quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobre o inferno astral da PMERJ

“Deixai toda a esperança, ó, vós, que entrais!”




































A Teoria do Caos tornou realidade a assustadora ideia de que o bater de asas de uma borboleta poderá produzir um furacão meses depois num local distante, inclusive alterando a atmosfera terrestre para sempre... A demolição da PMERJ começa a bater asas como borboleta pela manifesta intenção do atual governo em alienar diversos espaços históricos da corporação, passando por anúncios de mudança com ares de ficção cinematográfica na formação dos novos PMs. Lembra Robert Moses e sua megalomania na Nova Iorque da década de 50. Curiosamente, a máxima predileta do norte-americano tem origem em Joseph Stalin, importante genocida da História da Humanidade, perdendo apenas para Adolph Hitler: “Não se pode fazer um omelete sem quebrar os ovos.”
Robert Moses não foi um sujeito qualquer. Ele expressava uma “queda para a crueldade extravagante, ao lado de seu brilho visionário, sua energia obsessiva e ambição megalômana...” (Berman, 1982). E o que vem ocorrendo com a PMERJ neste momento lembra o espetáculo pirotécnico literalmente promovido por Moses, que se poderia igualmente resumir na ideia da destruição do passado para dar lugar ao falso novo exaltado por ações e simbolismos de mudanças miraculosas, exaltação que atinge o ápice da aprovação impensada duma opinião pública manipulada em torvelinho de anúncios sensacionais provavelmente bem aquinhoados... Reporto-me mais uma vez a Marshall Berman (TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR) e à essência do seu complexo texto assim resumido: “Um dos temas centrais deste livro tem sido o destino de ‘tudo que é sólido’, na vida moderna, ‘desmancha no ar’. O dinamismo inato da economia moderna e da cultura que nasce dessa economia aniquila tudo aquilo que cria – ambientes físicos, instituições sociais, ideias metafísicas, visões artísticas, valores morais – a fim de criar mais, de continuar infindavelmente criando o mundo de outra forma.” (p. 323).
Não há nem que “ressalvar as devidas proporções” para associar a ideia de Berman ao que acontece com a PMERJ neste momento: tudo se encaixa na cruel realidade exposta pelo autor com o foco em Moses [“Não é difícil nos alongarmos indefinidamente sobre o poder e o estilo pessoal de Moses. Entretanto, essa ênfase tende a obscurecer uma das fontes fundamentais de sua vasta autoridade: a capacidade de convencer um público massivo de que ele era o veículo de forças históricas mundiais e impessoais, o espírito propulsor da modernidade." (p. 330)]. Dá, sim, para perceber cada passo imitativo do personagem político interessado em destruir as bases da existência da PMERJ como instituição secular, com o nítido objetivo de fechar sua porta e jogar a chave fora para dar lugar à “modernidade”, como intentou e até conseguiu Moses... E os papéis são mui bem representados por seus subordinados, que pensam e agem afinados com a tese maior de destruição da bicentenária corporação.
Pior é que essa afinada turma e seu líder contam, para alcançar o ignominioso escopo, com a ingenuidade do PM, associada à subserviência dos atuais líderes acariciados (ou anestesiados) mediante pagamento de polpudas gratificações que já alcançam e fracionam a tropa segundo o velho princípio do “dividir para enfraquecer”. Advém daí a sucessão de anúncios a mais e mais velozes, porque os personagens da trama têm pressa na destruição total da PMERJ. Por isso atacam todas as vertentes possíveis e imagináveis, e que hoje se resumem, dentre tantas outras medidas escandalosas que a PMERJ finge não ver: 1) Alienação da área onde funcionava a Escola de Formação de Oficiais, em Niterói, para um estaleiro; 2) Alienação da área do 23º BPM, Leblon, tão impensada que, depois de anunciada, os personagens recuaram na imediatista intenção, substituindo-a por outra aparentemente mais simpática ao bumbo do bairro que ressoa no Brasil: venda de delegacias e instalação delas na área do batalhão; 3) Transformação do prédio do 6º BPM, Tijuca, em área de lazer para a comunidade local, medida simpática e decerto aplaudida, deste modo desviando a atenção da população da ideia central, que é a destruição das edificações da PMERJ; 4) Alienação do Quartel-General, na Rua Evaristo da Veiga, área indubitavelmente nobre para o mercado imobiliário; 5) Fechamento do Colégio da PM, sediado em Niterói, que hoje acolhe em torno de 400 filhos de PMs e amplia a esperança de novas turmas de crianças destacadas em mérito nas provas federais de avaliação individual; 6) Retirada do efetivo da PMERJ do Tribunal de Justiça, substituindo-o por policiais civis da CORE; 7) Contratação de professores para lecionar a nova ordem nas unidades de ensino e instrução da PMERJ, em demérito do corpo docente interno formado por competentes oficiais e praças, não se sabendo ainda a profundidade desta intenção que, na verdade, integra-se como luva ao contexto destruidor por implosão; 8) Redução drástica da capacidade de prestar serviços à população, pelo cerceamento, via administrativa, do dever da PMERJ de lavrar Termos Circunstanciados em vista da Lei 9099/95; 9) Extinção dos GATs (Grupamento de Ações Táticas) por conta da tragédia gonçalense (brutal assassinato da Juíza Patrícia Acioli por integrantes do GAT do 7º BPM); 10) Retenção de dezenas de milhões de reais do Fundo de Saúde da PMERJ nos cofres do Estado, dinheiro descontado das algibeiras parcas do PM para que ele e sua família recebam atenção médico-hospitalar digna. Cá entre nós, se nem esse dinheiro, que é nosso, entra nos cofres da PMERJ, que dizer do outro?... 11) Criação de órgão corregedor externo interferindo na hierarquia e na disciplina militares, em superposição de funções entregues a sectários civis, dissimulando-se uma falsa isenção pela presença subalterna de alguns PMs na estrutura. Ignoram os sectários ser a PMERJ, constitucionalmente, uma Força Auxiliar Reserva do Exército Brasileiro e, portanto, possuidora de legislação castrense semelhante à da força federal verde-oliva, que, por sinal, não sofre ingerência externa nos moldes inventados pelo RJ. Ora, a PMERJ até poderia se escudar na Carta Magna e em leis e decretos federais para contestar a existência desse organismo corregedor externo, cuja função tem sido a de colaborar na destruição da imagem da corporação por meio de ameaças endereçadas aos que almejam uma PMERJ eficiente e eficaz na manutenção da ordem pública, sua missão precípua. Porque, sem qualquer sombra de dúvida, a PMERJ é capaz de solucionar seus problemas hierárquico-disciplinares sem a necessidade dessa interferência externa, bastando-lhe a fiscalização do Ministério Público (Art. 55 do CPPM) e a ação da Justiça na cobrança de seus excessos ou omissões.
Enfim, isto é só um pouco do todo que move o ímpeto destruidor dos personagens em questão, no que são ajudados pela mídia em insanidade impressionante. Nesse estágio, entender que tudo não passa de coincidência, e que essa turma de fora é movida por boas intenções, é o cúmulo da inocência ou da estultice. Na verdade, a PMERJ está no dantesco Portal do Inferno e não percebe que sua inércia a levará à destruição. Daí a inscrição de Dante Alighieri (1265-1321) gravada no frontispício deste desabafo, espécie de alerta que espero ver alcançar os brios do PM, em especial dos jovens oficiais ainda em estado de letargia por contágio de cima para baixo. Porque não há mais como negar que o botão da implosão ou da explosão da PMERJ está acionado; digo-o assim, tanto faz, porque não sei mais se a implosão ocorrerá antes da explosão por conta da passividade interna ante o relógio que faz escorrer o tempo ao marco zero sem que ninguém se ocupe de desligá-lo. Ou então esperam que os botões de fora continuem acionados e a explodir gradualmente a instituição, em fases premeditadas, tornando a PMERJ, ao fim e ao cabo, nada mais que pó, indo ao inferno por falta de orações, de mãos dadas, dos que deveriam reagir a tempo saindo da letargia do casulo e batendo asas em sentido inverso... Mas não o fazem!

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