domingo, 17 de abril de 2011

Desarmar é preciso?...

O lobby das armas é, sem exagero, o mais poderoso do mundo. Tanto que campanhas pacifistas não sensibilizam legisladores no sentido de travar esse promissor mercado que, em vez de se fragilizar ante as pressões contrárias, se amplia em novos concorrentes e na fabricação de armas a mais e mais sofisticadas e letais, que vão das mais simples às de destruição coletiva. A precisão dessas armas garante a letalidade almejada sem muito esforço de quem a manuseia. E, se antes a arma era um bem precioso e carente de cuidados, hoje ela é descartável, além de se superar em tecnologia avassaladora. Enfim, mais eficiente que o mercado de drogas, o de armas percorre simultaneamente o submundo do crime e o mundo oficial, duas vias garantidoras de consumo desmedido e incontrolável. A situação acima descrita, real e inquestionável, produz tal mortandade que qualquer tragédia, como a de Realengo, embora terrível aos nossos olhos e corações, reduz-se a um mínimo em relação ao todo. Porque é certo que muitas crianças morreram Brasil afora no mesmo dia e dias seguintes, vítimas de crueldade não menos requintada. Portanto, campanhas de desarmamento, como intentam promover alguns políticos apoiados pela mídia, nascem fadadas ao fracasso. Supor que tal ação política evitará novas tragédias é assumir a burrice fundamental. Os motivos do fracasso são vários, podendo-se de pronto sublinhar que nenhuma campanha ultrapassará a fronteira pátria – o nosso “queijo suíço”. Ademais, mesmo fechando todas as fábricas nacionais de armas, encerrando a produção e desempregando bastantes gentes, ainda assim não será simples recolher as armas clandestinas (milhões) que transitam entre pessoas que entendem valer a pena manter, legal ou ilegalmente, uma arma em casa para a defesa da família. Mais ainda: não há como conter o contrabando internacional de armas, e, mesmo que as nacionais desapareçam (uma utopia), as estrangeiras rapidamente tomarão seus lugares (uma realidade). Creio em ações políticas no sentido de diminuir a violência urbana e rural como um todo sistêmico. Questiono, embora parcialmente, quaisquer meios coercitivos (penalização mais rigorosa para o porte ilegal de armas) ou aparentemente preventivos, como a entrega de armas em troca de dinheiro. Não funcionaram, não funcionam e não funcionarão. Quem deseja possuir uma arma, seja qual for a sua motivação, justa ou injusta, costuma pagar um valor geralmente além das ofertas governamentais e não temem punição. Sim, quem guarda ilegalmente uma arma adquirida a suor jamais a devolverá, e quem a comprou dentro da lei é que não a devolverá mesmo. A questão do desarmamento não passa, portanto, de um isolado subsistema (não existe subsistema isolado que não culmine degenerado) dentre vários que necessitam de avaliação simultânea e de ação integrada (sinergia). Diminuir a violência com o foco tão-só na proibição da posse e do porte de armas é errôneo reducionismo. Questionar não significa, porém, renegar ações no sentido de controlar com maior eficiência e eficácia o comércio ilegal de armas de fogo e sua posse e porte irregulares, relevando-se a necessidade de penalização agravada ao extremo no caso das armas de guerra. A coerção é imprescindível, sim, mas enquanto não se vencer a hipocrisia reinante na sociedade brasileira em favor do menor delinquente e dos apenados por crimes graves, principalmente, a impunidade vencerá os que hipocritamente a defendem. E, enquanto for assim, a violência exercerá invencível supremacia sobre os direitos e garantias dos cidadãos ordeiros, especialmente o direito à vida. Enquanto, enfim, a nação brasileira justificar criminosos como “vítimas de exclusões sociais”, em vez de se impor contra o crime por meio de medidas tão extensas como profundas, a violência não perderá a coroa, o manto e o cetro. E continuará reinando sobre pessoas e coisas, e pairando acima do bem e do mal, e fazendo jorrar o sangue de inocentes como na tragédia de Realengo.

Um comentário:

Paulo Xavier disse...

Sabemos que a quantidade de armas nas mãos de delinquentes é incalculável; é impossível saber, após tantos anos nessa escalada crescente da criminalidade no nosso país. Mas o que fazer? Desarmar o cidadão ordeiro que por acaso guarda uma arma em casa para defender sua família? E as armas dos bandidos?
O noticiário policial nos mostra todos os dias uma quantidade enorme de armas criminosas que são apreendidas, além de outras tantas que não se transformam em notícias, mas a cada arma apreendida aparecem outras, mais modernas e potentes.
O problema é mais sério do que parece, mas o maior deles com certeza, é uma arma com alto poder de destruição em mãos erradas.