quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Uma mudança revolucionária


Houve épocas em que as edificações eram eternizadas em pinturas ou fotografadas em “flash-pólvora”. O tempo trapeiro, porém, levou tudo ao esquecimento: as edificações ruíram, as pinturas e as fotos desapareceram em irreversível entropia. A arqueologia vem dando mostras de quantas construções monumentais se perderam ao longo dos séculos, não importando se por causas naturais, destruições bélicas ou falta de manutenção. Ainda hoje se encontram indícios de civilizações remotas soterradas em pontos diversos do planeta.
Os métodos de preservação e restauração evoluíram com a tecnologia, estimulando o tombamento de edificações para levá-las ao futuro. Em função dessa decisão de caráter universal, a Humanidade tem hoje o privilégio de visitar prédios seculares ou vê-los em quadros e fotos recuperadas. No entanto, e mesmo assim, muitas das pinturas desapareceram e as fotos não resistiram ao tempo. Por outro lado, antigos prédios mantêm-se vivos, mas não servem estruturalmente às exigências funcionais modernas. Ademais, hoje eles podem ser preservados em imagens tão fielmente detalhadas e contempladas como se estivessem presentes no mundo. Essas informações virtuais são atualmente acessíveis a todas as camadas sociais mundo afora.
Nesses tempos das imagens eternizadas, o tombamento pode ser substituído pela destruição do velho a dar acesso ao novo, saindo de cena a contemplação para dar lugar à participação. Afinal, um corpo não pode ocupar o espaço do outro num só tempo; daí assistirmos à ousadia de pessoas capazes de destruir antigas construções para atender às demandas participativas da modernidade. No fim de contas, a edificação antiga se põe a mais e mais distante da máxima arquitetural de Louis Sullivan: “O formato segue a função”1.
Destruir para construir não é ideia recente nem se reduz à arquitetura; ultrapassa esses limites, vai à poesia e às artes plásticas e adentra a Administração com a reengenharia dos negócios para fazer frente às incertezas ambientais e à competitividade. No mundo das organizações modernas não há de haver estruturas rígidas, mas dinâmicos desenhos para atender às exigências da vida em sociedade. O mundo está mudado e as atividades sociais recebem forte influência do ambiente e da tecnologia. Os espaços recebem novos significados em relação ao tempo. Problemas complexos impõem soluções urgentes e igualmente complexas. Quem não se preparar para essas mudanças e não partir corajosamente à destruição e à reconstrução sucumbirá ante a competitividade. Quem sair na dianteira vencerá a corrida...
É tão complexo o mundo moderno que a filosofia não se escusou de firmar suas posições e historiar as mudanças nos grandes centros urbanos para adequá-los às prementes necessidades humanas. Desintegrar para reintegrar é preciso! E não me surpreende a ousadia do atual comandante-geral da PMERJ, Cel PM Mário Sérgio, que, em sendo filósofo de formação, se obriga a ir além do seu tempo tal como “Robert Moses e suas obras públicas”2, em Nova Iorque, lá pela década de 50 e seguinte.
A notícia da reformulação dos quartéis se reflete mui além da obra física. Mas não serão poucos os defensores da manutenção de estruturas físicas por conta de carcomidas tradições. Claro que não se trata de defender a cessão pura e simples de espaços pertencentes à corporação para atender a interesses não institucionais, como parece acontecer em Niterói, em que um estaleiro se arroja na direção de espaço da PMERJ em transação mal explicada ao Público Interno. Mas a reconstrução do espaço e sua ocupação em outros moldes pela própria instituição é marco tão histórico como participar da Guerra do Paraguai, o que, aliás, é só História do Brasil e dispensa ufanismos: o país vizinho é atualmente nosso amigo. Os tempos são outros...












Que vá adiante o comandante-geral da PMERJ em sua ousadia! São quatro anos que podem mudar a corporação e projetá-la ao futuro promissor. Eu estarei enfiado no meu pijama torcendo para ver a primeira mudança revolucionária, e que seja a partir do Quartel-General, embora a PMERJ não possua o posto e a patente de oficial-general. É apenas tradição... Mas podemos gozá-la tomando um cafezinho no Bar Treme & Terra ou no Café & Bar... Bonos situados no Shopping Center PM da Evaristo da Veiga, em cujo teto se erguerá um Quartel-Coronel de muitos andares modernizados. E, no terraço, preservada (a engenharia moderna permite tal façanha), despontará a velha Capela da Irmandade em meio a um frondoso jardim e um moderníssimo pátio a formar a tropa para hastear nossas bandeiras centenárias. E todo o resto, destruído, devidamente guardado na memória virtual do computador e projetado em telões para apreciação pelo povo. Por que não?...





1. CARTER, Cris, Stewart R. Clegg e Kornberger (tradução Raul Rubenich) – UM LIVRO BOM, PEQUENO E ACESSÍVEL SOBRE ESTRATÉGIA – Bookman – Porto Alegre – 2010.

2. BERMAN, Marshall (tradução Carlos Felipe Moisés e Ana Maria L. Ioriati) – TUDO QUE É SÓLIDO DESMANCHA NO AR – A AVENTURA DA MODERNIDADE – Companhia das Letras, São Paulo, 1982.

Um comentário:

NEIDE disse...

SE FOREM REALMENTE ESSES OS MOTIVOS DAS TAIS REFORMULAÇÕES E NÃO MAIS UM MOTIVO PARA SE ESCOAR OS COFRES PÚBLICOS, DE FATO É ATÉ VIÁVEL E ACEITÁVEL QUE NOSSOS POLICIAIS TENHAM LOCAIS DECENTES E BEM SITUADOS PARA QUE POSSAM DAR O ATENDIMENTO AO PÚBLICO. PORQUE É MUITO FÁCIL SÓ EXIGIR RESULTADOS E NÃO SE PREOCUPAR EM OFERECER MEIOS PARA QUE ELES POSSAM EXECUTÁ-LO.
POR OUTRO LADO TAMBÉM, ALÉM DESSAS OBRAS, ACHO QUE DEVERIAM TAMBÉM PENSAR EM UMA MELHOR REMUNERAÇÃO POLICIAL, SENÃO CORREMOS O RISCO DE IGUALÁ-LOS A MAÇÃ QUE ENVENENOU BRANCA DE NEVE, OU SEJA, LINDA POR FORA MAS POR DENTRO.....O BOM POLICIAL E QUALQUER SER HUMANO TRABALHA MELHOR QUANDO É BEM REMUNERADO E RECONHECIDO PROFISSIONALMENTE.