades, há varias décadas, produziu as cabeças pensantes aptas a tais ideias e o domínio político socialista nomeou e indicou o caminho a ser percorrido por quem desejava ser nomeado.
Não seria talvez uma má ideia se adviesse de uma reforma constitucional, não a desejada pelos que estão no poder para transformar o país numa ditadura comunista nos moldes de Venezuela e Cuba, adaptada ao estilo cleptocrata brasileiro mas uma reforma que alterasse a estrutura de quase todos os órgãos com responsabilidades no sistema de segurança pública.
Poderíamos ter uma carreira de segurança pública única, militar de início, com uma única porta de entrada, especializações ao longo da carreira, plano de cargos mediante concursos internos de provas, títulos e requisitos de tempo de serviço efetivo em certas funções, além é claro de probidade analisada na prática do serviço, podendo haver contraindicação para funções mais elevadas.
Em tese deixaríamos de ter delegados, coronéis, promotores e juízes criminais que não conhecem a profissão nem os problemas enfrentados pelos policiais e demais cidadãos na base, tampouco reúnem condições de gerenciar e julgar fora do comodismo de doutrinas aprendidas somente nos livros. Aliás, muitos nem mesmo conhecem o povo e formam opinião pelo que leem nos jornais e veem na TV. Nenhuma polícia no mundo civilizado possui estrutura como a brasileira e a japonesa é um bom exemplo de unicidade e de forma de progressão.
Quimérica a proposta, num país em que facções defendem seus feudos com unhas, dentes e barganhas, considero impossível passar uma proposta como a acima delineada. Assim sendo, querer fazer isso só com a PM é mais um passo para destruí-la desde dentro, afundando de vez a única instituição do sistema que ainda cumpre satisfatoriamente suas tarefas, durante as 24 horas, mesmo sendo a que detém o maior número de tarefas, a maior complexidade da missão e o maior risco próprio e de terceiros na execução.
Conhecendo a instituição e os homens, imagino, além dos fatos e consequências já citados na matéria, a grande possibilidade de ingerências externas políticas e internas de cunho pessoal na avaliação de quem deverá ascender na profissão. Para quem duvida, convido a observar os critérios internos de promoção nas últimas décadas, assim como os critérios de escolha e de nomeação de ministros da república, diretores e conselheiros de estatais e de ministros do STF.
Melhor seria, na minha opinião, investir na estrutura legal consolidada ao longo de anos de tradição e de aperfeiçoamento, resgatando a credibilidade da formação de oficiais e praças, talvez débil em função da fraqueza dos homens e não da estrutura formal vigente. Fazer funcionar o programa de matérias adequando-o à realidade administrativa e operacional, escolher e manter instrutores aptos moral e tecnicamente, estabelecer o perfil real necessário aos oficiais e praças, acompanhar e avaliar de perto os resultados, reprovando os inaptos, já seria bastante serviço para se ocupar, deixando de lado a pseudo intelectualidade de... parafraseando, de “pato”.
Emir disse:
O anônimo disse tudo!
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