sábado, 25 de fevereiro de 2012

Sobre a venda do QG da PMERJ







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O DIA ON LINE ― 20.02.2012 às 01h08 ― Atualizado em 20.02.2012 às 01h29 ― Por Gabriela Moreira: “QG da PM vai para a Salvador de Sá”, diz Sergio Cabral ― Governador fez o anúncio ao chegar ao Sambódromo, no fim da noite deste domingo. ― RIO ― Assim que chegou ao Sambódromo, por volta das 23h, o governador Sergio Cabral anunciou que o Quartel General da PM vai ser transferido da Evaristo da Veiga para onde hoje funciona o Batalhão de Choque, na Rua Salvador de Sá. "Vamos vender o Quartel General por um bom preço para a Petrobras, transferindo as atividades que funcionam por lá para o Batalhão de Choque. "A ideia é acabar com o conceito de aquartelamento na corporação", explicou o governador.)


Até agora, em minha santa ignorância, não entendi o que o ilustre governante do RJ quis dizer sobre “acabar com o conceito de aquartelamento na corporação” ao explicar a venda do QG da PMERJ para a Petrobras. Mais ainda agora que, por força de decisão da alta esfera judicial, o PM é indubitavelmente militar e as instalações que acomodam militares são denominadas quartéis, tanto aqui como em qualquer parte do mundo. Estou certo de que a explicação governamental não guarda nenhuma ironia que nos permita inferir uma falsa ideia de que quartel é “hotel”. No caso da PMERJ, o aquartelamento da tropa é dinâmico e uma “hospedagem” geral da tropa só ocorre em situações de prontidão, que não interessam a nenhum PM: ele seguramente prefere o lar e o convívio da família, limitando-se o seu quartel ao mínimo de presença para descanso entre um turno e outro de serviço nas ruas ou para o trabalho rotineiro, como sói ocorrer em qualquer repartição pública. Por conseguinte, descarta-se de pronto que quartel seja lugar ocioso ou com característica de hotel, muito pelo contrário. Na verdade, a única diferença dum quartel de PM para uma repartição pública civil é que no primeiro se trabalha fardado. No caso do BM, também militar estadual, quartel é ponto de espera para a corrida imediata em caso de emergência. E, enquanto espera a inevitável ocorrência, o BM descansa ou apura suas habilidades em treinamentos constantes, dos quais depende para salvar vidas alheias e garantir sua própria sobrevivência em situações de alto risco. Também o PM tem o quartel como local de estudos e planejamentos dinâmicos que propiciem um atendimento ótimo à população, valendo-se o PM do quartel também para treinamentos com os mesmos objetivos do BM. De tal modo que, antes de tudo, quartel é local sagrado no militarismo, último lugar cuja defesa justifica a morte de todos, tal como o navio de guerra que não pode ser entregue ao inimigo. O quartel, portanto, não é somente um prédio, é um “corpo” a acolher um “coração” em “oração”, e assim seus ocupantes se preparam para a “ação” em união física e espiritual. Pois o conceito de corporação é que reforça no militarismo a noção de coletividade atada por laços comuns e solidários que alcançam não apenas o conjunto dos corpos, mas seus espíritos, tal como acontece nas comunidades religiosas. Por isso esses laços espirituais vão além da vida e incluem a morte, se necessária, para assegurar a eternidade dos valores pátrios assumidos no juramento em nome de Deus e perante a Bandeira Nacional, mesmo juramento que impede os militares de aceitar totalmente a greve, e que os fraciona em dissensão, embora todos saibam que as reivindicações são mais que justas. Mas, por outro lado, o juramento é sagrado, e os protestos visando ao atendimento dos legítimos anseios do militar estadual esbarram na sacralidade da palavra empenhada, no valor do compromisso solene que o militar faz, dentro do seu sagrado quartel, de defender a sociedade e a pátria com o risco da própria vida, e ninguém há de duvidar de que ele assim o faça, e me bastaria juntar fotos e mais fotos de sepultamentos de muitos militares estaduais, e serão milhares se somados num certo período de tempo nem tanto longo. Mas não o farei porque é fato notório... Enfim, em sendo o quartel um lugar sagrado para o militar, e não se encaixando o aquartelamento num mero conceito de “hospedagem”, e enquanto existir a Lei Maior determinando que os policiais militares e os bombeiros militares (já me estou acostumando à ideia da supressão do hífen, embora ambas as condições sejam substantivas) são militares estaduais, eles têm o dever de honrar seus quartéis, de reverenciá-los tal como o cristão reverencia a sua igreja (duvido que alguém tenha coragem de insinuar a venda da Catedral do Rio de Janeiro à Petrobras para construir no seu lugar uma portentosa torre capitalista, lembrando que o QG da PMERJ foi antes Convento de Capuchinhos ou “Barbonos”, ou seja, um lugar de orações tal como a Catedral...). Afinal, ― cá entre nós, ― os dois espaços atendem à finalidade proposta pela estatal... É tudo, portanto, uma questão de conceito, e conceito, por sua vez, gera preconceito, e deste à discriminação é um pulo que só pode ser dado por quem momentaneamente detém o poder de discriminar. No caso em discussão, a autoridade é o ilustre governante... Daí eu confessar minha estupidez: não entendi a pretensão dele ao se pronunciar contra o “conceito de aquartelamento”. Espero que ele melhor explique aos militares estaduais o sentido do que disse, e desde já me pronuncio contra a destinação do dinheiro a ser apurado (R$ 400.000.000,00), conforme declaração dele, e que pode ser um valor mais simbólico que comercial. Porém, não me cabe ser avesso à transação: sou despido de poder para evitá-la e até entendo que transformar um quartel em outro possa ser útil ao exercício futuro da segurança pública. Mas não consegui até agora ser convencido disso; não enxergo, no caso em questão, nada mais que troca de meia dúzia por seis, claro que exercitando a minha mente em exagerado otimismo ou em santa ignorância, como confessei no início, eis que não cogito que esteja “tudo certo como dois e dois são cinco”. Por conseguinte, devo insistir: se não houver recuo na decisão do governante, que ele pelo menos considere a possibilidade de proporcionar à PMERJ um novo hospital central, que, por sinal, é também aquartelamento e “hospeda” PMs caindo aos pedaços. Afinal, tudo se resume ao “conceito de aquartelamento” que a governante intenta “acabar” sem esclarecer que novo conceito ocupará o lugar do outro que será por ele “acabado” segundo a lógica do “tudo em volta está deserto tudo certo”, não valendo considerar a insinuação do “museu”, irônica alusão no sentido de que a PMERJ já estaria “mumificada”, só faltando sepultá-la no túmulo da história pátria... Construir o hospital seria mais ou menos servir ao PM, desta feita, um peixe sem espinha a poupar seu tão sofrido gorgomilo sempre obrigado a engolir mais espinha que peixe nesses últimos anos... Entretanto, e para fazer jus ao meu assumido otimismo, devo respeitosamente dizer ao governante que o “conceito de aquartelamento” que ele deliberou “acabar”, para nós militares estaduais, é o conceito de SEGUNDO LAR, onde cumprimentamos os amigos ao chegar e ao sair, onde trocamos confidências familiares, onde forjamos amizades eternas, abraçamo-nos em rara alegria e choramos nossas corriqueiras desgraças. Não é uma casa vazia, que, sem a família dentro interagindo em harmonia, não pode ser denominada lar. O que faz da casa um lar é o calor humano das gentes que nela habitam; o que faz do quartel um lar é o calor humano das gentes que nele trabalham. Portanto, “acabar com o conceito de aquartelamento na corporação” é o mesmo que destruir o conceito de lar do militar estadual. Daí a minha insistência pela primazia de um novo hospital, porque é o principal SEGUNDO LAR de toda a família policial militar formada por milhares de ativos, inativos, pensionistas e seus dependentes. Ou então, senhor governante, fica aqui o apelo para manter “tudo como dantes no quartel de Abrantes”...

5 comentários:

Anônimo disse...

Já avisei, a única solução é abreviar o trabalho de Deus......

Anônimo disse...

Isto, abreviar SEU trabalho ou vai, Ele, nos cobrar as consequências.
Sagrada Missão, esta a de conservar os nossos laços vivos e sadios.

Dutra disse...

Prezado Emir Laranjeira,
Saudações.
Cumprimentá-lo pela precisão e sagacidade das abordagens nos diversos temas desbravados pelo Ilmo. Escritor e crítico perspicaz. Congratulá-lo, particularmente, pela salutar censura postada em 27.02.12 no site da AME/RJ (http://www.assofrj.com.br), cuja crítica versou “sobre a venda do QG da PMERJ”, donde, inclusive, nos valemos de valioso subsídio, (ressalvando o crédito autoral) para construção de trabalho institucional encaminhado à autoridades do Estado, com vistas à preservação daquele sagrado e valoroso patrimônio.
As homenagens lhe são justas. Que o entusiasmo e a motivação continuem a propulsionar seus trabalhos.
Vida longa.
Cordialmente,
W.Dutra
Advogado da AME/RJ

Emir Larangeira disse...

Muito obrigado pelo incentivo, caro Dr. Dutra, e parabéns por profícuo desempenho jurídico na AME/RJ!

Emir Larangeira disse...

Muito obrigado pelo incentivo, caro Dr. Dutra, e parabéns por profícuo desempenho jurídico na AME/RJ!