“O mundo está perigoso para se viver! Não por
causa daqueles que fazem o mal, mas por causa dos que o veem e fazem de conta
de que não viram.” (Albert Einstein)
Foto recebida de amigo, mostrando a viatura e um carro de PM incendiados em frente da sede do DPO no Centro de Paty do Alferes.
Na última semana deste mês de fevereiro houve uma
aparatosa blitz em Miguel Pereira, município contíguo a Paty do Alferes, ambos atendidos
por Destacamentos de Policiamento Ostensivo (DPOs) da PMERJ comandados por
graduados e situados a razoável distância da sede do 10º BPM (Barra do Piraí).
Os alvos principais da blitz, que contou com a participação da PCERJ e do
DETRAN, algo incomum, foram os motociclistas, já que a motocicleta é meio de
transporte preferencial de boa parcela da população desses dois municípios.
Mas o que correu na boca do povo foi que a blitz seria
vingança em virtude de dois inusitados episódios de queima de viaturas da PMERJ
em Paty do Alferes, sendo o primeiro caso muito grave, pois abrangeu a
destruição da sede do DPO de Arcozelo, distrito de Paty do Alferes, além da
queima de mais de uma viatura. E por pouco não se configurou em tragédia maior
com o linchamento de PMs porque eles se retiraram a tempo.
Este fato gravíssimo decorreu de blitz na qual morreu
uma jovem motociclista, que, assustada por estar sem a CNH em mãos, embora
fosse habilitada para a condução de veículos e motos, preferiu “furar” a blitz,
sendo perseguida por viatura policial. Mas o azar fez com que ela caísse da
moto e sofresse morte por trauma craniano, o que revoltou a população local,
logo se formando a turbamulta destruidora.
O episódio produziu forte e ainda incontornável
ruptura na relação povo-polícia, reagindo a PMERJ com mais truculência e
distanciamento da população, tendo na insistência das blitze a forma escolhida
de reação ao nefasto episódio. Sobre a segunda blitz e a produção de outro
resultado extremo (queima de viatura na porta do DPO do centro de Paty do
Alferes durante a madrugada), já comentei detalhadamente em outra postagem.
Enfim, e ao que parece, o comportamento escolhido pela
PMERJ e demais instituições solidárias é o da retaliação à população, claro que
sob o pretexto de que há motociclistas traficando drogas ou com documentação
irregular. Enfim, parte a PMERJ, agora engrossada pela PCERJ e pelo DETRAN,
para a ideia geral da suspeição, o que me faz lembrar Colquhoun, criador da
polícia na Inglaterra e citado por Michel Foucault em Vigiar e Punir: “Todas as
vezes que estiver reunida no mesmo lugar uma grande quantidade de
trabalhadores, haverá necessariamente muitos maus elementos.”
Ou seja, aposta a PMERJ sediada em Miguel Pereira e
Paty do Alferes no princípio da desconfiança generalizada, paradoxalmente num
momento em que sua cúpula defende com ardor a “polícia de proximidade”, refletindo
então uma brutal incongruência a caracterizar a figura de “dois pesos, duas
medidas”. De modo que não há como não associar o paradoxo ao pensamento do
supracitado filósofo, em especial ao gravado no Capítulo I da Segunda Parte da
obra em referência, cujo título é “A Punição Generalizada”. Resumem-se suas
observações ao aprimoramento das técnicas indiretas de vigiar a população
através da observação permanente do “comportamento cotidiano das pessoas, sua
identidade, atividade, gestos aparentemente sem importância”...
Não pretendo me aprofundar, o texto de Vigiar e Punir
já é domínio público, portanto acessível a quem por ele se interesse. Mas não
posso deixar de entender o atual comportamento operacional da PMERJ nesses
municípios como retrocesso, pois é certo que num lugar tão pequeno e isolado,
não me parece difícil à polícia em geral saber onde estão os traficantes e
demais meliantes para prendê-los em flagrante, em vez de tentar pescar algum
entre motoristas e motociclistas igualados pela desconfiança. Parece até
“pesque e pague”, atividade comum nesta região turística de montanhas,
cachoeiras e lagos, e muitos roçados produtivos graças ao empenho de grande
parcela da população hoje marcada pela repressão policial a gerar reações
violentas, e mais repressão policial em resposta, e mais reação violenta, não
se sabendo qual será o desfecho deste círculo vicioso que não sugere final
feliz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário