terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

RIO EM GUERRA V

O caótico banditismo reinante no RJ, não apenas na Capital, mas em toda a Região Metropolitana do Grande Rio e Regiões de Desenvolvimento do interior, deve ser posto como efeito de muitas causas acumuladas e de muitos efeitos que se tornaram causas em círculo vicioso.

Trata-se, sem dúvida, de processo histórico e não de fato isolado, como geralmente é noticiado à sociedade em imediatismo jornalístico e ideológico. E a sociedade, conformada de berço, – preferindo ser cliente do seu falido Estado, – torna-se eterna refém de si mesma, até que um de seus segmentos mais enfraquecidos, a família, é atingido por multivariadas tragédias que configuram um ambiente criminoso no ápice do desastre social.

Aí a família sofre duplamente: a dor da perda e o espanto de se ver isolada, sem receber qualquer solidariedade nem mesmo em retórica. Fica então a clamar por justiça e paz gravando em camisetas brancas o rosto do seu ente querido vitimado pela crônica violência, juntando-se em procissão a outros familiares igualados pela mesma dor, ou seja, caminhando do nada a coisa nenhuma.

E as vítimas se vão avolumando, e sendo esquecidas, eis que atropeladas por novos acontecimentos desastrosos a atingirem outras famílias, ressalvando-se o fato de que a permanência passiva dos membros da sociedade no mesmo ambiente social costuma gerar novas vítimas entre os já enlutados, em reincidência mais que provável. Na verdade, quase que certa...

Impressionante é que nada muda na sociedade. Ela permanece entregue ao proselitismo descarado de políticos ladrões, enquanto o tráfico de drogas e crimes conexos proliferam no mesmo submundo das roubalheiras astronômicas de dinheiro público. A quantidade é tanta que daria para aparelhar convenientemente o Estado, não apenas no campo restrito da segurança pública, mas também em outras variáveis fundamentais ao desenvolvimento da qualidade de vida dos cidadãos, como, por exemplo, – e para não ser longo, – a saúde e a educação.

Mas tudo que se pensa em termos de dinheiro público e do seu direcionamento aos serviços destinados à população passam antes pela corrupção. Isto na União, nos Estados-membros e nos Municípios, não se conhecendo exceções a não ser em virtude de maracutaias que ocorrem na escuridão da impunidade e não foram ainda alcançadas. E quiçá jamais serão desveladas.

A corrupção está tão desbragada que basta qualquer cidadão observar os sinais exteriores de riqueza de pessoas suas conhecidas, antes simples e até simplórias, e que hoje transitam em carrões, moram em mansões, e rodam o mundo em viagens turísticas, ostentando em despudor suas roubalheiras. E nada lhes acontece, e quando algum jornalista de tablóide parte em denúncias é alcançado por uma saraivada de balas e fim, o dinheiro roubado também resolve os incômodos que surgem de caminho...

Sei que pondo assim o assunto, ele se transforma em retórica sem qualquer efeito prático. Mas se estas reclamações forem comparadas às notícias diárias de mortes de civis e de policiais, com reprisadas investigações policiais, ministeriais e judiciais que não apuram nada, aí o cidadão pode concluir que está mesmo é ferrado, que não pode contar com o Estado que sustenta com seu resignado suor.

Trazendo o zum para o RJ, podemos afirmar sem erro que suas duas polícias (civil e militar) só cuidaram de “inimigos internos” e de “subversivos” antes da abertura política. Na realidade, pararam no tempo ou gastaram-no formulando dossiês contra tudo e todos, numa futricaria que destruiu muitas reputações. E, quando não futricavam, iam à clandestinidade matar gentes inocentes.

Enquanto isso, o banditismo do tráfico, principalmente, se foi proliferando e se instalando em metástase nas favelas, recrutando mão de obra num universo de imobilidade social abundante. E o resultado aí está: o caos de um banditismo urbano difícil de erradicar com os meios estatais disponíveis.

Situação calamitosa deste porte não se resolve com polícia, não se desconstrói com meia dúzia de bem-intencionadas UPPs em algumas favelas, nem se retrai com retórica jornalística a denunciar desvios de conduta de policiais para fingir “zelo social”. Aliás, a imprensa não pode resolver nada porque faz parte do problema, assim como o resto da sociedade que corrompe e quer punir o corrompido como se nada devesse à corrupção que patrocinou. Ora!...

É impressionante o cinismo de políticos e burocratas, todos subservientes à mídia mercenária, praga maior que põe o “ex-pobre” na condição de socialite, certo de que mentiu ao eleitor da primeira vez, prometendo mudar tudo, e retornou muitas vezes comprando o voto que conquistara na lábia. E depois disso nem mesmo retorna ao eleitor, mas recebe o voto agora comprado por seus prepostos, pois eles, antes pagador de sacrificados carnês, é agora milionário e não mais pode misturar-se aos pobres. Até mantém segurança para afastar os inoportunos.

Numa sociedade assim, extremamente corrupta, característica reinante no Brasil e no RJ, o poder dominante sugere em cinismo restaurar a paz no calamitoso ambiente social aumentando o número de policiais recrutados entre rotos e esfarrapados. Treinam-nos de qualquer maneira, enfiam-nos numa farda feia, dão-lhes um fuzil e os mandam à desigual “guerra contra o crime”. E os mortos de fome, muitos deles bem mais interessados no quinhão da corrupção, em vez de alcançá-lo morrem, e morrem, e morrem... De tiro!


Impossível! Isto só mudará se descer um meteoro e destruir todos os corpos e mentes sujos, o que é impossível porque antes morrerão os corpos e mentes limpos, que não serão avisados e não estarão abrigados do perigo. É assim que se vê quando desliza um barranco e a lama soterra barracos e destrói vidas humanas de mente limpa, talvez até alcançando algumas mentes sujas, mas serão sempre poucas em relação à maioria dos inocentes. E o desastre vai em frente tal como onda do mar que cresce, e ultrapassa a arrebentação, e se torna um tsunâmi.

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