terça-feira, 30 de agosto de 2011

Sobre a chacina de Vigário Geral III



Sobre o cineasta Milton Alencar Júnior





Não vi ainda o documentário produzido pelo cineasta Milton Alencar Júnior, mas posso pressentir mau cheiro nele apenas por suas declarações antecedentes, grafadas pelo Jornal O Globo, demonstrando que, em vez de se postar como produtor do filme-catástrofe, ele deveria assumir o papel de ator principal, tal é sua veemência (fora de hora) ao externar uma atrasada “indignação”, quase maior que a das famílias das vítimas. Insisto que não vi o documentário e faço questão de inferir seu teor antes de vê-lo apenas pela má intenção do cineasta para comigo na referida entrevista e para aludir ao fato de que foi assim, por inferência, que desvelei a farsa passada da apuração que não houve.
Como externei em artigo anterior, há toda uma claque interessada em não assumir suas incompetências e crueldades ao danificar a vida de policiais inocentes. Esta claque é ainda engrossada por pessoas que criaram ONGs e ainda ganham dinheiro explorando a desgraça alheia, enquanto os desgraçados parentes das vítimas da chacina até hoje não viram a cor das indenizações tão propaladas pelo falido desgoverno brizolista incentivador de crimes e chacinas a pretexto de “salvaguardar os direitos humanos”.
Ora, após o assassinato dos quatro PMs, só criancinhas não concluiriam que poderia haver retaliação por parte de uma tropa policial pressionada por exclusões disciplinares e proibida de enfrentar bandidos nos mesmos termos de sua agressividade. Eram os policiais obrigados a enfiar o rabo entre as pernas sob pena de perderem o emprego, e somente lhes cabiam morrer como patos caçados em vias públicas. E não importa insistir que os quatro PMs foram à Praça Catolé da Rocha para extorquir bandidos, o que até pode ser verdade, mas nunca foi comprovada além das especulações que os situaram como os ignóbeis transgressores. Alegar tal situação para justificar o cruel assassinato deles é absurdo! Dizer que eles mereceram morrer apenas porque estavam fora do roteiro adrede traçado pelo nono batalhão para a supervisão de graduados é aberrante.
Mesmo que a especulação contra os PMs resuma a verdade do que houve, há de se lembrar que quem morreu foi a instituição PM, pois os quatro PMs estavam fardados e embarcados em viatura caracterizada; e, deste modo, foram tocaiados e executados por traficantes sanguissedentos, sendo tal fato emblemático. Cabe comparar este caso com a brutal execução da Juíza Patrícia Acioli, que não morreu por ser mulher independente e polêmica em sua vida particular, mas por ser magistrada que cumpria rigorosamente a lei. Então, executaram o Poder Judiciário, assim como a PMERJ foi igualmente assassinada.
Vivo cismado com aquela chacina mais que previsível. Não entendo como e por que o sistema situacional, mesmo observando e documentando a revolta dos policiais presentes ao enterro do sargento Ailton (ignorando os demais sepultamentos, que não foram observados nem filmados ou fotografados), não se antecipou na proteção da comunidade de Vigário Geral, até que fosse para evitar iniciativas raivosas e descontroladas de PMs para se vingar de traficantes na base do olho por olho, dente por dente.
Será que o sistema situacional afrouxou a vigilância para permitir a invasão da favela imaginando ser interessante que PMs matassem dezenas de bandidos? Isto teria sido ponderado? Afinal, estava na cara que, não havendo ação oficial além das acusações contra os PMs mortos, disparadas pelas autoridades do sistema situacional, os PMs agiriam na informalidade. Ora, o sistema situacional não moveu palha para evitar a reação indignada dos PMs, não protegeu a comunidade e a deixou à mercê de uma sanha assassina mais que previsível.
Advém daí a minha cisma, que depois se corroborou em tese da Defensoria Pública afirmando que houve omissão do poder público como precondição para a perpetração da chacina, e assim garantir a indenização dos parentes das vítimas. Decisão prudente, pois, afinal, se havia algo inquestionável era a omissão do poder público, que não protegeu a comunidade assolada pela barbárie dos executores, que, encapuzados e em trajes civis, não poderiam ser identificados como policiais.
Em acontecendo a chacina, o foco do sistema situacional era o “como” a chacina foi executada e “quem” a executou, inventando-se celeremente autores e culpados a partir de fotos e filmes do sepultamento do sargento Ailton (insisto em dizer que somente do enterramento dele, ignorando o sistema situacional os três outros sepultamentos onde deve ter havido igual indignação). Claro que jamais interessou ao sistema situacional senão atender aos anseios imediatos de uma imprensa ávida por “furar” o colega ao lado, cabendo nesta disputa por notícias (notícia é dinheiro) qualquer pontapé antiético.
Na realidade, até hoje ninguém se interessou pelos “porquês”, pelas causas, e sim pelos efeitos e seus desdobramentos posteriores. Sim, por que houve a chacina? Quais foram os componentes sociopolíticos e psicossociais anteriores a ela? Ah, não há interesse por esses fatores porque eles decerto levarão à conclusão de que a deliberada omissão policial fez crescer o açodamento entre os facínoras a ponto de eles se tornarem os únicos senhores da verdade e da vida das comunidades carentes e dos policiais, matando-os a mais e mais, e impunemente, aqui, ali e acolá.
Eu sinceramente esperava, pelo contato que tive com o cineasta Milton Alencar Júnior, que houvesse isenção de parte dele, pois, afinal, não se tratava de reportagem sensacionalista, mas de documentário, ou seja, de registro histórico compromissado com a verdade e a justiça. Mas ele, ao admitir como um "feito" entrevistar o facínora Ivan Custódio Barbosa de Lima, com o qual interagiu em promiscuidade para gravar suas reiteradas e já destroçadas mentiras, dando-lhes nova força acima de decisões judiciais, demonstrou que não veio atrás de verdade alguma. Sim, ao se jactar de ter conseguido entrevistar o bandido como se fosse o momento mais importante do seu documentário, ele apenas toma posição como o fez o sistema situacional que enganou a todos no passado e continua até hoje enganando os parentes das vítimas, que ainda não receberam indenização alguma. Ademais, ele deliberadamente me alfineta na entrevista concedida ao Jornal O Globo, deixando no ar a falsa ideia de que eu tive algo a ver com a chacina e que não teria o direito de esquecê-la, quando, na verdade, tive e tenho a ver com minhas denúncias sobre a fabricação de culpados, o que combati e combato até os dias de hoje e continuarei a fazê-lo amanhã.
Ora bem, vamos aguardar o documentário para ver se confirmo minhas previsões ou queimo a minha língua. De um modo ou de outro, porém, esse cidadão jamais apertará a minha mão ou me visitará em casa, pois ele, para mim, é apenas mais um interessado em ganhar dinheiro com a desgraça alheia. Mas, dependendo do que documentou como "verdade", ele também poderá ter seus bolsos esvaziados em ações judiciais...

6 comentários:

Cláudia Magalhães disse...
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Emir Larangeira disse...
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NEIDE disse...
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Anônimo disse...
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Emir disse...
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Anônimo disse...

http://pt.wikipedia.org/wiki/Chacina_de_Vig%C3%A1rio_Geral

A verdade sempre aparece; parece que quem levou o SGT Ailton para a morte foi a própria testemunha; ninguém havia pensado nisso?