sexta-feira, 24 de abril de 2015

RIO EM GUERRA LXI


“O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)

24/04/2015 08h00 - Atualizado em 24/04/2015 10h34

Região Metropolitana do Rio tem mais de 50 vítimas de balas perdidas

Levantamento leva em conta os casos desde o início de 2015. 

Entre as vítimas, pelo menos nove são crianças.

Pelo menos 52 pessoas foram atingidas por balas perdidas na Região Metropolitana do Rio desde o início do ano. Segundo o levantamento, em média, há registro de um caso a cada dois dias. A história mais recente foi a da menina Vitória, que foi baleada na quarta-feira (22). A menina, de sete anos, está internada em estado grave depois que um tiro a atingiu na barriga. A criança seguia pra escola, acompanhada pela mãe, quando foi baleada.

De acordo com a direção do Hospital Jesus, em Vila Isabel, Vitória está internada no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) e seu quadro é estável.

As duas caminhavam por uma das ruas mais movimentadas do bairro de Anchieta, no Subúrbio da cidade. Uma operação policial acontecia na região no momento que a menina foi atingida.  Outras duas pessoas também ficaram feridas. A mãe de Vitória está desolada. Não sabe dizer de onde partiu o disparo. “Os tiros  ‘veio’ acho que do alto, não sei direito”, diz a mãe. De acordo com a Polícia Militar, o patrulhamento na região segue reforçado.

Já a mãe de Eduardo de Jesus afirma que conseguiu ver de onde veio o tiro que matou o filho, de 10 anos, no conjunto de favelas do Alemão, no início do mês. Ela acusa policiais militares que participavam de uma operação na hora que o menino foi baleado. O menino estava na porta de casa, com o celular nas mãos.

Na semana passada, a Polícia Civil fez a reconstituição do caso. Os PMs suspeitos ficaram encapuzados o tempo todo. Os investigadores da Divisão de Homicídios têm 30 dias para revelar as conclusões.

A mãe de uma das vítimas diz não saber como a filha, de três anos, sobreviveu após ser baleada na coluna quando as duas estavam sentadas na porta de casa em uma favela do Subúrbio, em fevereiro deste ano.

Policiais disseram que traficantes rivais trocavam tiros na mesma hora em que a criança foi ferida. A criança se recuperou dos ferimentos, mas ficou o trauma. Sempre que ouve o barulho de tiros, a reação é imediata. “Ela já fica mais pelos cantos, já se treme mais, já fica querendo chorar”.  A Secretaria de Segurança Pública do Rio ainda não se posicionou sobre o assunto.

24/04/2015 09h09 - Atualizado em 24/04/2015 10h01

Suspeitos ficam feridos em operação da PM na Zona Oeste do Rio

 

Feridos foram levados para o Hospital Albert Schweitzer.


Polícia apreendeu três pistolas e rádios transmissores.

 

 

 

Agentes do 14ºBPM (Bangu) apreenderam duas pistolas, um simulacro e dois rádios transmissores (Foto: Divulgação/ Polícia Militar)

 

Agentes do 14º BPM (Bangu) foram recebidos a tiros ao iniciarem uma operação para coibir o tráfico na Comunidade do 48, na Zona Oeste do Rio, na manhã desta sexta-feira (24). De acordo com a corporação, dois suspeitos ficaram feridos e foram socorridos ao Hospital Albert Schweitzer.

Ainda segundo a polícia, com os suspeitos foram apreendidos três pistolas, um simulacro e dois rádios transmissores. A ocorrência foi encaminhada para a 34º DP (Bangu).

MEU COMENTÁRIO

A guerra no Rio continua a pleno vapor, por mais que muitos intelectuais anunciados como “especialistas em segurança pública” insistam na pacificação como regra única e pressionem as autoridades do RJ nesse sentido, ignorando a cruel realidade do banditismo armado para guerra.

Ocorre que vagar pela ilusão de que está tudo bem acaba por inibir o aparato da segurança pública, ou então o perturba a ponto de ele não mais saber como atuar. Afloram então as ações reativas de sempre, com explicações ou desculpas de sempre. E raramente a reação, - que decorre de provocação inevitável da polícia, e que não pode nem deve ignorar o crime do tráfico, - raramente a reação termina sem vítimas, muitas delas alcançadas por “balas perdidas”, entre aspas, porque de “perdidas” nada têm. Sim, é tudo risco calculado, ou nem mesmo isto, não há muita explicação, o modelo operacional é o da cobrança de cima para baixo no sentido de “apresentar serviço” e gerar o famigerado “kit mídia”. Isto ocorre com frequência em batalhões operacionais da Região Metropolitana do Grande Rio e mui poucamente no interior.

Sim, o modelo é o da guerra ao tráfico, que tudo monopoliza, e a tropa, pulverizada em pequenas guarnições no seu dia a dia, esquece da prevenção a outras modalidades de crime e contravenções não mede consequências e vai ao confronto, geralmente, porém, em inferioridade de forças. Mas vai assim mesmo, e encontra a reação armada, e eclodem os tiroteios com seus nefastos resultados, em especial com o ferimento e a morte de PMs ou de moradores inocentes, sublinhando-se as crianças, indefesas, sempre vítimas constantes e mais choradas.

E o círculo vicioso do combate ao tráfico segue seu curso em torno do eixo, voltando sempre ao mesmo lugar. Mas isto não é de agora, era assim no passado, as cobranças da cúpula da PMERJ incidiam até iradamente sobre os costados dos comandantes de Unidades Operacionais. E havia a aplicação de fórmulas esdrúxulas de operacionalidade, que consistia em anotar no numerador o número de ocorrências, e no denominador o efetivo pronto. Se o resultado fosse perto de zero, o comandante já começava a arrumar suas trouxas para baixar em outro terreiro; se fosse o índice fosse negativo, ah, perdia o comando. Por isso as pressões contra a tropa para produzir resultados nas ruas ia ao cúmulo da paranoia. E continua assim...

Claro que a simpleza da fórmula permitia artifícios vários, tais como prender “suspeitos” em blitze sem qualquer motivo relevante. Pois valia tudo em termos de ocorrências, não importando sua gravidade, mas apenas a quantidade delas, que deveria ser volumosa no numerador. Por conseguinte, quem não produzisse resultados era retirado das ruas, transferido etc. Então o negócio era produzir, e, sem dúvida, o mais fácil era rodar em cercanias faveladas onde o tráfico corria solto, tal como hoje, com o detalhe de que hoje há mais população e mais usuários de drogas e mais tráfico e mais repressão e mais consequências.

Eis como o tempo escorre e as notícias se repetem sistematicamente, ou aplaudindo algum bem-sucedido “kit imprensa”, ou anunciando mais um desastre consequente de “balas perdidas”...



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