segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

RIO EM GUERRA III




"Um tiro de fuzil acerta o que o atirador não vê.” (coronel PM Ubiratan Ângelo, ex-comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro – Entrevista à Revista ÉPOCA – Hudson Corrêa – 30/01/2015)

Ainda hoje, ressalvados pequenos reparos às afirmações que faço, eis que não pretendo aprofundar o estudo das leis referentes, o controle das armas de uso restrito é feito pelo Exército Brasileiro. Bem, o rigor deve ser necessário, não discuto isto, mas o sistema de segurança pública estadual carece de maior flexibilidade na escolha de seus aprestos para enfrentar traficantes homiziados em favelas dos grandes centros urbanos, de onde, aliás, nem precisam sair para comercializar a droga no varejo e adquirir armas de guerra.

Ora, se é evidente a vantagem dos bandidos, deveria haver como contrapartida uma clara superioridade policial para contê-los em sua desenfreada escalada criminosa, que tem na cocaína, no crack e na maconha seus carros-chefes. Ademais, são infindáveis as artimanhas de traficantes de drogas e contrabandistas de armas para fazer chegar da origem (países fronteiriços) ao destino (favelas dos grandes centros urbanos) esse material fundamental à sua (deles) existência criminosa. Pois não há como supor um sistema de tráfico drogas sem a proteção das armas, e hoje elas são de guerra, e são o que há de melhor em derredor do mundo. E entram em maioria, mesmo, por terra e pelas extensas e desguarnecidas fronteiras de países vizinhos do Brasil!

Entendo como graves as limitações impostas às polícias estaduais, em particular à PMERJ, diante de traficantes em real superioridade de força, os assassinatos quase que diários de PMs me dão razão. Reforçar o sistema policial estadual, portanto, é o único modo de travar o espantoso derramamento de sangue que hoje ocorre. Mas enquanto se aprofunda esta específica ineficiência estatal, a atenção da sociedade brasileira é desviada para as roubalheiras astronômicas promovidas por empresários e políticos, amargando os cidadãos um longo e penoso tempo de espera para ver sua solução definitiva, se é que haverá alguma.

Sim, se não bastasse o drama da vitória do crime na tessitura social do RJ, assiste-se nacionalmente a tragédia de poderosas empresas a afundarem em lama fétida, com o governo corrupto repassando a responsabilidade de seus roubos para as exauridas algibeiras do cidadão contribuinte. E tome alta de impostos, de preços e de juros a infernizar a dura vida das pessoas que nada roubaram de ninguém, e que enfrentam as mesmas filas dos ônibus caros e dos hospitais falidos, além de amargarem a falência dos demais subsistemas públicos que lhes deveriam proporcionar contrapartidas de serviços qualificados, mas não o fazem; e ainda morrem atingidas por balas perdidas, o que põe uma aflição ao lado da outra...

Com efeito, a tragédia particular da roubalheira de dinheiro público, tal como a outra da criminalidade crescente e sanguinolenta, parece não ter fim. Sugere, sim, que todos os ladrões, de casacas ou de chinelos, são irmãos siameses... E a sociedade, por sua vez, não reage, apenas esperneia nas ruas em manifestações ridículas, consequência dum excessivo conformismo social que a torna inerte ante os desmandos estatais e a espantosa escalada do crime: uma autêntica calamidade social.

Diante desta realidade, não seria hora de o Exército não mais conjeturar que as polícias pátrias se possam sublevar contra a “lei e a ordem” inscritas no Art. 142 da CRFB como missão das Forças Armadas? Afinal, por que as polícias estaduais e as guardas municipais ainda permanecem como precípua preocupação do Exército?... Isto é fato; porém devo sublinhar a acomodação das instituições policiais estaduais, que não buscam armas mais apropriadas ao uso em zona urbana, mormente em favelas. Em contrário, postam-se frente aos azares tal como apontou o Cel PM Ubiratan Ângelo no frontispício: "Um tiro de fuzil acerta o que o atirador não vê.”

Este é o problema, em parte da alçada do Exército, embora decorra também da falta de outras iniciativas simples, como, por exemplo, o treinamento intensivo do policial com armas curtas e com outras capazes de substituir vantajosamente o fuzil que “acerta o que o atirador não vê”; e muitas vezes quem morre é o atirador, devido à falta de espaço para manuseio rápido e preciso de sua arma de guerra dentro e fora da viatura. No caso do PM, o fuzil mais parece enfeite de fotos que proliferam nas redes sociais insinuando ser ele um “guerreiro” (vocábulo ao gosto atual do PM). E todo dia morre mais um pelas mãos dos “gansos” (vocábulo em moda entre PMs para designar supostos criminosos), com predominância de PMs lotados em UPPs. Cá entre nós, é preocupante esta ausência de cultura profissional do PM no trato com o crime e os criminosos e mais ainda preocupa seu desapego à vida...

Honestamente, não vejo uma só razão a justificar o excesso de zelo do Exército com as polícias estaduais e as guardas municipais, como se depreende do Estatuto do Desarmamento. Creio, na verdade, ser mais importante ao Exército se preocupar com o crescimento da criminalidade armada nos moldes de grupos paramilitares na ponta da linha do tráfico. Por outro lado, há ainda um nítido interesse do sistema situacional político em manter ineficientes os aprestos policiais estaduais. Com isto, sim, o Exército deve se alarmar, pois ao se enfraquecerem os sistemas de segurança pública torna-se mais fácil concretizar as teses socialistas já em acelerado curso no país. Porque os “vermelhos” roubam dinheiro público decerto para sustentar o momento final da mudança do regime. E a dinheirama surrupiada, que jamais será totalmente resgatada, já é suficiente para formar um exército maior que as Forças Armadas e as polícias somadas, eis que essas instituições seguem depauperadas e autistas ante o aberrante avanço dos assumidos socialistas, que bem sabem aonde pretendem chegar, e não apenas pelo voto, mas também pelas armas de guerra que abundam no submundo da criminalidade em geral.

Ora bem, muitos dirão que estou amalucado, que embolo assuntos desafinados entre si, que já alcancei o fim do meu tempo terreno e não percebo. Outros mais amenos se perguntarão por que não estou a criar galinhas poedeiras... Mas sou insistente e vejo tudo como subsistemas de um só sistema situacional perigosíssimo ao Estado Democrático de Direito. E como sugeriu Erico Veríssimo em seu Solo de Clarineta, acendo aqui o meu toco de vela para jorrar luz sobre um problema que registro para despertar alguns sonolentos brasileiros, em especial os que vestem fardas ou atuam como policiais e guardas civis nesta desproporcional luta contra o crime. Mas todos dependem antes de proteger suas vidas para depois partirem à intimidação concreta do audacioso banditismo urbano e rural, este, que poderá se tornar uma espécie de “Exército de Libertação Nacional”, sonho antigo sonhado no Presídio da Ilha Grande – o nascedouro do Comando Vermelho...

Sobre o banditismo rural, nem sei ao certo qual seria seu poderio; mas ele existe, sim, pois as drogas e os fuzis em muito dependem dele nos roçados para chegar às cidades. E se não houver controle efetivo do banditismo urbano e rural como um sistema globalístico capaz de se tornar sem esforço um exército revolucionário socialista, a desgraça um dia ocorrerá. Não?... Muito bem, para vislumbrar esta certeza basta aprofundar a reflexão em torno do inusitado fato de a presidente da República descortinar para o mundo sua preocupação com a execução de um traficante brasileiro assumidamente contumaz, a ponto de quase romper relações diplomáticas com um país cujas leis são severas contra o tráfico. Alguém por acaso tem dúvida de que todos os produtores e atravessadores de drogas, e contrabandistas de armas, e traficantes internacionais e locais, todos, sem exceção, aplaudiram o finório gesto da mandatária máxima tupiniquim? Ora, nada acontece no mundo por acaso!...

Nenhum comentário: