domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sobre as UPPs



Neste domingo, 27/02/2011, a ilustre jornalista Míriam Leitão, em inesperado viés, sai do seu “PANORAMA ECONÔMICO” para falar de Unidade de Polícia Pacificadora e de corrupção policial. Deixando para outra oportunidade o segundo tema sem dúvida importantíssimo, fixo-me na UPP não sem um gosto de mel na boca. Porque já especulei neste blog sobre a possibilidade de a tão preocupante migração de grandes levas de traficantes para outras localidades não ocupadas pela polícia não ter ocorrido. Enfim, a movimentação dos traficantes seguiu a lógica econômico-piramidal de sempre: poucos com muito nas algibeiras fugindo e muitos de bolsos vazios ficando nas comunidades em consentido mimetismo. Afirmou à importante colunista o secretário Beltrame: “− Quem foge é o grande bandido, o chefe...”
Não vou acrescentar detalhes à fala dele, corretíssima, que confirma minhas especulações anteriores e reforça minha mea culpa, embora o ilustre secretário seja cauteloso em não admitir que muitos jovens, graças às UPPs, estão aproveitando a chance de abandonar o crime para buscar o trabalho honesto, vencendo assim o dilema fundamental: para sair do tráfico, só morto ou preso. Ou seja, duas alternativas ruins imediatamente eliminadas pelas ocupações policiais. Creio que acolher a alternativa do resgate de muitos jovens para o lado do bem deva ser prioridade da maquinaria governamental. Sim, é imperioso instituir meios e modos de inclusão social para substituir a repressão policial em relação aos que não possuem folha penal, não estão mais traficando, e se tornaram apenas “suspeitos”. Apostar no resgate desse imenso contingente de jovens é melhor que vigiá-los para puni-los. Mantê-los ociosos, porém, é permitir que a criminalidade continue infectando o ambiente de forma latente...
Já sobre policial gostar de política, os profissionais da mídia precisam se acostumar à ideia de que o policial é antes de tudo cidadão, e, como tal, deve participar ativamente da política num regime democrático, claro que obedecendo a regras claras, como, aliás, ocorre com todos os cidadãos detentores de direitos e submetidos a deveres. Essa preconceituosa tentativa de excluir da política o policial e o militar é subproduto da ditadura, momento em que o povo é oprimido geralmente por militares e policiais fiéis a algum ditador. E ao se verem indefectivelmente excluídos do processo democrático tendem a se tornar sério obstáculo à democratização de um país. Ora, nos países civilizados e democráticos a polícia possui sindicatos, e em outros tantos há sindicatos até de militares. Portanto, o fato de a nova dirigente da Polícia Civil gostar de política e dela participar deveria ser visto positivamente pela sociedade e não o contrário. No meu modo de ver, a intervenção da ilustre jornalista Míriam Leitão nesse sentido faz aflorar uma ponta de preconceito que deveria ser abolido da mente societária em benefício da democracia, que, por sinal, não pertence a categorias distintas, mas é indistintamente do povo. E polícia também é povo!

2 comentários:

NEIDE disse...

Por mais que se fale em democracia, ainda nos deparamos com pensamentos tipo: policial é somente para defender a população, excluindo-lhe o direito de pensar e agir sem que para isso lhe deem ordens. Tratam-os como meros bonecos de artilharia sempre prontos a obedecer ordens. Esquecem-se de que atrás daquela farda muitas vezes sem a proteção de um colete, está um ser humano que faz jus a inteligência que lhe foi conferida. Quem sabe quando o Governo der mais atenção aos nossos policiais este quadro mude.

Paulo Xavier disse...

"Quem foge é o grande bandido, o chefe". Também concordo com essa afirmativa do Secretário Beltrame, porém o que nos parece é que o governo não está preocupado para onde esse bandidão está indo. Ele sai da Vila Cruzeiro ou do Alemão e vai para a Mangueira, Macaé, Saquarema ou Varre-Sai, quando deveria estar devidamente encarcerado ou fora de circulação.
Onde tem tráfico de drogas tem assassinatos, roubos e furtos e a tendência é a estatística desses crimes aumentar no interior do Estado, quem viver verá!