domingo, 9 de janeiro de 2011

Reflexão de fim de semana II

PMERJ: a “profissão do nada”?













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Faz bom tempo que ouvi de um colega oficial da PM: “A profissão policial-militar é a profissão do nada!” Tinha ele razão em parte, na época éramos mais aquartelados que rueiros (no bom sentido) e sobrava tempo para o baralho e o futebol. Bem, ele se mandou para outra profissão. Eu fiquei e concluí, contrariamente ao que dele ouvi, que a PM funcionava como a “profissão das mil e uma utilidades” porque fazíamos de tudo um pouco. Por outro lado, jamais pude desconcentrar meu pensamento da afirmação do colega, que mais se referia ao controle da criminalidade. Afinal, quem tenta fazer muita coisa acaba não fazendo nada ou faz malfeito. Teria ele razão?...
... Tendo ou não, alguns anos após 1964 fomos jorrados às ruas pra valer e fazer de tudo: do socorro ao menino com o prego espetado no pé à prisão do bandido perigoso, o que acabou inspirando minha tese apresentada à Banca Examinadora do Curso Superior de Polícia (CSP), em 1988, laureada com grau máximo em suas quatro etapas: Projeto, Metodologia, Conteúdo e Apresentação. Comprovei que, ante a criminalidade, nós quase nada produzíamos em benefício da sociedade, dando razão ao colega. Por outro lado, provei que fazíamos de tudo porque a miséria não era atendida pelo Estado através de outros organismos existentes com esse fim. (vide a íntegra do trabalho: www.emirlarangeira.com.br).
A questão primordial talvez seja a de entender e aceitar o paradoxo do policiamento preventivo, missão precípua da PMERJ: o bom serviço seria a ausência de ocorrência criminal. Ou seja, seria este o tão almejado “nada” decorrente da total inibição da oportunidade de o criminoso potencial delinquir, já que ele existe e sempre existirá, tal como o amor e o ódio (López-Rey, 1973 – Introdução1). Presume-se, pois, que o criminoso potencial vê a PM e recua em seus objetivos imediatos. Mas ele acabará burlando a vigilância ostensiva até cumprir sua finalidade, a não ser que seja um azarado e entre em cana.
Com o olho no ambiente social, deduz-se que a utilidade do patrulhamento preventivo implica considerar que quanto maior for a sua frequência mais eficiente e eficaz será a prevenção. E, de certo modo, também a repressão, devido à presença maciça da PM nas ruas e logradouros. Quanto à proximidade do PM com as pessoas, há controvérsias, especialmente se ela se dá entre o PM embarcado em radiopatrulha e o cidadão. Há muitos estudos comprovando que o policiamento motorizado não propicia uma proximidade ideal entre o policial e o público porque torna subjetiva a sensação de segurança, diferentemente do policial rondando a pé, prática cada vez mais incomum nos grandes centros urbanos.
Outro paradoxo da prevenção é o de que ela, por estar presente e visível, facilitaria a imediata repressão do crime já ocorrido e em meio ao clamor. Mais que paradoxo, isto soa como falácia, a uma porque a repressão ocorre quando a prevenção falha; a duas porque nem sempre a prevenção é ágil a ponto de alcançar o criminoso em flagrante. O lapso entre a comunicação pela vítima à Central de Operações (190), o acionamento e a chegada da polícia, a tomada de informações no local e outros atrasos põem o criminoso em indiscutível dianteira. Deste modo, ele geralmente não é alcançado pela repressão, que não ultrapassa o desgaste dos recursos policiais, não supera a frustração da vítima e o tiro vai pela culatra: a vítima se revolta bem mais com a polícia ineficiente do que com o criminoso que a vitimou.
Estrategicamente, não seria demais entender a situação acima como sério óbice; ou, como se infere dos ensinamentos de Planejamento Estratégico, um verdadeiro choque entre a realidade e a retórica; enfim, são os gaps (lacunas)2entre a ordem e a desordem” e “entre meios e fins”. São as “falácias do planejamento estratégico universalmente conhecidas”... Em resumo, defender a prevenção seria como rezar para ganhar os céus... Ou não?
Muito bem, na verdade, não! Afinal, há o componente psicossocial a ser levado em consideração, desde que a polícia atenda aos anseios e valores captados no ambiente social. Para tanto é necessário avançar nos contatos com os segmentos comunitários, não restritamente aos cidadãos organizados em Associação de Moradores, mas envolvendo as instituições particulares que compõem a tessitura social localizada. Importa igualmente saber a opinião dos cidadãos individualizados em pesquisas de campo permanentes e localizadas. É tarefa árdua, onerosa, porém fundamental ao emprego eficiente e eficaz da PMERJ cujo exemplo positivo é a UPP. Mas a PMERJ não pode garantir seu prestígio apenas por conta do sucesso das UPPs em áreas restritas (“Ambiente de Tarefa”)3. Afinal, há o “Ambiente Geral” a exigir que sejamos a esponja de aço das “mil e uma utilidades” e façamos “tudo”, e assim deixo provado que não somos protagonistas do “nada”, como sugeriu o colega. Hum, vejo-me como se estivesse tentando ensinar padre a dizer missa...


1. LÓPEZ-REY, Manuel – O Crime – Artenova, Rio/GB, 1973 – Introdução: “Em verdade, o crime, como o amor e o ódio, é inerente à condição humana e reduzi-lo a uma expressão teórica ou a um sistema de pesos e medidas, para dar a impressão de uma medição exata, é tão ilusório como reduzir o amor e o ódio a uma pequena teoria ou a expressões numéricas.”

2. CARTER, Cris, Stewart R. Clegg e Kornberger (tradução Raul Rubenich) – UM LIVRO BOM, PEQUENO E ACESSÍVEL SOBRE ESTRATÉGIA – Bookman – Porto Alegre – 2010 pp. 143-144.

3. CHIAVENATO, Idalberto – INTRODUÇÃO À TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO – Elsevier Editora Ltda. – Rio de Janeiro, 2003, pp. 512-517.


4 comentários:

Anônimo disse...

Nós, – mães, esposas, viúvas e filhos de policiais-militares e bombeiros-militares, – vivenciamos a penúria em vista de seus péssimos salários. São igualmente ridículas as pensões decorrentes da morte dos nossos esposos. Não conseguimos educar nossos filhos e menos ainda amparar condignamente os órfãos. Muitos de nossos entes queridos estão paraplégicos ou tetraplégicos; outros perderam membros do corpo devido aos constantes confrontos contra marginais armados com fuzis de guerra; muitos são obrigados a usar fraldas e dependem de cuidados especiais. Mesmo assim, muitos não são nem reformados, a insensibilidade das corporações (PMERJ e CBMERJ) atinge as raias do absurdo.
Não temos acesso à casa própria, nossos esposos e filhos são submetidos a escalas de serviço degradantes; não podemos gozar da companhia deles nos fins de semana e feriados. Nem nos período de férias escolares podemos realizar pequenas viagens para visitar familiares, ou por falta de dinheiro ou porque os serviços extras nos pegam de surpresa, incluindo-se a cassação de férias regulamentares por qualquer motivo fútil.
A família dos militares estaduais sofre nos lares o resultado dos maus-tratos que eles recebem nos quartéis, refletindo-se negativamente no ambiente familiar. As corporações ignoram as doenças psíquicas, em especial o estresse e a depressão que acometem assustadoramente nossos entes queridos. O exercício penoso da profissão e o esgotamento físico e psíquico dos militares estaduais transformam-nos em verdadeiros autômatos. Nunca sabemos qual deles será a próxima vítima fatal a ter a família avisada, fato que ocorre semanalmente e até muitas vezes numa só semana. Vivemos a apreensão permanente. O medo nos domina. E terminamos no pranto da morte ou do ferimento destruidor da dignidade dos nossos entes queridos ao se arriscarem no enfrentamento dos criminosos.
Não temos direito ao sossego e nem a um mínimo de dignidade humana. Se os militares estaduais não trabalharem na folga, quando não a têm interrompida sem pudor por seus superiores, corremos o risco de passar fome e do despejo da moradia. Nossas crianças estudam em colégios públicos e sofrem com os colegas desmerecendo seus pais. Enfim, sofremos o descaso total dos governantes e temos de assistir nossos entes queridos a serem tratados como animais pestilentos, sem direito a nada, presos em xadrezes fétidos como se fossem criminosos e descartados da profissão sem direito à ampla defesa e ao contraditório.
Qualquer falta disciplinar do militar estadual, – mesmo decorrente do desgaste emocional e físico, – significa a real possibilidade de sua abrupta exclusão e da família perder simultaneamente o direito ao sistema de saúde para o qual ele contribuiu anos a fio. Vivemos no extremo risco da miséria. Nossos direitos são o de não termos nenhuma tranquilidade jurídica, familiar e social.
Nossa aflitiva situação somente poderá ser resolvida com o clamor da população e da imprensa em favor de melhores condições de trabalho e de salários para os militares estaduais, e vida condigna para seus familiares. Precisamos de ajuda humanitária, e ela se resume no respeito ao direito que temos à dignidade humana que nos é negada. A nossa causa não é apenas pessoal e familiar. É, antes de tudo, uma denúncia pública. Pois nenhum ser humano submetido a tratamento tão degradante poderá produzir boa segurança para a população. Para mudar esse estado de abandono a que estão submetidos os militares estaduais, e que se refletem negativamente nas ruas, é preciso que a população nos ajude! É preciso que os cidadãos abracem a nossa causa. Por favor, ajudem-nos a salvar a PMERJ e o CBMERJ!
Mari Torres.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO

Anônimo disse...

Nós, – mães, esposas, viúvas e filhos de policiais-militares e bombeiros-militares, – vivenciamos a penúria em vista de seus péssimos salários. São igualmente ridículas as pensões decorrentes da morte dos nossos esposos. Não conseguimos educar nossos filhos e menos ainda amparar condignamente os órfãos. Muitos de nossos entes queridos estão paraplégicos ou tetraplégicos; outros perderam membros do corpo devido aos constantes confrontos contra marginais armados com fuzis de guerra; muitos são obrigados a usar fraldas e dependem de cuidados especiais. Mesmo assim, muitos não são nem reformados, a insensibilidade das corporações (PMERJ e CBMERJ) atinge as raias do absurdo.
Não temos acesso à casa própria, nossos esposos e filhos são submetidos a escalas de serviço degradantes; não podemos gozar da companhia deles nos fins de semana e feriados. Nem nos período de férias escolares podemos realizar pequenas viagens para visitar familiares, ou por falta de dinheiro ou porque os serviços extras nos pegam de surpresa, incluindo-se a cassação de férias regulamentares por qualquer motivo fútil.
A família dos militares estaduais sofre nos lares o resultado dos maus-tratos que eles recebem nos quartéis, refletindo-se negativamente no ambiente familiar. As corporações ignoram as doenças psíquicas, em especial o estresse e a depressão que acometem assustadoramente nossos entes queridos. O exercício penoso da profissão e o esgotamento físico e psíquico dos militares estaduais transformam-nos em verdadeiros autômatos. Nunca sabemos qual deles será a próxima vítima fatal a ter a família avisada, fato que ocorre semanalmente e até muitas vezes numa só semana. Vivemos a apreensão permanente. O medo nos domina. E terminamos no pranto da morte ou do ferimento destruidor da dignidade dos nossos entes queridos ao se arriscarem no enfrentamento dos criminosos.
Não temos direito ao sossego e nem a um mínimo de dignidade humana. Se os militares estaduais não trabalharem na folga, quando não a têm interrompida sem pudor por seus superiores, corremos o risco de passar fome e do despejo da moradia. Nossas crianças estudam em colégios públicos e sofrem com os colegas desmerecendo seus pais. Enfim, sofremos o descaso total dos governantes e temos de assistir nossos entes queridos a serem tratados como animais pestilentos, sem direito a nada, presos em xadrezes fétidos como se fossem criminosos e descartados da profissão sem direito à ampla defesa e ao contraditório.
Qualquer falta disciplinar do militar estadual, – mesmo decorrente do desgaste emocional e físico, – significa a real possibilidade de sua abrupta exclusão e da família perder simultaneamente o direito ao sistema de saúde para o qual ele contribuiu anos a fio. Vivemos no extremo risco da miséria. Nossos direitos são o de não termos nenhuma tranquilidade jurídica, familiar e social.
Nossa aflitiva situação somente poderá ser resolvida com o clamor da população e da imprensa em favor de melhores condições de trabalho e de salários para os militares estaduais, e vida condigna para seus familiares. Precisamos de ajuda humanitária, e ela se resume no respeito ao direito que temos à dignidade humana que nos é negada. A nossa causa não é apenas pessoal e familiar. É, antes de tudo, uma denúncia pública. Pois nenhum ser humano submetido a tratamento tão degradante poderá produzir boa segurança para a população. Para mudar esse estado de abandono a que estão submetidos os militares estaduais, e que se refletem negativamente nas ruas, é preciso que a população nos ajude! É preciso que os cidadãos abracem a nossa causa. Por favor, ajudem-nos a salvar a PMERJ e o CBMERJ!
Mari Torres.
JUNTOS SOMOS FORTES!
PAULO RICARDO PAÚL
PROFESSOR E CORONEL
Ex-CORREGEDOR INTERNO

Paulo Xavier disse...

Emocionante o depoimento da Mari Torres! É isso aí que ela falou e mais alguma coisa.
Não acho que a profissão seja um nada, mas que o PM se sente um nada diante dos fatos tão bem narrados pela Mari.
No último dia 19 de dezembro fizemos a primeira festa de confraternização da minha turma do serviço militar obrigatório em 1972, portanto 38 anos sem ver a maioria dos colegas (éramos 150)de Exército e tive que me virar para responder as várias vezes em que me perguntaram porque saí da PM. Ora, sou bastante conhecido em Macaé e minha família idem, sempre tive um comportamento super tranquilo, sempre respeitando a lei e a ordem, jamais me envolvendo em qualquer ato ilícito. Simplesmente respondia que estava na profissão errada, que eu era infeliz, que trangredi algumas normas internas e por isso fui excluído disciplinarmente. Também digo sempre que durante o período em que servi na PM, a grande maioria era honesta e os desvios eram punidos com rigor, mas acho que hoje a coisa está bem diferente.
Se um filho foi expulso de casa por seu pai, provavelmente o relacionamento entre ambos sempre foi desrespeitoso e me desculpem os hipócritas de plantão, falta de respeito foi o que mais vi dentro da PMERJ.
Sem querer fazer média,mas digo sem medo de errar que se tivéssemos mais oficiais com a índole e a ética do Cel Larangeira muita coisa seria bem melhor e hoje eu não precisava está me explicando porque fui excluído da PM. Mas graças a Deus que a sociedade me reincluiu e hoje eu posso afirmar que sou um cidadão de bem.

NEIDE disse...

DESCASO ACHO ATÉ POUCO, O QUE ACONTECE É QUE ENTRA UM A SAI OUTRO EO PROBLEMA CONTINUA. MEU IRMÃO (SARGENTO DA PM) FALECEU EM 2003(VÍTIMA DE UM ASSALTO ONDE ELE FOI TIRADO DO CARRO, JOGADO NO CHÃO E COVARDEMENTE ASSASSINADO SIMPLESMENTE POR DESCOBRIREM QUE ERA POLICIAL, POIS BEM. DEIXOU O PECÚLIO PARA SER DIVIDIDO ENTRE MEU PAI, MINHA MÃE E EU. MINHA MÃE FALECIDA EM 2002; ELE, INFELISMENTE VEIO A SER ASSASSINADO EM 2003 E O MEU PAI DEVIDA A DEPRESSÃO DE TÃO GRANDES PERDAS, VEIO A FALECER EM 2004.JÁ SE PASSARAM 6 ANOS E ATÉ HOJE NÃO CONSEGUI RECEBER NADA. A ÚLTIMA RESPOSTA QUE OUVI FOI DE QUE O ESTADO NÃO TINHA VERBA PARA PAGAR A TANTOS PENSIONISTAS E DEPENDENTES. É UMA VERGONHA? PIOR. É DEPRAVANTE. NÃO ACREDITO QUE O GOVERNADOR DEIXE DE RECEBER SEU VASTO SALÁRIO E REGALIAS. MAS JÁ OS POLICIAIS E SEUS DEPENDENTES... QUANDO SERÁ QUE ENTRARÁ ALGUEM REALMENTE PREOCUPADO EM LIMPAR A HONRA DESSA SIGLA QUE DURANTE MUITOS E MUITOS ANOS FOI MOTIVO DE ORGULHO E RESPEITO: PMERJ?