quarta-feira, 4 de março de 2015

RIO EM GUERRA XX


 “O mundo está perigoso para se viver! Não por causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta de que não viram.” (Albert Einstein)



G1

03/03/2015 10h25 - Atualizado em 03/03/2015 14h05
PM faz operação na Favela de Acari, na Zona Norte do Rio

Às 14h ação seguia em andamento; não havia detidos.
Militares do Bope, Choque e BAC participam da operação.


PM faz operação para coibir o tráfico na Favela de Acari, na Zona Norte (Foto: Divulgação/ COE)

Agentes do Comando de Operações Especiais da PM (COE), entre eles o Batalhão de Operações Especiais (Bope), Batalhão de Choque e o Batalhão de Ações com Cães, realizam na manhã desta terça-feira (3) uma operação para coibir o tráfico de drogas na Favela de Acari, na Zona Norte do Rio.

De acordo com a corporação, até as 14h foram apreendidos um fuzil AK, um fuzil M16, um fuzil Parafal, uma submetralhadora, quatro coletes balísticos do Exército Brasileiro, oito boinas, quatro granadas, 17 carregadores, cinco rádios, quatro litros de cheirinho da loló,  grande quantidade de LSD, maconha, ecstasy e munições diversas. A ocorrência vai ser registrada na 39ªDP (Pavuna). Neste mesmo horário a ação seguia em andamento.

MINHA PERCEPÇÃO

O coronel PM e professor Jorge da Silva costuma dizer que na nossa profissão infelizmente enxugamos gelo ou engarrafamos fumaça.  Ele tem razão!...

Quando vejo a matéria do G1 anunciando uma bem-sucedida operação do BOPE, do BPCh e BAC na Favela de Acari, tristemente me reporto aos meus tempos de comandante do nono batalhão (abril de 1989 a abril de 1990) e à inédita apreensão de um fuzil AR-15, versão civil do M.16 fabricado pela COLT nos EUA para uso da tropa no Vietnã, uma fria em que os norte-americanos se enfiaram sem poder recuar decentemente.

Naquela época o uso corrente entre policiais e marginais se resumia a metralhadoras, escopetas, revólveres e pistolas. Diante do fuzil apreendido, declarei à grande mídia que o futuro da polícia no RJ seria nefasto caso não houvesse um sistema de controle para evitar a entrada dessas armas de guerra no território pátrio, o que incumbia ao Exército Brasileiro, além, claro à Polícia Federal. E reclamei que não era justo a polícia estadual levar tiros de fuzil como o apreendido, e se não houvesse ação mais efetiva da União, haveria no futuro a morte de muitos policiais, mormente de PMs. É o que hoje ocorre!

Vejo então, pela foto da atual ação da PMERJ, por meio de suas tropas especiais, que durante muitos anos anteriores e posteriores a 1989 a polícia só enxuga gelo ou engarrafa fumaça, enquanto os mortos e feridos alcançam números assustadores, exatamente como eu temia. Porque é certo que os fuzis apreendidos e expostos na foto, usados por atiradores de escol treinados principalmente no Exército Brasileiro, já devem ter produzindo muitas vítimas entre policiais alcançados por tiros que vão longe à busca de alvos vivos para torná-los mortos.

Enfim, o papel da PMERJ é o mesmo do meu tempo e do tempo de muitos colegas de farda, ou seja, o de enxugar gelo enquanto o tráfico avança a passos largos na formação de seus exércitos paramilitares. No fim de contas, mão de obra especializada não falta entre a população favelada que se prolifera neste país das roubalheiras astronômicas e da imobilidade social. E enquanto aumenta o número de traficantes fortemente armados e se amplia a sua audácia, os ladrões de casaca se ocultam na cortina de fumaça que a PMERJ não consegue nem ver, quanto mais engarrafar. Daí é que voam livres essas gentes finas que garantem o bilionário tráfico de drogas e armas no atacado. Ficam as favelas com os milhões do varejo, e para os PMs sobram os sofisticados e letais projéteis que lhes caçam diariamente neste ambiente social caótico em matéria de criminalidade.

Parabéns aos companheiros da PMERJ pela exitosa ação na Favela de Acari, em especial porque não existe traficante sem drogas para vender e armas para usar! Apreendê-las, portanto, é mais importante que prender meia dúzia de gatos pingados. Melhor então ter como objetivo não o bandido, muitas vezes desconhecido, mas suas armas e drogas, que não mudam a aparência, serão sempre armas e drogas que podem ser encontradas do modo inteligente como aflora nesta operação da PMERJ.

Mas também lhes dou meus parabéns, tais como eu os recebia na minha época, para que realmente se configure a dura realidade de que, a par do êxito espetacularmente difundido, como também a mídia fazia pelos idos de 1989, continuamos a engarrafar fumaça e a enxugar gelo em círculo vicioso que já vence décadas. E pelo visto continuará assim, indefinidamente, com tendência a piorar a mais e mais, o que me permite acrescentar que tentamos também recolher as poluídas águas do Rio de Janeiro com esburacadas peneiras...

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