quarta-feira, 18 de maio de 2011

A Parada Gay 2


Como sublinhei em artigo anterior, já me posicionei a favor da união civil dos gueis, faz muito tempo, em artigo que tornei público via internet. Por outro lado, também pincelei algo sobre o homossexualismo intramuros dos quartéis da PMERJ. Negá-lo agora seria contrassenso. Tanto que reproduzo o capítulo nove do meu romance O Espião, editado em 2006, esclarecendo que a palavra “guei”, que venho grafando em insistência, está dicionarizada no vernáculo pátrio, não mais nos cabendo a nós, brasileiros, gueis ou não, insistir na estrangeirice “gay”. Afinal, quando será que os gueis nacionais sairão do armário inglês para assumir com todas as letras o homossexualismo pátrio?...
Feito o reparo, acrescento o texto de minha autoria, editado no livro em referência, sendo mais que certo que o palpitante tema não se esgotará tão cedo assim.




“9 – HOMOSSEXUALISMO EM QUARTEL

“Aqui se esconde a lebre.”

Eia! É hora de amenizar esta narrativa perfumando-a e pintando-a em coloridos mil. Vamos então trilhar por caminhos menos tortuosos e mais amaneirados?... Oh, sim, por que não?... Segundo Onayr, a faina dos recrutas invariavelmente se iniciava com a alvorada tocada em estridentes campainhas instaladas nos alojamentos. Às cinco horas da manhã, o som vinha forte e acompanhado do acender de luzes e dos não menos estrídulos gritos dos sargentos botando os recrutas para fora de suas camas, como se fossem sedentos lobos (os sargentos) à cata de sangue fresco dos tenros cordeiros (os recrutas).
Muitos se levantavam desta maneira estúpida somente porque se obrigavam a ficar como hóspedes no CEFAP. Moravam longe, e aquela era a única opção a lhes servir de lar; outros se deixavam ficar quando cumpriam serviços: ou de plantão nos alojamentos, ou no corpo da guarda, ou nos banheiros, ou nos postos avançados de sentinelas que guardavam os distantes pontos do imenso terreno do quartel-escola, rompendo a noite a gritar o brado de “alerta, sentinela!”, indo do primeiro ao último e ao primeiro tornando em vaivém ininterrupto, para evitar o sono de alguns. Ainda se juntavam aos que se mantinham aquartelados, pelas razões expostas, os que vinham de suas casas pela manhã, formando todos em uniforme de educação física no campo de futebol.
A calistenia era precedida de aquecimento-padrão; depois, uma animada corrida completava a hora gasta no exercício físico dos recrutas, que, após, partiam ao banho frio (muitos eram vigiados para não fugir dele) e ao café, em longas filas de todos fardados e prontos para a próxima instrução. Contudo, no momento do banho era fácil perceber os olhos compridos de assumidos gueis espetados nas partes íntimas dos envergonhados ou desinibidos recrutas, ou seja, nos seus balangandãs que se mostravam às pencas.
O homossexualismo era uma inegável realidade, mas todos fingiam ignorá-la, até porque já se sabia que alguns sargentos e oficiais também carregavam fama de gueis, apesar de não assumirem abertamente a preferência pelo mesmo sexo e escamotearem seus trejeitos característicos. Mas as situações de homens desvestidos traziam consigo as incoercíveis manifestações homossexuais de muitos deles, e, portanto, observáveis. Foram relatórios e mais relatórios de casos particulares que Onayr teve de encaminhar aos pesquisadores, que se demonstravam pasmos com a exagerada incidência desse tipo de comportamento em quartel. É claro que esperavam que houvesse alguns casos, mas não tantos como Onayr lhes afirmava haver. E não eram raras as oportunidades em que recrutas reconhecidamente garanhões eram chamados a discretos lugares por “delicados” superiores...
Um dos sintomas dessas relações às escondidas eram as benesses em escalas de serviço. Pasmem, se quiserem, mas não eram poucos os agraciados com folgas nos fins de semana, sem falar em alguns descarados recrutas que faziam questão de anunciar que tal ou qual superior lhes abordara em assédio sexual. Mas, por amor à verdade, Onayr acabou reconhecendo que os mais esvoaçantes dificilmente concluíam o curso. Recebiam pressões de todos os lados até pedirem desligamento. Em compensação, os enrustidos se encontram até hoje espalhados pelos quatro cantos do Estado. Lograram a manumissão e estão na milícia a caçar estrovengas alheias em vez de bandidos. E não são poucos, e de soldado a coronel...”

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

Em qualquer ramo da atividade humana encontramos pessoas com diferentes maneiras de pensar, de agir, de se comportar etc, e podemos observar que somos bem diferentes dos outros animais, os chamados irracionais.
Leis são criadas todos dias, outras modificadas na tentativa de se obter um padrão ou de se adequar as mudanças que advém com os avanços, pricipalmente os tecnológicos e a tendência é que aquilo que ontem era motivo de vergonha passe a ser motivo de orgulho; tudo caminha pra isso e logicamente que os ármarios de aço passem a servir apenas para guardar uniformes de trabalho e outros bens materiais.