sábado, 5 de maio de 2012

Mais uma pancada do martelo no prego...


A reação dos professores contra a presença de PMs no Colégio Estadual Júlia Kubitschec merece avaliação por diversos ângulos. Em primeiro lugar, é relevante a opinião dos professores, assim como deveria ser fundamental a opinião dos alunos e de seus responsáveis, para depois, aí sim, o estado interferir com a nova modalidade de policiamento, que somente pode ser designada como “nova” se o espaço interno das instalações escolares estiver ocupado com o policiamento fardado e armado. Porque a ronda escolar no entorno de colégios é labor da PMERJ e se insere no âmbito de sua competência de polícia administrativa de manutenção da ordem pública.
Não é caso de lembrar a importância do sargento PM Alves a arriscar a vida para salvar não se sabe quantas crianças na tragédia de Realengo. Malgrado o valor material e imaterial do gesto dele, – indubitavelmente heroico na medida em que ele se lançou contra o agressor sem saber se era apenas um e que grau de perigo ele representava, de modo que pudesse clamar por reforço, – malgrado tudo isso o fato foi isolado, não se integra ao lugar-comum do Brasil esse tipo de agressão a crianças em colégios. Mas a presença da guarnição nas imediações, ou seja, na via pública, não depende, em tese, da opinião das pessoas que gravitam no ambiente ao qual o policiamento ostensivo se destina no contexto geral da atividade de polícia administrativa de manutenção da ordem pública. Ou depende?...
Eis a questão. Segundo dois policiais da Scotland Yard que palestraram no Brasil, lá pela década de 80, é fundamental ouvir as pessoas da comunidade para saber quais são suas principais apreensões, quais são seus anseios por segurança, dentre outros diagnósticos que poderiam ser denominados por “mapeamento ambiental” num “ambiente de tarefa”, conforme nos ensina a Teoria Contingencial da Administração (vide Idalberto Chiavenato in Teoria Geral da Administração). Volto então aos dois policiais londrinos e ao impacto que a mensagem deles produziu: num determinado bairro de Londres, a polícia apresentou um plano de policiamento para conter pequenos delitos; na hora da listagem dos anseios populares (lá a população é ouvida e levada a sério), o problema maior era cocô de cachorro nas calçadas a incomodar os transeuntes.
Enfim, o objetivo da comunidade era eliminar o cocô, o que a polícia providenciou. E logo outros problemas foram tomando corpo e sendo sanados. Numa alusão à Administração Por Objetivos (APO), os policiais londrinos instituíram a “Polícia Por Objetivos” (PPO) e passaram a diagnosticar as reais necessidades das comunidades em seus ambientes naturalmente variados (não existe um ambiente igual a outro), o que demandou como imperativo a elaboração de um planejamento dinâmico (como processo) para manter sempre eficiente e eficaz o labor policial.
Pela notícia divulgada nos Jornal O Globo, aqui no Rio a ação surgiu de cima para baixo, típica do excesso de intervenção do estado na convivência coletiva, modelo brasileiro de gestão pública que remete o “Brasil República” ao “Brasil Império”, como insinuou outro dia um ministro do STF. Eu diria que em alguns aspectos estamos vivenciando o “Brasil Colônia”, tal é a intervenção estatal na vida do povo, até mesmo quando dissimulada em “boa intenção” de políticos e burocratas. E é o caso presente, em que um promotor de justiça se põe acima de tudo para questionar o modelo de policiamento, incorrendo ele no mesmo erro de quem o implementou de cima para baixo: outros burocratas do estado.
Torna-se o tema, curiosamente, uma questão de conflito entre quatro segmentos ou micropoderes estatais (professores, policiais, gestores de educação e promotores de justiça, quase que se autodenominado "heróis"...), ficando à parte, sem direito de se manifestar, exatamente quem deveria ser ouvido com prioridade: os alunos e seus responsáveis - destinatários do serviço estatal, que, antes de se apresentar como milagrosa solução torna-se um problema a mais na inegavelmente dicotômica relação estado-sociedade resultado em segmentos populares tratados como gado sem cérebro.

3 comentários:

Anônimo disse...

Morte a Padrone...

Helio disse...

Felizmente não estou mais na ativa.
Não verei essa vergonha, nem tão pouco pactuarei com ela.
Até porque quando em atividade nunca pactuei com a desmoralização da PM.
É vergonhoso saber que os oficiais da ativa nada fazem , pelo
contrário ainda
ministram cursos , objetivando o total desvirtuamento do serviço,
com um agravo singular, que será uma depreciação e desmoralização sem limites de
quem estiver atuando na linha de frente.
O que tinha que ser efeito era desestimular qualquer policial
militar a cair nesse engodo.
Não vale a merreca a ser recebida, como também não valeria
fosse lá a soma que fosse, pois a desvalorização será ilimitada.
Sem esquecer a submissão dos militares a avaliação de paisanos
diretores de escola.
O estado tinha que contratar inspetores de alunos.
Um forte abraço.
Helio.

Emir Larangeira disse...

Caro Hélio

Tens a mais inteira razão!