quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A infinitude do bem e do mal


















No escorrer dos anos de minha vida pautei-me pela coerência, mesmo assumindo posições erradas ou contrárias a grandes interesses. Quanto aos meus erros (ou incoerências), não foram poucas as oportunidades em que mudei de opinião e pedi desculpas. Quanto aos meus acertos, defendi-os à exaustão e muitas vezes me arranhei por fora e por dentro. Contudo, jamais me importei, aprendi com meu pai, no pouco tempo em que convivemos (eu contava dez anos quando ele faleceu), a honrar as minhas calças a qualquer preço. E assim caminho vida afora, afinado com meus pensamentos, por mais estranhos que eles se apresentem a terceiros ou até a mim. Creio que morrerei assim...



Talvez a definição desse modo de vida se pudesse resumir numa só palavra: independência. E como temos pouca liberdade neste país, é claro que ser independente tem me custado um alto preço. Fui vítima de muitas injustiças e perdoado em outras ocasiões por superiores compreensivos e juízes justos. Talvez porque eu me dedicasse ao trabalho como meio e fim sem me importar com mais nada além do cumprimento da missão. Sim, amo a profissão que escolhi, embora não fosse minha vocação original (eu sonhava ser patologista). Mas foi na Polícia Militar que me encontrei como gente e vivo ainda a empolgação dos primeiros dias, tão tamanhona que nenhuma frustração será capaz de enodoá-la. Foi assim, empolgado, que alcancei meus sessenta e cinco anos sentindo-me com vinte.



Vivi intensamente intramuros dos quartéis e no mundo civil. Alegrei-me com os vivos e chorei os mortos. Hoje me alegro menos e choro mais por ver a partida dos meus contemporâneos. É triste, mas sei que ninguém escapará desse destino e muitos jamais serão lembrados em tempo algum. Quanto a ser lembrado, porém, não sei se é tão importante para quem fica. Uns dizem que a lembrança prolonga a vida dos que partem, e geralmente essa lembrança se associa a obras deixadas e admiradas. Oh, longe de mim! As lembranças vencedoras dos tempos costumam ser restritas a poucos. Pessoas comuns são esquecidas em pouquíssmo tempo...



Não depende de mim ser lembrado. Nem sei se acumulei feitos e feitios para me tornar lembrança. Quem sou eu para tanto?... Enfim, sei que serei recordado pelos meus filhos e nem pretendo existir no lembrar de netos e bisnetos, eles terão preocupação com a própria vida deles e o fazem mui bem. Resta-me, então, desfrutar a vida no seu máximo, sem prejudicar terceiros e sem contemporizar com os maus, estes que para mim não deveriam nem existir. Refiro-me aos bandidos contumazes, dos quais não guardo rancor nem pena, somente entendo que deveriam inexistir de algum modo para que os bons vivessem em paz. Eis-me então descambando para a utopia, pois os bandidos sempre existirão a infernizar os cidadãos pacatos, muitas vezes dando fim à vida deles. Pena que seja assim, pena que haja tanta benevolência com esses malevolentes. Que fazer? O mal faz parte da vida e talvez seja necessário existir para ressaltar a existência do bem. São ambos, portanto, unos e infinitos...



Um comentário:

Anônimo disse...

Porque toda a carne é como erva, e toda a glória do homem como a flor da erva. Secou-se a erva, e caiu a sua flor.
Biblia Sagrada, 1Pe 1:24