quarta-feira, 6 de maio de 2015

RIO EM GUERRA LXV


“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

O EXERCÍCIO DO MEDO

No meu rol de amizades ou entre familiares, ou atento a eventuais diálogos entre pessoas estranhas, sempre noto uma espécie de angústia ante o fato de que todas se sentem ameaçadas por uma descontrolada criminalidade, desfraldando de imediato suas críticas à PM. Por outro lado, vejo a PM sempre a indistintamente absorver todos os reclamos que se lhe dirigem, e a anunciar que “reforçará o policiamento” em resposta a eventos que já aconteceram e produziram seus inevitáveis males. Enfim, a PM vive improvisando a troca da fechadura de portas arrombadas, sem, porém, apontar ao público os verdadeiros chaveiros...

Ressalta-se atualmente a impune ação criminosa de menores nas ruas: traficando drogas, cheirando coca, fumando crack e maconha, e esfaqueando pessoas ao assaltá-las. E assim o fazem porque não se contentam com a passividade das vítimas, e ferem-nas, e matam-nas! Ora, são mais cruéis que adultos, apesar de menores de idade ante a legislação vigente, que não é nada mais que superado conceito sociopolítico.

Algumas reclamações se demonstram tão dramáticas que até nos assombram. Deste modo, constato que as pessoas se sentem frágeis. Não sabem como reagir ao problema da insegurança. Ficam arrasadas, balbuciam discursos sem nexo, perdidas em si mesmas. Afirmam ainda que deixaram de caminhar nas ruas e dispensaram afazeres inadiáveis. Enfim, todas externam um terrível e incontrolável medo!...

No contexto de atrozes narrativas, percebo, todavia, que nenhuma pessoa ultrapassa o limiar do seu próprio problema ou do acontecimento havido com parentes e amigos, em especial envolvendo menores infratores, insisto neste detalhe. E, na superfície deste cenário, o linguajar geral é o de crítica à polícia, mormente à PM. É como se somente a PM existisse e respondesse por todos os males saídos da “boceta de Pandora”, sendo desnecessário listar os adjetivos desabonadores da conduta policial, eis que sempre generalizados no seu máximo em catarse individual e grupal.

Sim, esse tipo de desabafo é constante nas rodas que frequento. E minha postura é a do cauteloso silêncio, engolindo muita irritação ante uma realidade que me não deveria calar, pois, afinal, há algo de errado com esta sociedade da qual sou parte. Porque, na verdade, ninguém se assume como responsável por nada. Todos se resumem a cobrar afazeres do Estado, entregues à ilusória ideia de um clientelismo extremado. Exigem do Estado um irrestrito cumprimento do dever, sem, porém, atentar para suas próprias obrigações, substituindo-as por críticas à já exaurida corporação, esta que, no fim de contas, não possui pernas tão longas, embora todos pensem em contrário e lhe exijam o que não pode suprir: segurança total e absoluta. E não aventam nenhuma sugestão de ação no âmbito de suas obrigações constitucionais enquanto cidadãos, o que insistem em desconhecer e desconsiderar.

Por sua vez o Estado, – através de seus gestores burocráticos e políticos, – age como se fosse pai: intervém em tudo que deve e que não deve. Arroga-se protetor de todos, e, paradoxalmente, impõe restrições endereçadas aos cidadãos já acuados por problemas que ele, Estado, não resolve. Afinal, o proselitismo político não o permite, as cínicas pressões da mídia não lhe dão espaço, os ideólogos de esquerda abrem vozes contra ele e “em favor dos fracos e oprimidos”... Mesmo que eles estejam de armas em punho assaltando e matando pessoas indefesas porque querem viver exatamente assim: incapazes de reagir. E conseguintemente carregam como fardo o medo de viver livres e seguras.

A verdade é que nunca se trata do problema da criminalidade na sua extensa e profunda raiz. Há muitas críticas vazias, muito reducionismo, muitas falácias estatísticas. E abundam desvios do problema por meio de discursos em favor da melhoria da educação, da saúde etc. E a esses proselitismos acrescem outros a defenderem melhor qualidade de vida para os despossuídos, direitos humanos para os que se comportam como animais irracionais. Sim, tudo numa cínica postura burguesa que se encaixa como luva em quem se integra a esta “esquerda caviar” que atualmente desordena o país. Grosso modo, tal comportamento social lembra os primórdios da Revolução Francesa: o Terror.

Sim, sim, existe uma profusa calamidade social do banditismo urbano e rural no Brasil, que dispensa exemplos. É prenúncio do Terror... Mas a sociedade brasileira a ignora e põe a solução na conta de um Estado preguiçoso, temerário e larápio. Ora, isto jamais acontecerá nesta conjuntura hipócrita a que os cidadãos brasileiros se entregam em impressionante e perturbador autismo!...

Tal situação me faz lembrar a mim a oportuna frase de Erich Fromm: “A calamidade é ruim para o povo, mas boa para a sociedade.”.

Sim, é o que nos falta: acordar o Brasil para a ideia de que o banditismo é problema calamitoso a ser resolvido de modo alheio a ideologias, sejam de esquerda, de direita ou de centro. Mas a solução está mui longe no espaço e no tempo, embora demande ações urgentes e de enorme porte, englobando simultaneamente todos os organismos (sistemas e subsistemas) que se integram ao Sistema Nacional de Segurança Pública (União, Estados e Municípios), que, por enquanto, só existe no conceito. Seriam eles, em tese: Justiça, Ministério Público, Polícias Civis e Militares, Forças Armadas, Subsistema Carcerário, Leis Penais e Processuais Penais, Guardas Municipais, Departamentos de Trânsito, Defensoria Pública, Advogados Criminais etc. E a sociedade através de muitos segmentos... Mas falta aos brasileiros um grande líder...

Como se vê, é sistema social complexo e desdobrado em subsistemas nos três níveis de poder do Estado, que hoje permanecem desunidos e isolados da sociedade, e quando unidos entram em curto-circuito, o que importa dizer que não são sistemas no sentido conceitual e prático.

Já o outro lado, o do calamitoso banditismo, este representa um sistema sofisticadíssimo, embora dissimulado em desorganização, nada mais que tática de ação sob o manto de uma firme e indiscutível autoridade, esta, que falta ao Estado. Sim, no sistema situacional criminoso tudo funciona nos limites predeterminados, incluindo-se o controle de áreas habitadas por populações carentes e submetidas ao Terror. Já a sociedade... Bem, a sociedade também não é sistema!


Cá entre nós, a culpa é só da polícia?...

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